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Em São Paulo
Em foto de 1986, o então delegado Romeu Tuma fala sobre um de seus principais trabalhos policiais: a descoberta da ossada de um dos mais procurados criminosos de guerra da Alemanha nazista, o médico Joseph Mengele
O senador Romeu Tuma (PTB) morreu às 13h desta terça (26) no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por falência múltipla dos órgãos. O corpo dele vai ser levado para a Assembleia Legislativa de São Paulo por volta de 18h, onde será velado.
Paulista de ascendência síria, Tuma tinha 79 anos e estava internado na UTI do hospital desde o começo de setembro, para tratar de um quadro de insuficiência renal e respiratória. Ele, que sofria de diabetes e problemas cardíacos, permanecia ligado a aparelhos de diálise e de respiração artificial. No último dia 2, ele havia sido submetido a uma cirurgia cardíaca, para colocação de um dispositivo de assistência ventricular que auxilia o coração, chamado Berlin Heart. Desde então, seguia internado.
Nas últimas eleições, ele concorreu pela terceira vez ao Senado pelo PTB, mas desde o início da campanha a vitória era tida como improvável por conta da fragilidade de sua saúde. Ficaram com as vagas Aloysio Nunes (PSDB) e Marta Suplicy (PT). Tuma ficou em quinto lugar e obteve 3,9 milhões de votos (10,79%).
Antes de chegar ao PTB, militou pelo Democratas. Quando a legenda se chamava PFL, foi relator do processo de expulsão do então deputado federal Hildebrando Pascoal, acusado de serrar opositores. Também com parecer de Tuma, o partido expulsou o deputado estadual capixaba Carlos Gratz, por envolvimento com o crime organizado.
Tuma na política
A vida de Tuma na política foi consequência de sua carreira como policial. Formado em Direito pela PUC-SP, foi investigador, delegado e diretor de polícia especializada na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Em 1983, assumiu a Superintendência da Polícia Federal paulista e em seguida se tornou diretor-geral da PF, onde ficou até 1992.
Ainda nesse posto, acumulou os cargos de Secretário da Polícia Federal e Secretário da Receita Federal, quando instituiu a recepção de declarações do Imposto de Renda por meio digital. Também foi assessor especial no governo de São Paulo, na gestão de Luiz Antônio Fleury Filho.
Em 1995, assumiu mandato de senador pela primeira vez, eleito junto do hoje presidenciável José Serra (PSDB). Reelegeu-se em 2002 para atuar até 2011. No Congresso Nacional, foi eleito corregedor do Senado, cargo criado em 2006 e ocupado apenas por ele até hoje.
Entre seus principais trabalhos policiais, que o levariam a cargos políticos, estão a descoberta de ossadas de um dos mais procurados criminosos de guerra da Alemanha nazista, o médico Joseph Mengele, e a captura do mafioso italiano Thomazzo Buscheta, cujas confissões abalaram o crime nos EUA e na Itália.
Tuma também ficou conhecido por ter sido um dos policiais mais atuantes durante os anos do regime militar (1964-85), o que lhe rendeu o apelido de "xerife" e suspeitas de ligações com a ditadura.
Entre 1977 e 1983, foi diretor-geral do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), órgão que ficou marcado por controlar e reprimir com rigor movimentos políticos e sociais contrários ao regime. Por conta disso, foi alvo de um ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal de São Paulo contra civis que tiveram participação em fatos da repressão na ditadura militar. Ele foi acusado de participar do funcionamento da estrutura que ocultou cadáveres de opositores do regime nos cemitérios de Perus e da Vila Formosa, em São Paulo, na década de 70.
Em maio deste ano, juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal de São Paulo, entendeu que Tuma sabia da ocultação do corpo de Flávio Carvalho Molina, militante de esquerda preso pelo DOI-Codi, órgão repressor da ditadura militar. A decisão do juiz contraria parecer do MPF que recomendou o arquivamento da ação.
