segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Real é apenas a 29ª moeda mais segura





Fábio Alves

São Paulo (AE) - O real pode ser a moeda preferida dos investidores internacionais para os lucros de curtíssimo prazo, mas fica atrás das moedas do Peru, Malásia, Hungria e Croácia, além de vários países desenvolvidos, como refúgio seguro para o dinheiro em caso de estourar uma nova crise financeira. É o que mostra um estudo feito por analistas da corretora japonesa Nomura Securities, que elaborou um ranking de moedas mais seguras para os investimentos. Entre 43 países avaliados, o Brasil ficou em 29º lugar, prejudicado, principalmente, pelas medidas de controle de capital adotadas nos últimos anos.

O dólar americano, mesmo depois de os Estados Unidos terem perdido a nota máxima AAA de classificação de risco pela agência Standard & Poor's (S&P), permanece no primeiro lugar como a moeda mais segura para investir, seguida do iene japonês e do euro. O último lugar do ranking ficou com a coroa da Islândia, país símbolo da crise financeira mundial de 2008, que sucumbiu a uma dívida bancária de dez vezes o tamanho da sua economia, resultando numa desvalorização da moeda superior a 80% e adoção de rígido controle cambial.

Na América Latina, a melhor colocação coube ao peso do Chile, seguido pelo novo sol do Peru e peso do México, enquanto o peso argentino teve a pior avaliação. As moedas latinas, no geral, tiveram avaliação fraca em razão de problemas com inflação, classificação de risco da dívida soberana e critérios de governança, segundo o estudo, divulgado ontem.

"Apesar de ter um balanço de pagamentos ainda sólido, o Brasil perdeu várias posições quando avaliamos a questão da flexibilidade e da conversibilidade do real em razão das medidas adotadas recentemente (de controle cambial) e que amedrontam os investidores, que temem o risco de medidas adicionais no futuro", disse em entrevista à Agência Estado Peter Attard Montalto, um dos analistas que assinam o estudo da Nomura Securities, em Londres. "Moedas consideradas porto seguro devem ser flexíveis, abertas e praticamente com total conversibilidade Nesse sentido, o Brasil e o real se parecem cada vez menos com esse tipo de moeda considerada como refúgio de investidores." Uma moeda considerada refúgio último de segurança é aquela que conseguirá manter seu valor a médio prazo, e não uma moeda para a qual migra o investidor apenas em períodos de volatilidade de curto prazo e de aversão ao risco nos mercados financeiros globais, segundo os analistas da Nomura Securities.

Para refletir um horizonte de médio e longo prazo, a classificação da corretora japonesa levou em conta cinco critérios com peso igual na avaliação final: estabilidade macroeconômica e política; solidez do balanço de pagamentos; tamanho e liquidez do mercado financeiro doméstico; flexibilidade e conversibilidade cambial; e resiliência da economia doméstica a choques externos. É, portanto, um julgamento não somente da moeda e do mercado cambial de um determinado país, mas principalmente da economia como um todo. Segundo os autores do estudo, a busca por novos portos seguros apenas começou e deverá ser um tema recorrente à medida que os desafios para as economias da zona do euro e dos Estados Unidos não deverão ter uma solução ao longo do próximo ano.

Se no ranking geral o dólar americano manteve a liderança, graças a critérios como tamanho e liquidez do mercado financeiro dos Estados Unidos, em particular a demanda por títulos do Tesouro norte-americano, a situação muda quando o quesito é de estabilidade macroeconômica e política: os Estados Unidos caem para 9º lugar, enquanto o Brasil desce para a 33ª posição. No fator liquidez do mercado doméstico financeiro, o Brasil sobe para o 8º lugar. No critério resiliência da economia doméstica a choques externos, o Brasil fica em 13º lugar, enquanto o Japão, a Suíça e a China encabeçam a lista.

*Tribuna do Norte

Nenhum comentário:

Postar um comentário