quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Covid-19: Rio Grande do Norte ultrapassa 70% de imunizados

Da redação com Tribuna do Norte
Por Felipe Salustino - Repórter


O Rio Grande do Norte ultrapassou esta semana a marca de 70% da população adulta vacinada contra a covid-19 com duas doses ou dose única, de acordo com dados da plataforma RN + Vacina. Já o número de vacinados somente com a D1, nessa terça-feira (9), era de 89%. Os índices são alcançados em um momento em que o Estado volta a registrar aumento na quantidade de casos confirmados em outubro, após quatro meses seguidos de queda. Especialistas ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE avaliam que a alta está ligada à incompletude do esquema vacinal e também à população não imunizada.

De acordo com os dados da plataforma LAIS Coronavírus, no mês passado, foram confirmados 5.257 casos de covid-19 no RN, ante 2.425 confirmações de setembro (aumento de 116%). Apesar do aumento expressivo, o imunologista e pesquisador do Laboratório de Inovação Tecnológica da UFRN (LAIS/UFRN), Leonardo Lima, lembra que os números já foram bem maiores. Em maio, pico da pandemia no Estado, foram confirmados 46.395 casos. Segundo ele, a população não vacinada é a parcela mais acometida pela doença atualmente.

“É importante destacar que a variação que temos hoje é muito menor do que os registros de maio. Esse é um primeiro ponto. O segundo é que os casos recentes estão se concentrando basicamente na população não imunizada. E isso é algo a se considerar. Essas pessoas continuam se contaminando e contaminando idosos, que, com o tempo, após o recebimento das duas doses, acabam ficando vulneráveis”, aponta o imunologista.

Lima chama a atenção para esse aspecto, uma vez que, indica ele, pessoas com menos de 50 anos e que estão vacinadas com as duas doses não têm passado por internações nos últimos meses. Para o especialista, o cenário revela que é preciso apostar na imunização completa, com a dose de reforço (D3) para os idosos. “A terceira dose para esse público-alvo é fundamental”, frisa.

O epidemiologista e pesquisador da Escola de Saúde Pública do RN, professor Ion de Andrade, reforça a importância de manter o avanço da imunização e aponta o porquê. “É preciso compreender que essa pandemia se tornou a pandemia dos não vacinados e vacinados incompletos. Tem quase 300 mil norte-riograndenses que deveriam ter tomado a segundo dose e não tomaram”, afirma.

Segundo ele, os idosos são os mais impactados, mesmo aqueles que estão com o esquema vacinal completo. “É preciso que continue havendo um esforço de contenção da pandemia, mesmo para os mais jovens e vacinados com duas doses”, alerta.

“Essa pessoas [jovens e vacinados], mesmo acometidos por casos leves, têm a capacidade de transmitir a doença. E, se ela chega a alguém com alguma vulnerabilidade ao vírus, pode provocar um quadro grave, levar à internação e, eventualmente, à morte”, detalha Ion de Andrade.

Aumento leve
A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN), classifica o aumento de casos registrados no último mês como leve e afirmou que a alta não reverberou em mortes. A pasta disse ainda que os óbitos de outubro são de idosos com mais de 70 anos e que receberam as duas doses da vacina há mais de cinco meses. A pasta avalia que é preciso reduzir o intervalo para a aplicação da dose de reforço, nesses casos.

“O Estado já deliberou sobre isso junto ao Comitê Integrado Bipartite (CIB) e essa medida precisa ser implementada pelos municípios”, informou a coordenadora de Vigilância em Saúde da Sesap, Kelly Lima. Segundo ela, o aumento dos casos está atrelado “à latência da circulação do vírus, o que só será reduzido com a adesão de 95% da população [à imunização], que é a meta do Ministério da Saúde.