Casado com a professora Zilda Dirane Tuma, teve quatro filhos e nove netos. Dos filhos, Robson teve quatro mandatos de deputado federal, Romeu Tuma Júnior foi secretário nacional de Justiça, mas acabou exonerado em meio a um escândalo, Rogério é médico neurologista e oncologista e cuidou do pai durante a internação no Sírio-Libanês, e Ronaldo é cirurgião dentista com especialização em identificação criminal.
* Com informações da Agência Senado.
VEJA A REPERCUSSÃO DA MORTE DE TUMA NO SENADO
"Perco um grande amigo", diz presidente do Senado sobre Tuma; veja repercussão
A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), que responde atualmente pela presidência do Senado, lamentou a morte do colega, o senador Romeu Tuma (PTB-SP), na tarde desta terça-feira (26). "Era um amigo por quem eu tinha grande admiração e respeito", disse.
Tuma morreu às 13h no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, decorrente de uma hemorragia. Ele tinha 79 anos e estava internado na UTI desde o começo de setembro, para tratar de um quadro de insuficiência renal e respiratória. Como sofria de diabetes e problemas cardíacos, permanecia ligado a aparelhos de diálise e de respiração artificial. No último dia 2, foi submetido a uma cirurgia cardíaca, para colocação de um dispositivo de assistência ventricular que auxilia o coração, chamado Berlin Heart. Desde então, seguia internado. O corpo de Tuma será velado na Assembleia Legislativa de São Paulo.
"Na condição de amigo e parlamentar, ele significou muito. Só tenho a lamentar esta grande perda. Foi uma perda para o Brasil, uma perda para São Paulo, uma perda para todos nós. Ele deu grandes contribuições ao Parlamento, como um grande senador, de personalidade forte e determinada", afirmou Slhessarenko.
Veja a repercussão no Senado:
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) afirmou no microblog Twitter que durante os oito anos que esteve no Senado teve uma relação "de muita proximidade e respeito" com o senador do PTB. "O Brasil perdeu um de seus maiores líderes", disse. "Tuma era um exemplo de honradez e dignidade na política. Como corregedor do Senado manteve postura firme no cumprimento da lei".
Torres também ressaltou que Tuma era um dos maiores especialistas em direito penal do Brasil e um grande conhecedor da segurança pública. "O senador Tuma vai fazer falta ao cenário político brasileiro, mas com certeza tem o seu nome inscrito nas posições mais altas da República", disse.
O colega petista Delcídio do Amaral (MT) também demonstrou solidariedade. "Triste com a perda do amigo, companheiro e conciliador, o senador Romeu Tuma. O Senado e o Brasil perdem uma grande figura humana", escreveu.
Outro que mandou pêsames à família do senador foi o colega Arthur Virgílio (PSDB-AM). "Saúde a memória de Tuma. Um grande brasileiro. Vá em paz, querido amigo", escreveu. "Tuma, homem da segurança, delegado da Polícia Federal, corregedor do Senado, jamais deixou a firmeza ofuscar a ternura".
Já o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) destacou que "Tuma era o mais cordial dos senadores desta legislatura".
Mais repercussão:
O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, disse que lamenta muito a morte do político. "Fui colega dele no Senado. Um homem sereno, que foi duas vezes senador por São Paulo. Quero, neste momento, mandar meu abraço a seus familiares, sua esposa, irmãos e filhos. Éramos amigos pessoais. Além de um político importante, eu perco um amigo também", afirmou.
O partido de Serra também emitiu nota de tristeza e pesar sobre o "estimado amigo e senador Romeu Tuma".
"Excepcional homem público, competente, íntegro e com uma extensa folha de serviços prestados, Tuma deixará, além de sua história, muita saudade. Aos familiares e inúmeros amigos que colecionou em vida, nossos mais sinceros votos de força e solidariedade", escreveu Antonio Carlos Mendes Thame, presidente do PSDB de São Paulo, na nota.
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