Roberto Lucena - Repórter
A secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) contabiliza, somente esse ano, 531 casos suspeitos de dengue em todo Rio Grande do Norte. O número, se comparado com o ano passado, é baixo. Porém, até o momento, um outro dado chama mais atenção: cinco pacientes morreram e a doença viral pode ser a causa das mortes. A última suspeita foi registrada sábado passado, em Tibau do Sul. Um português de 48 anos, com sintomas da doença, faleceu após ser atendido no hospital da cidade. A subnotificação e a falta de estrutura nos municípios preocupa a Sesap.
Alberto Leandro
A portuguesa Maria da Conceição tenta superar burocracia e liberar corpo de filho que morreu sábado passado
Os números fazem parte da quinta semana epidemiológica que foi encerrada no dia 4 desse mês. Os dados da sexta e sétima semanas ainda não foram computados pela secretaria. No mesmo período do ano passado, a Sesap contabilizou 2.155 notificações e cinco suspeitas de óbitos. Esse ano, já foram anotados seis óbitos com um caso descartado. "Apesar do número de notificações ter caído, o número de óbitos suspeitos permanece o mesmo, quer dizer, é preocupante. Isso mostra que há subnotificação. Quando chega a informação, já é com casos graves", disse Juliana Araújo, subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica da Sesap.
Segundo Juliana, na semana passada foi realizada uma reunião com todos os secretários municipais de Saúde do Estado. No encontro, foi explicado que esse ano há um risco de epidemia da doença. A subcoordenadora pontuou ainda sobre a importância de enviar os dados para a Sesap. "A falta de repasse das informações é um problema que, infelizmente, se repete esse ano. Sem os dados não temos como elaborar planos de combate à doença. O profissional de saúde precisa ficar atento", disse. "Sabemos que falta estrutura de vigilância nos municípios e, na maioria das vezes, um único profissional fica sobrecarregado, porém, é preciso atenção", completou.
A dengue sempre é associada aos períodos de chuva. Erroneamente, imagina-se que o mosquito Aedes aegypti só se prolifera em períodos chuvosos. "Pensar assim é errado. Infelizmente, no Rio Grande do Norte, é possível que haja dengue durante todo ano. Os terrenos baldios são grandes vilões de todos nós. É preciso atenção e combate ao mosquito durante todos os meses", alertou Lúcia de Fátima, técnica da equipe de Vigilância Epidemiológica da Sesap.
"Podemos confirmar que mais de 90% dos focos do mosquito são encontrados em residências. As pessoas sabem como agir, sabem o que deve fazer, mas, não sei por qual motivo, não agem corretamente. A vigilância diária deve ser realizada dentro de casa, primeiramente", disse Juliana Araújo. Além das notificações e óbitos suspeitos da dengue, a Sesap confirmou também a circulação do vírus tipo 4 da doença nos municípios de Caicó, Alexandria e Guamaré.
Familiares portugueses aguardam liberação de corpo
Familiares do empresário português Jorge Manuel da Conceição Lopes estão desesperados. Além da dor devido ao falecimento inesperado ocorrido no último sábado, eles sofrem com a burocracia para conseguir autorização e liberação do corpo que está sendo velado num centro de velório da capital desde o último domingo. "Estão agindo de má fé com a gente. Não é possível que isso aconteça só por causa de um carnaval", disse o pai de Jorge, o aposentado Armando Lopes, 79 anos.
A causa da morte, de acordo com o laudo médico, foi "hemorragia do trato gastrointestinal, anemia e cardiopatia hipertensiva". Há suspeita de dengue hemorrágica que será analisada. Segundo Maria Sueli, namorada de Jorge, ele começou a passar mal no sábado de carnaval e foi atendido no hospital de Tibau do Sul, onde residia há mais de dois anos. "Ele vomitou muito e teve diarréia. Fomos para o hospital e ele foi atendido, mas, infelizmente, faleceu", contou.
Jorge Manuel tinha 48 anos e era empresário. Os pais e um tio dele vieram da cidade de Pombal, em Portugal, para realizar o translado do corpo. Eles imaginavam que o processo fosse rápido e iriam voltar ainda essa semana ao país de origem, porém, não foi o que aconteceu. "Chegamos domingo e até agora não sabemos quando vamos voltar com meu filho. Estou muito triste com o Brasil. Nunca imaginei que isso fosse acontecer", disse Maria da Conceição, 79 anos, mãe de Jorge.
Segundo um funcionário da funerária onde Jorge é velado, os trâmites para conseguir a documentação e liberação para o translado de corpos de estrangeiros é burocrático. Dependendo do país, a espera pode durar mais de trinta dias. Além de certidão de óbito, é preciso autorização da Polícia Federal, Receita Federal, Polícia Civil, Vigilância Sanitária, Itep e a embaixada do país do estrangeiro precisa ser consultada. A Embaixada de Portugal mais próxima de Natal fica em Recife/PE. "Ainda não sabemos quando seremos recebidos por lá. É muita burocracia e o carnaval atrapalhou ainda mais. É um absurdo que nada funcione no país por causa da festa. Precisam fazer algo para resolver isso", disse Sueli.
O cônsul de Portugal no Brasil, Francisco Lamir, que mora em Natal, foi procurado pela família de Jorge e uma reunião está agendada para manhã de hoje. A reportagem tentou contato com Lamir, mas as ligações não foram atendidas.
*Tribuna do Norte
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