segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Crescimento em ritmo alucinado

Vicente Neto e Ciro Marques - repórteres

Não faz nem tanto tempo assim. No final da década de 1980, o filho mais velho do senhor Manoel Araújo comprou um terreno longe do centro de Natal, onde só havia mato por todos os lados. Aos poucos o local foi ganhando ares urbanos, as granjas sendo vendidas, uma a uma. Começaram a chegar Franciscos, Antônios, Marias. A cada dia, um novo vizinho; a cada espaço de tempo, uma nova rua. Hoje os Araújos moram numa área privilegiada da Abel Cabral, em Nova Parnamirim, um dos metros quadrados mais caros do Rio Grande do Norte.

arquivo/tn
Em Nova Parnamirim, uma das áreas de expansão imobiliária da Grande Natal, o número de domicílios particulares teve crescimento de quase 200% na última década

"Quase todo dia estaciona carros aqui na porta com gente querendo saber se não vendo este terreno. Certa vez, para encerrar a conversa, disse para o homem que vendia por R$ 2 milhões. Ele

olhou pra mim e perguntou se a gente podia fechar o negócio. Mas não vendo isso aqui por dinheiro nenhum do mundo", reforça Araújo, de 83 anos, que ganha a vida fabricando carros de mão de zinco para vender às construtoras que aportam por lá, ao preço de R$ 300.

O crescimento frenético deu lugar a um dos bairros mais populosos da Grande Natal. São 54.076 habitantes, segundo o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao longo do tempo, as granjas foram substituídas por casas e as casas por apartamentos. Se fosse uma cidade, Nova Parnamirim seria hoje a oitava mais populosa do Estado, superando Assu (53.227), Currais Novos (42.652) e São José do Mipibu (39.776).

Os recenseadores do IBGE contaram 21.192 domicílios particulares, aumento de 196,97% se comparado com o Censo de 2000. Apesar de ser conhecida popularmente como Nova Parnamirim, naquele tempo aquela área era dividida oficialmente em duas partes: Parque do Pitimbu e Parque dos Eucaliptos. Os dois bairros viraram Nova Parnamirim no início da década passada.

Para o ex-secretário de Planejamento da Prefeitura de Parnamirim, Jorge Cunha, o crescimento acelerado do bairro foi motivado por uma série de fatores. Primeiro, a falta de terrenos em Natal e as restrições impostas pelo Plano Diretor da década de 1990, que encareceu o metro quadrado na capital, levando as construtoras a optarem por uma área mais em conta, de retorno garantido. Segundo, a invasão "estrangeira" que despertou o interesse em muitas pessoas de investir numa aplicação segura - a compra de imóveis para alugar ou mesmo ganhar dinheiro, vendendo depois. Um outro fator, que desta vez levou a classe média de Parnamirim a se deslocar para o bairro nobre, foram as limitações de gabarito no Centro e bairros em torno do Aeroporto Internacional Augusto Severo.

Em menor grau, mas com intensidade semelhante, o ritmo de crescimento se repetiu em outras áreas de expansão da Grande Natal. Ponta Negra virou uma torre de babel: o número de domicílios pulou de 6.227 (em 2000) para 12.088 no ano passado. Emaús dobrou de tamanho. O Planalto esticou. E até a velha e charmosa Redinha se expandiu.

Pergunta óbvia: ainda há espaço para crescer? Do pronto de vista empresarial, sim. A Grande Natal foi, é e continuará sendo um eldorado para a construção civil, segundo a presidente da Associação Brasileira do Mercado Imobiliário, Virgínia Duailibe. "Se investiria? Claro! Essa região é ótima. Quem não investiria? Aliás, não só investiria, como moraria em Natal", disse a empresária, em entrevista à Tribuna do Norte, antes de uma palestra no Sindicato de Habitação do Rio Grande do Norte (Secovi/RN), no início de agosto.

Os censos do IBGE mostram como a Grande Natal cresceu na primeira década do Século 21. Como uma chapa de raios-x, desce a detalhes. Exemplo: em Natal, havia 27.901 apartamentos no ano passado, o equivalente a 11,85% do total de domicílios; Parnamirim segue o mesmo caminho: 7.176 unidades (11,89%). No Rio Grande do Norte há 7.998 apartamentos ocupados por apenas um morador. São 5.334 em Natal, 1.268 em Parnamirim, 687 em Mossoró e apenas 50 em São Gonçalo. Outras curiosidades: em Natal existem 15.503 casas em vilas ou condomínios; no Rio Grande do Norte, 129.936 domicílios estavam vagos, 10.398 deles em Natal, quando foi realizado o Censo, no segundo semestre de 2010.

Densidade demográfica das capitais

Sem espaço para se expandir, Natal cresceu na vertical na década passada, quando experimentou um de seus melhores momentos desde que a cidade despertou para o turismo, há 35 anos. O número de apartamentos passou de 14 mil para quase 28 mil, no ano passado, segundo o IBGE. Com isso, a verticalização deu um salto de 7% para 11,85%. No comparativo com outras capitais, ainda é um percentual baixo. No Recife esse índice é de 27%, em Salvador, 25% e em Fortaleza, 17%.

Com uma área de 170,2 quilômetros quadrados, Natal tem a sexta maior densidade demográfica entre as capitais brasileiras. Está atrás de Fortaleza, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Rio de Janeiro. A Grande Natal concentrou a maioria dos empreendimentos habitacionais construídos na última década. Juntas, Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Ceará-Mirim, São José de Mipibu, Nísia Floresta, Extremoz e Monte Alegre têm 386.442 domicílios particulares.

Impulsionada pela melhoria das condições de vida e pelo aumento da renda per capita da população, a indústria da construção civil do Rio Grande do Norte teve crescimento chinês. O valor de incorporações, obras e serviços saiu de R$ 1,4 bilhão em 2007 para R$ 2,0 bilhões em 2008. Em 2009, mesmo enfrentando os chamados "tremores secundários" da crise das hipotecas dos Estados Unidos, os investimentos foram ainda maiores: R$ 2,4 bilhões.

Os dados referentes ao ano passado ainda estão sendo tabulados pelos técnicos do IBGE. Bons ou ruins, eles não terão muita importância para o mercado. Isso porque os indicadores de 2011 registram um volume de crédito para financiamentos imobiliários de R$ 277 milhões, o equivalente a 47,9% do total previsto para o ano.

*Tribuna do Norte

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