sexta-feira, 28 de maio de 2010

Lula defende solução negociada para crise iraniana no Fórum das Civilizações



Lula ressaltou que é preciso que o mundo pratique a tolerância cultural e religiosa

Do UOL Notícias*
Em São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta sexta-feira (28) a busca de uma solução negociada para a crise nuclear iraniana no discurso de abertura do 3º Fórum das Civilizações, no Museu de Arte Moderna da cidade do Rio de Janeiro.

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O presidente brasileiro voltou a insistir no tema nuclear iraniano e enfatizou que o Brasil foi "ao Irã buscar uma solução negociada para a crise", um dia depois que a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, indicar que existem "sérios desacordos" entre Washington e Brasília sobre este tema.

Além disso, Lula considerou "obsoletos e de um tempo já superado" os arsenais nucleares, e recordouque o Brasil "é um dos poucos países que consagram o desarmamento em sua Constituição".

“O Brasil aposta no entendimento que faz calar as armas. Investe na esperança, que supera o medo. Posições inflexíveis só ajudam a confrontação e afastam a possibilidade de soluções de paz”, disse Lula.

Lula ressaltou que é preciso que o mundo pratique a tolerância cultural e religiosa. Ele rejeitou a tese de um choque de civilizações. “Precisamos renovar mentalidades. Para isso, é preciso oferecer oportunidades de crescimento econômico com justiça social. São absurdas as teses sobre uma suposta fratura de civilizações no mundo que conduziria inexoravelmente a conflitos. Essas teorias são criminosas, quando usadas como pretexto para ações bélicas ditas preventivas.”

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O presidente também aproveitou seu discurso para defender o desarmamento nuclear de todos os países e o direito ao uso pacífico da energia nuclear. “Defendemos um planeta livre de armas nucleares. E o pleno cumprimento, por todos os países, das determinações do Tratado de Não Proliferação. Acreditamos que a energia nuclear deve ser um instrumento para a promoção do desenvolvimento, não uma ameaça.”

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, discursou logo depois de Lula. Ele disse que os Estados Unidos e outras potências atômicas deveriam eliminar suas próprias armas nucleares para serem convincentes em suas argumentações

"Ouvimos pessoas falando sobre impedir que o Irã consiga armas nucleares, mas quem fala contra essas armas têm armas nucleares", criticou Erdogan em meio aos aplausos do público que ouviu seu discurso com tradução simultânea. "Quem fala disso deveria eliminar as armas nucleares de seus próprios países. (...) É a única forma de serem convincentes", acrescentou. "Não conseguiremos ter paz mundial com proliferação de armas nucleares", concluiu.

Brasil e Turquia negociaram um acordo tripartite de enriquecimento de urânio com o Irã, que foi recebido com receio por parte das grandes potências ocidentais, já que os iranianos indicaram que continuarão enriquecendo urânio em seu território.

Ontem, Lula pediu à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) "sensibilidade para entender o momento político" ao analisar o acordo assinado por Brasil, Turquia e Irã sobre o enriquecimento de urânio. O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, por sua vez, chamou os críticos do acordo nuclear com o Irã de “invejosos”.

“Os dois países [Brasil e Turquia] são membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU, aqueles que criticam esse processo são invejosos, fizemos o que é certo. Nós trabalhamos com aquilo que foi anteriormente exigido”, disse Recep Tayyip Erdogan em entrevista coletiva concedida no Palácio do Itamaraty, em Brasília.

Já os Estados Unidos dizem divergir do Brasil. Nesta quinta-feira, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou que os Estados Unidos e o Brasil têm "sérias divergências" em relação ao programa nuclear iraniano, apesar de suas relações bilaterais serem boas em outras áreas.

"Acreditamos que dar tempo ao Irã, permitindo ao Irã que evite a unidade internacional com respeito a seu programa nuclear, deixa o mundo mais perigoso e não menos", afirmou Hillary.

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