segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O abismo entre quantidade e qualidade

O Rio Grande do Norte é o líder nordestino em número de celulares. De acordo com o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado possui 588.078 aparelhos em funcionamento, atingindo 65,38% da população economicamente ativa. Esse índice é superior ao nacional, que é de 47,13%.

No entanto, existe um abismo entre quantidade e qualidade. Embora existam 799 estações, alcançando todos os 167 municípios do RN, acessá-lo é sempre um dilema. As reclamações chegam de todas as partes, até mesmo das cidades maiores, onde a cobertura deveria ser melhor.

A cobertura total do RN se concretizou a partir de 2008, mas a falta de uma base técnica que sustente o serviço tem dado muita dor de cabeça. Além disso, as regiões foram divididas entre as operadoras e, por isso, os clientes ficam reféns de uma única empresa.

Em Luís Gomes, na região serrana do Estado, no extremo Alto Oeste, entre os Estados do Ceará e Paraíba, o empresário Francisco Morais explica que as restrições dificultam a vida dos moradores. "Aqui ninguém tem escolha. Todo mundo é obrigado a usar a operadora TIM. Isso é ruim porque quando o sistema cai, como é frequente, não podemos usar outra operadora", reclamou.

Outro fator negativo, segundo Francisco, é que, por conta da restrição, os moradores se limitam a uma lista de contatos da operadora por causa das vantagens e do custo alto das ligações para outras empresas. "Interessante é que a empresa OI oferece telefonia fixa e de internet aqui, mas não de telefonia móvel", reclamou.

No município de Água Nova, a situação é idêntica. Embora o município esteja bem próximo de Rafael Fernandes (10km), que tem torre da TIM, e Pau dos Ferros (20km), principal cidade do Alto Oeste, que possui os serviços de todas as operadoras disponíveis no Estado, eles só podem contar com serviço da Vivo.

De acordo com o vereador Ronaldo Souza, quando o sistema está sem conexão, é preciso sair da cidade para ter acesso a outros sinais. "Conseguimos pegar o sinal da TIM na saída da cidade. Já bem próximo de Rafael Fernandes, num lugar mais alto da estrada, é que acessamos o serviço da Claro, pela torre de Pau dos Ferros", disse.


Para quem precisa pegar a estrada, o sofrimento é maior ainda. Maria José, servidora da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN), conta que tem telefone dentro dos municípios se a pessoa tiver chips de todas as operadoras, mas na estrada os sinais somem. Umarizal, Portalegre, Itaú e Rodolfo Fernandes são, para ela, os lugares com maior dificuldade de conexão.

O jornalista Raildon Lucena, assessor de imprensa de Janduís, também é uma vítima da falta de linha. Como mora em Caicó, precisa se deslocar toda semana, ficando horas sem comunicação. "A TIM pega, mas com conexão ruim. Até Caicó, só pega quando atravessa outros municípios", relata.

De acordo com ele, se em Janduís o serviço é ruim, no Seridó a TIM é pior ainda. "Em Janduís eu ainda consigo utilizar o moldem da internet", conta. Lucena diz ainda que em Caicó, o serviço da Claro pegava bem na zona rural, mas já não pega porque a torre teria sido direcionada para a cidade.

ZONA RURAL
Se o serviço é ruim na área urbana, imagine na zona rural. No assentamento Milagres, em Apodi, o serviço móvel da Claro pegava até um dia desses, mas agora a conexão só pelo velho orelhão da OI, que funciona precariamente. Móvel é modo de dizer, porque para funcionar fora nas áreas rurais, o aparelho celular precisa estar conectado a uma antena caseira.

*Jornal de Fato

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