Segundo Kelly Lima, até atingir essa meta, a ideia é estimular medidas como o passaporte vacinal, por exemplo. A ação é importante para controlar a pandemia e evitar mortes, conforme avaliação da gestora. “Estudos apontam que só tem o agravamento da doença e só chega a óbito quem não iniciou, não completou o esquema ou não tomou a dose de reforço em tempo oportuno”, afirma.

No mês passado, o número de mortes no Estado também voltou a subir, nesse caso, depois de seis meses seguidos de redução. Entretanto, o aumento não acompanhou a proporção dos casos em alta, registrados entre os meses de setembro e outubro: enquanto as confirmações aumentaram mais de 100%, as mortes, entre um mês e outro, subiram de 49 para 52 (aumento de 6,12%). Para Ion de Andrade, o dado reforça a importância da imunização.

“Estamos vivendo um momento em que a doença, por causa da vacina, se tornou menos letal. Isso dá razão ao fato de que as vacinas são eficientes”, afirma o epidemiologista, que faz um alerta. “O cenário indica que a pandemia mudou o alvo”, completa, ao citar novamente os idosos como mais vulneráveis.

“O que a gente constata em relação aos internados é que houve um crescimento do número de hospitalizações de idosos por covid, que eram cerca de 30 há um mês e agora são 62 internações em leitos críticos, ou seja, o dobro”, descreve.

Flexibilização de máscaras com 85% de vacinados
O avanço da vacinação no Estado tem suscitado questionamentos sobre a obrigatoriedade do uso de máscara, especialmente em áreas abertas. Em setembro, o secretário estadual de Saúde, Cipriano Maia, chegou a afirmar que o uso do item de proteção seria flexibilizado em locais ao ar livre quando 70% da população adulta estivesse totalmente imunizada, cenário que acontece agora. A Sesap voltou atrás em seguida. Dias depois, a governadora Fátima Bezerra (PT), anunciou que a questão seria discutida em dezembro.

A TRIBUNA DO NORTE questionou a Sesap sobre o assunto nessa terça-feira (9). Segundo a pasta, as discussões sobre a flexibilização da medida se dará “quando 85% da população estiver vacinada com as duas doses e com ampla aplicação da dose de reforço, além de um cenário epidemiológico favorável”.

Os especialistas ouvidos péla reportagem são unânimes ao discorrer sobre o tema: para eles, o uso do item é essencial até que se tenha o controle total da pandemia. “Em algumas regiões do País já há a liberação do uso de máscaras em áreas abertas. Mas a flexibilização só pode ocorre em função da melhora dos números. É preciso esperar um pouco antes de dar uma previsão mais assertiva sobre o uso das máscaras, especialmente em ambientes fechados”, esclarece Leonardo Lima.

Ion de Andrade alerta que a medida permanece eficaz para prevenir a transmissão.

“As máscaras compõem o esforço das medidas já conhecidas de prevenção, como lavagem das mãos e distanciamento e que continuam na ordem do dia. Essas medidas parecem ter perdido prioridade, porque, quando o jovem está vacinado com as duas doses, raramente vai desenvolver uma forma grave da doença. Por isso, fica a sensação de que essas medidas poderiam ser reduzidas ou abolidas.”, sublinha.

Mas é importante lembrar que essa pessoas jovens e vacinadas podem transmitir a doença para grupos mais vulneráveis”, aponta, em seguida.

A Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS/Natal) também foi questionada sobre discussões acerca da flexibilização do uso de máscaras, mas disse que, “até o momento, ainda não avaliou essa possibilidade”. A capital tem 74% da população adulta vacinada com duas doses ou dose única e 90% com a D1.

A SMS Natal informou que a procura da população pela vacina tem sido boa, mas reforçou que mais de 63 mil moradores da capital ainda não completaram o esquema vacinal. “Fazemos um apelo para que essas pessoas compareçam aos pontos de vacinação. O processo é rápido: basta levar o comprovante de residência de Natal, documento com foto e cartão de vacina, sendo importante se cadastrar antecipadamente no RN + Vacina”.

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