sábado, 17 de setembro de 2011

Novo IPI equivale a imposto de importação de 85%, diz Abeiva

Associação de importadores afirma que medida deverá afastar novas montadoras do país

Ana Clara Costa
Medidas só foram discutidas com as montadoras nacionais (Beawiharta/Reuters )

A elevação em 30 pontos porcentuais do Imposto para Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos de montadoras que possuem elevado índice de importados em seu processo produtivo representa um duro golpe sobre o setor. A medida equivale o mesmo que aumentar de 35% para 85% a alíquota do imposto de importação, segundo cálculos da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), divulgados em coletiva de imprensa nesta sexta-feira.

“Não dá para afirmar que isso não vai ser repassado ao consumidor. Por mais que haja redução de margem de lucro e corte de qualquer tipo de investimento, é impossível absorver um aumento como esse”, afirmou o presidente da Abeiva, José Luiz Gandini, que também preside a coreana Kia Motors.

O aumento de 230% no IPI foi anunciado pelo governo na última quinta-feira com o argumento de que seria uma forma de obrigar as montadoras de veículos a investir no Brasil, além de garantir o emprego dos que trabalham no setor automotivo nacional. Segundo afirmou o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, as importações estavam gerando emprego em outros países, e não para o Brasil.

JAC revê seus planos – Mercadante, no entanto, esqueceu de combinar o aumento da tributação com as montadoras estrangeiras que estão prestes a instalar fábricas no país. A chinesa Jac Motors, que anunciou sua unidade brasileira em agosto, com o potencial de empregar 3.500 funcionários, está revendo seus planos depois da medida anunciada. “Da forma como está esse decreto hoje, é impossível qualquer nova marca de veículos instalar uma fábrica no país”, afirma o executivo Sergio Habib, presidente da empresa no Brasil.

O principal argumento das empresas que importam veículos é que será impossível enquadrar-se do dia para a noite nas regras estabelecidas pela medida provisória do novo regime automotivo. Segundo Habib, seriam necessários, no mínimo, três anos para que uma fábrica conseguisse integração suficiente com a indústria nacional. Nesse período, teoricamente, o decreto já não estaria nem mesmo válido.

Discriminação – “Um fornecedor leva, pelo menos, um ano e meio para fabricar um molde para a produção de um veículo. Esse medida do governo, que é impossível de ser seguida no curto prazo, mostra que é preciso pertencer ao “clube do bolinha” na indústria automotiva nacional”, afirma o executivo. “Isso, além de tudo, coloca em xeque a própria segurança jurídica do Brasil”, diz o executivo.

A geração de emprego, de acordo com os dirigentes da Abeiva, provém mais do setor de serviços (leia-se rede de concessionárias) do que das próprias fábricas. No caso da Kia, são 160 lojas empregando 50 pessoas cada, enquanto a montadora conta com apenas 200 funcionários. No caso da JAC, são 10 mil funcionários empregados pela rede de lojas. “O que gera emprego é o setor de serviços”, diz Habib.

O aumento do IPI, segundo fontes ouvidas pela Abeiva, estaria sendo articulado junto às montadoras nacionais há cerca de quatro meses. “Cheguei a falar com o (Fernando) Pimentel há pouco tempo e ele havia me dito que não seria uma alta tão expressiva. Ontem, durante o anúncio, ele estava pálido. Parece até que foi uma ordem que veio ‘lá de cima’”, afirma Gandini, presidente da associação.

Os executivos da Abeiva não foram chamados pelo governo para discutir o aumento do IPI. Segundo eles, apenas os empresários de montadoras nacionais participaram da discussão. Para o consumidor final, o aumento poderá chegar a 28% do preço do veículo.

Importadoras dizem que não há
tempo suficiente para se enquadrar
às novas regras.

Abeiva diz que o argumento da
preservação do emprego é
falacioso, pois a maioria das vagas é
criada no setor de serviço, e não na
indústria.


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