terça-feira, 29 de março de 2011

Exército força recuo dos rebeldes; Gaddafi pede fim de ataques

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS


As forças leais ao ditador líbio, Muammar Gaddafi, atacaram os combatentes rebeldes com metralhadoras e foguetes nesta terça-feira, provocando um recuo caótico e em pânico para a cidade de Bin Jawad, disseram testemunhas.

Em Trípoli, Gaddafi pediu nesta terça-feira à coalizão internacional o fim dos ataques contra suas forças. A operação Aurora da Odisseia, iniciada no último dia 19, ampliou nos últimos dias os ataques contra as forças de Gaddafi e bombardearam nesta segunda-feira Sirte --mais recente núcleo da batalha.

Em meio ao ataque, rebeldes pulavam para se abrigar atrás de sacos de areia e tentar devolver os disparos. Após alguns minutos, contudo, eles desistiram, entraram em suas picapes e tomaram a estrada em direção a Bin Jawad, a cerca de 150 quilômetros a leste da cidade natal de Gaddafi, Sirte.

Anja Niedringhaus/AP
Rebeldes líbios fogem de disparos das fotrças de Gaddafi nos arredores de Bin Jaw

Disparos de artilharia caiam na estrada enquanto os rebeldes recuavam, segundo testemunhas consultadas pela agência de notícias Reuters.

"As tropas de Gaddafi estão no Vale Vermelho e, dali, estão bombardeando os rebeldes, que retrocederam à área de Bin Jawad", disse o porta-voz dos rebeldes Ahmad Khalifa, em entrevista coletiva em Benghazi.

Segundo Khalifa, as forças do ditador usaram foguetes Katyusha para impedir o avanço dos rebeldes, que estavam apenas 30 quilômetros a leste de Sirte, na localidade de Sittar. "O bombardeio obrigou os rebeldes a voltar a Bin Jawad".

"Não significa que agora os revolucionários avancem mais lentamente. Na verdade eles vão bastante rápido, mas agora estão revisando suas táticas e defesas (em Bin Jawad) para poder se movimentar mais tarde", indicou o representante dos rebeldes.

Khalifa afirmou que agora é perigoso se aproximar de Sirte, porque as forças pró-Gaddafi disseminaram minas nos arredores.

Os rebeldes continuam, contudo, enfrentando as forças do ditador em Nafauliya, cerca de 15 quilômetros a oeste de Bin Jawad. A cidade, segundo Khalifa, permanece sob controle rebelde.

DISCURSO

Em uma mensagem divulgada pela agência de notícias Jana, Gaddafi pediu aos países da coalizão que "parem sua ofensiva bárbara e injusta contra a Líbia".

"Deixem a Líbia para os líbios, vocês estão executando uma operação de extermínio contra um povo seguro e destruindo um país em desenvolvimento", afirmou o coronel, que não recuou mesmo com os bombardeios ocidentais.

Anja Niedringhaus/AP
Rebelde líbio pede que colegas fujam de disparos das forças de Gaddafi nos arredores de Bin Jawaad

"Vocês não percebem, na Europa e Estados Unidos, que esta operação militar bárbara e maléfica se parece com as campanhas de [Adolf] Hitler quando invadia a Europa e bombardeava o Reino Unido", disse Gaddafi, repetindo sua comparação entre as forças ocidentais e o líder nazista.

"Por quê atacam alguém que combate a Al Qaeda?", questionou Gaddafi, que está no poder há 42 anos e acusa os rebeldes de ligação com a rede terrorista de Osama Bin Laden.

"Deixem a União Africana administrar a crise. A Líbia aceitará tudo o que a União decidir", destacou o ditador.

REUNIÃO

Em meio aos confrontos, quase 40 países e organismos regionais se reunirão nesta terça-feira na capital britânica para o primeiro encontro do grupo de contato sobre a Líbia, responsável pela administração política da operação internacional, cujo comando militar passou à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e que pretende preparar a era "pós-Gaddafi".

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, se reunirá também nesta terça-feira com um dos líderes da oposição líbia, Mahmud Jibril, à margem da conferência.

Hillary e Jibril, responsável pelas relações internacionais no Conselho Nacional de Transição (CNT) líbio, já se encontraram em Paris no dia 15 de março, à margem de uma reunião informal do G8.

Na ocasião, conversaram sobre uma possível ajuda econômica e política à oposição líbia.

Jibril se reuniu mais cedo com o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, que convidou a autoridade provisória da oposição líbia à capital britânica, mas não à conferência.

"O CNT é um interlocutor político importante e legítimo. O Reino Unido está comprometido a fortalecer os contatos com um amplo leque de membros da oposição que estão trabalhando para criar uma Líbia na qual seja possível cumprir as aspirações legítimas de seu povo", disse Hague.

O ministro britânico informou em um comunicado que examinou com Jibril a "situação política e humanitária no país", após dez dias de operações militares da coalizão internacional amparada pela resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU.

"Concordamos na importância absoluta de proteger e salvaguardar os civis na Líbia", destacou.

VALORES

Na noite de segunda-feira, o presidente americano, Barack Obama, afirmou em um discurso que os Estados Unidos não podem repetir os mesmos erros da guerra do Iraque, tentando derrubar Gaddafi, mas precisam agir quando seus "valores são ameaçados".

"Se tentarmos derrubar Gaddafi pela força, nossa coalizão vai se estilhaçar. Nós teríamos de mobilizar tropas terrestres americanas, ou arriscar matar muitos civis pelo ar", disse o presidente em discurso à nação.

"Os perigos que nossos homens e mulheres fardados teriam de enfrentar seriam muito maiores. Assim como os custos, e nossa fatia de responsabilidade sobre o que viria depois."

Fonte: Folha.com/Mundo

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