Registros podem ser considerados apenas subnotificação, tendo em vista a dificuldade de se denunciar
Dificilmente uma criança ou adolescente rompe o silêncio quando é vítima de violência, principalmente quando se tratar de exploração e abuso sexual. Por esta razão, é fundamental que pais, familiares, professores e vizinhos estarem atentos para os primeiros sinais e denunciar.
Um dos instrumentos mais importantes no enfrentamento dessas violações foi a implantação do Disque 100. No ano passado, o Ceará registrou 17 ocorrências por dia, totalizando 6.109 denúncias só em relação à criança e adolescente. Em 2012, foram 6.907, o que dá uma média de 19 por dia. Especialistas recomendam que as pessoas não ignorem esses casos e denunciem.
Rosendo Amorim, sociólogo e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) comenta que há uma subnotificação do número de casos. "As pessoas que denunciam são aquelas que possuem um nível de consciência maior". Para o especialista, o maior desafio é identificar as vítimas e fazer com que elas denunciem, já que o abusador pode estar dentro da própria família.
"É um problema muito difícil de se enfrentar, pois envolve sentimentos, afetos, desejos e até irracionalidade de quem pratica esse tipo de crime. Quem é abusador, na grande parte dos casos, já foi abusado quando jovem. Isso acaba gerando um ciclo vicioso", esclarece Amorim.
O sociólogo explica também que o abuso sexual e a exploração infanto-juvenil estão entrelaçados a questões como a prostituição de jovens, o turismo sexual, o alcoolismo e as drogas.
Para chamar a atenção da sociedade para a problemática, o dia 18 de maio foi instituído como o Dia Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. "Essa data vem manter viva a memória nacional, reafirmando a responsabilidade da sociedade em garantir os direitos de todas as crianças e adolescentes", destaca a titular da Delegacia Combate à Exploração da Criança e Adolescente (Dceca), Ivana Timbó.
As denúncias do Disque 100 são analisadas e encaminhadas aos órgãos de proteção, defesa e responsabilização, conforme a competência e atribuições específicas, priorizando o Conselho Tutelar como porta de entrada, no prazo de 24 horas, mantendo em sigilo a identidade da pessoa denunciante. A Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci), por meio da Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos, realiza vários programas para atender as vítimas de violência infanto-juvenil. São eles: Ponte de Encontro, Rede Aquarela, Famílias Defensoras, Adolescente Cidadão, Acolhimento Institucional e Cidadania em Rede.
O Programa Aquarela é um trabalho permanente, responsável por coordenar e executar ações sobre a política pública de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes. A Equipe de Atendimento Psicossocial da Rede Aquarela atendeu, somente no ano passado, 255 casos de violência infantil, sendo 244 vítimas de abuso sexual e 11 jovens que tinham sofrido exploração sexual.
Mais informações:
Denuncie casos de violação contra crianças e adolescentes pelo Disque 100, 0800.285.1407 (estadual) e 0800.285.0880 (municipal)
Ato pede fim da exploração sexual
Em Fortaleza, dezenas de pessoas realizaram, ontem, caminhada pelo Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, partindo do Aterro da Praia de Iracema até o Náutico Atlético Cearense. Vestidos de verde e amarelo, os manifestantes estampavam em suas camisas o que defendiam: "Exploração sexual infantil: jogue contra".
Empunhavam ainda cartazes e faixas de protesto durante todo o trajeto, com dizeres em português e inglês. "A finalidade é alcançar os turistas", ressalta Eliane Lopes, coordenadora da unidade territorial de Fortaleza da Diaconia. Hotéis estão se juntando à causa e, segundo Eliane, pedindo material de divulgação da campanha para divulgá-la e sensibilizar seus hospedes.
Atividades
Durante a ação, foram realizadas peças teatrais, apresentações de dança e uma vacinação simbólica. Com uma gotinha de mel e um cartão de vacinação, os manifestantes abordavam as pessoas que caminhavam no calçadão da Avenida Beira-Mar para que firmassem o compromisso de enfrentamento da violência sexual de crianças e adolescentes. O intuito era acabar o estoque de mel levado - em torno de duas mil unidades. Eliane comenta que os altos índices de exploração sexual no Estado são um retrato fiel da situação de Fortaleza, do Ceará e do Brasil.
"Esse é um fenômeno muito difícil de detectar", completa. Além do medo, a coordenadora observa que há uma certa descrença em registrar o boletim de ocorrência por temer que nenhuma medida seja tomada posteriormente. Por ter muitas variáveis envolvidas, Eliane explica que é complicado acompanhar e diagnosticar se houve aumento ou redução do número de casos nos últimos anos. No entanto, apesar dessa dificuldade, ressalta que isso não deve ser uma barreira para inibir a denúncia. Para denunciar bastar ligar para o Disque 100 ou procurar o Conselho Tutelar mais próximo.
Diário do Nordeste
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