Na semana em que o Instituto Sangari divulgou uma pesquisa sobre a violência no Brasil, que nos últimos 30 anos ultrapassou a marca de um milhão de homicídios, a população passou a questionar aonde vai parar tanta atrocidade envolvendo pessoas, boa parte inocentes, que se envolveram ou se envolvem em algum tipo de violência.
Os dados divulgados pelo Mapa da Violência apontam que o número de homicídios passou de 13,9 mil em 1980 para 49,9 mil em 2010, o que representa um aumento de 259%. Com o crescimento da população nesses 30 anos, a taxa de homicídios é de 26,2 para cada 100 mil habitantes.
Preocupados com o aumento da criminalidade, O Mossoroense caiu em campo para entrevistar especialistas e a população para saber o que fazer diante de tamanha preocupação. Professores, delegados, assistente social, alunos e a população de um modo geral emitiram opiniões e apontaram soluções para reduzir o índice da criminalidade.
Na região Oeste do Rio Grande do Norte, onde a violência não foge à regra, cidades como Mossoró, Caraúbas, Apodi, Umarizal, Alexandria, Pau dos Ferros, dentre outras, consideradas violentas, têm acompanhado a estatística nacional e apresenta um alto índice de crimes de homicídios.
Para o estudante de pedagogia Marco Aurélio Calabras, cada um deve fazer sua parte em não contribuir para que a violência se expanda ainda mais. "Não devemos nos calar quando nos afligem, mesmo sobre ameaças, pois não desejamos aos outros o que não queremos para nós. Se nos calar nunca terão fim os nossos opressores", destacou o estudante.
O líder comunitário, que preferiu o anonimato, residente na Favela do Fio, em Mossoró, criticou o sistema dizendo que as autoridades deveriam dar bons exemplos de ética e os políticos cumprirem o que prometem nas campanhas eleitorais. "Já reparou que os políticos só aparecem nas favelas em épocas de eleição?" indagou o rapaz de 32 anos.
A professora Andreza Benevides destaca que para reduzir a criminalidade deve-se investir em educação, só assim as pessoas vão poder se conscientizar e poder ter uma melhor qualidade de vida. "Quando se investe em educação as pessoas serão mais conscientes e vão saber lidar com as situações conflituosas, fugindo das drogas, da prostituição e da violência em geral", destacou a professora.
Já a pedagoga Ana Paula da Cruz Fernandes de Menezes, que dirige programas sociais para adolescentes e crianças em faixa de risco, defende que a violência tem se tornado uma epidemia globalizada, no entanto nas cidades oestanas se concentra com mais vigor.
Para ela a impunidade, a falta dos pais responsáveis e o aumento da criminalidade relacionado às drogas são requisitos a mais para ocorrência de crimes. "O povo tem costume de jogar suas responsabilidades nas costas de outro. É culpa dos políticos, é a culpa dos desenhos, é culpa dos videogames. É culpa de fulano ou sicrano e acaba esquecendo-se de fazer sua parte", destacou.
Ainda segundo a pedagoga, a educação das crianças é a essência que vai tirá-la, que vai orientá-la em sua condição social. "A educação escolar e principalmente a educação dos pais ou responsáveis que hoje se mostram distantes. Tanto que temos até programa de TV ensinando os pais a serem pais de fato e não só fazerem filhos, que é mais fácil", concluiu.
Ranking
Os dados do Mapa da Violência demonstram ainda que os estados que lideravam as estatísticas no início da década de 1980, como Pernambuco, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso, Roraima e Distrito Federal apresentam quedas do índice de homicídios. São Paulo e o Rio de Janeiro apresentam reduções de 63,2% e 42,9%, respectivamente. Com informações da Agência Brasil.
Caraúbas é uma cidade violenta, segundo o Ministério da Justiça
Foi divulgado ontem, pelo Ministério da Justiça, o Mapa da Violência 2012. O relatório é o mais completo e atualizado sobre o tema e apresenta o perfil dos municípios brasileiros quando o assunto é violência.
O comparativo leva em consideração os dados coletados na última década. Eles apontam que a situação no Rio Grande do Norte vem se tornando cada vez mais difícil. O número de municípios com índices de homicídios supera à média nacional: subiu de 15 (no ano 2000) para 32 (em 2010).
O município de Caraúbas desponta como um dos mais violentos do Estado, tendo atingido índice superior a 7, de acordo com o relatório do MJ, ficando atrás apenas de João Dias, no Alto Oeste.
Caraúbas é uma preocupação à parte das autoridades governamentais, que têm tentado, até então sem sucesso, implantar uma política de segurança capaz de reduzir a criminalidade, bastante presente nos últimos 30 anos, quando surgiu as famigeradas "brigas de famílias", que perdurou até bem pouco tempo, sendo substituída pela "guerra do tráfico de drogas", que somente nos últimos três anos já matou mais de 10 pessoas.
Para se ter uma ideia de como é complicado trabalhar no combate ao crime na região de Caraúbas, um dos últimos delegados nomeados para a cidade, sofreu uma sobrecarga de serviços e uma pressão pessoal para apresentar resultados à sociedade, que entrou em depressão profunda e se não fosse contido pelos colegas teria cometido suicídio dentro da própria Delegacia de Polícia Civil.
Atualmente a cidade está sem delegado e espera por parte do governo estadual a nomeação de um delegado próprio.
Criminalidade em Mossoró tem matado aproximadamente uma pessoa a cada dois dias
Os frequentes assassinatos ocorridos em Mossoró este ano já contabilizaram 186 mortes em decorrência da violência que se instalou nas ruas e bairros da cidade, principalmente nas regiões periféricas, onde a maioria dos crimes está ligada ao tráfico e consumo de drogas, de acordo com dados recentes da polícia.
Até o momento as estatísticas mostram uma média de 15 pessoas assassinadas por mês, ou a cada dois dias um crime tem acontecido em Mossoró, configurando assim o ano mais violento da história mossoroense. As estatísticas deixam de fora as inúmeras tentativas de homicídio e os espancamentos que diariamente são notícias nos veículos de comunicação.
Para o delegado Clayton Pinho, titular da Delegacia Regional de Polícia Civil de Mossoró, os dados são preocupantes e mostram uma realidade comprometedora com a segurança da população. "Os números não deixam dúvidas que precisamos melhorar ainda mais, apesar do avanço que temos alcançado, tirando de circulação criminosos perigosos que vinham atormentando a sociedade", explicou.
O delegado destaca que diante dos fatos, o investimento em ações educativas, bem como a melhoria de estrutura das polícias repressivas e investigativas, por parte da Federação, seriam imprescindíveis no combate à criminalidade.
"A falta de estrutura na polícia repressiva, nas equipes investigativas, associados a lentidão da Justiça, contribuem para o aumento da criminalidade, bem como inibem a ressocialização de presos perante à sociedade", explicou.
Outro ponto apontado por Clayton Pinho é o sistema prisional que, segundo ele, está falido e impede que presos se recuperem. "Infelizmente se não tivermos investimentos urgentes por parte da União, nos sistemas prisionais, dificilmente a criminalidade vai diminuir, pois a ressocialização de um preso é algo ainda muito difícil", concluiu.
*O Mossoroense
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