Adriano Ceolin, iG Brasília
Gleisi Hoffmann chegou ao comando da Casa Civil para ser “a Dilma da Dilma” e, aos poucos, tem conseguido. Ela é a cara da nova fase do governo federal após 200 dias de administração - a ser completados na quarta-feira (20). Nos últimos meses, Dilma Rousseff, sempre que houve oportunidade, colocou em seu governo um maior número de técnicos dando ordens a políticos, e não o contrário.
Foto: Fellipe Bryan Sampaio
A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann
Após se destacar como senadora por cinco meses, Gleisi chegou ao Palácio do Planalto abrindo mão da articulação política - que o antecessor Antonio Palocci fazia tanta questão de ter sob controle. Sua primeira tarefa foi reativar a Subchefia de Articulação e Monitoramento que já foi ocupada por Miriam Belchior, atual ministra do Planejamento. Com a ajuda do marido e ministro Paulo Bernardo (Comunicações), escolheu Luís Padilha para o posto de subchefia, cuja função principal é fazer marcação cerrada sobre o andamento dos programas de governo.
Antes da Casa Civil, Padilha trabalhou para Bernardo no Ministério do Planejamento. O atual subchefe de Articulação e Monitoramento era o diretor do Departamento de Programas de Cooperação Internacional e Gestão Pública. Questionado pelo iG sobre mudanças após a saída de Palocci da Casa Civil, Bernardo disse o seguinte: “Claro que houve mudança de estilo e uma redivisão de tarefas com a saída de Palocci. Mas não houve mudanças nos planos e nos projetos do governo”.
Além de reativar a subchefia de Monitoramento, Gleisi azeitou a parceria com a Câmara de Gestão, Desempenho e Competividade (CGDC), presidida pelo empresário Jorge Gerdau. O órgão é vinculado ao Conselho Político da Presidência da República. Segundo dados da própria Casa Civil, desde que assumiu, Gleisi já conduziu três reuniões da câmara ao lado de Gerdau. Numa delas, foram definidas cinco áreas prioritárias para atuação do órgão: os ministérios da Saúde, Justiça e Previdência, além de estatais como Correios e Infraero.
Escolha pessoal
A presidenta Dilma Rousseff bancou Gleisi como uma escolha pessoal. Eleita senadora pelo PT do Paraná em 2010, ela não apareceu de imediato na lista de apostas para a Casa Civil quando Antonio Palocci foi demitido em 7 de junho. Segundo assessores próximos, Gleisi toma suas ações sempre tendo como norte a gestão. “É o contrário do (Antonio) Palocci, que fazia tudo sempre pensando nos impactos políticos de cada decisão de governo”, contou um palaciano ao iG.
Seguindo a cartilha técnica de Dilma, Gleisi chega cedo ao Palácio do Planalto, por volta das 8 horas, e vai embora quase sempre depois das 21 horas. Em alguns dias mais atribulados, já saiu após as 23 horas. Na agenda, a maior parte dos encontros é com ministros de Estado, sem espaço, portanto, para políticos em geral.
Outras mudanças
Além da Casa Civil, outra mudança na Esplanada dos Ministério que ocorreu a partir de uma crise foi a troca de comando no Ministério dos Transportes. Após reportagem que mostrou um esquema de propina dentro da pasta e no Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Alfredo Nascimento demitiu-se do cargo.
Em seu lugar, assumiu o então secretário-executivo da pasta, Paulo Sérgio Passos. Em princípio, como interino. Isso porque havia muita pressão contra ele do PR, partido dono dos Transportes desde 2003. Mais uma vez, Dilma acabou fazendo sua vontade e o partido teve de aceitar Paulo Passos.
Próximos da lista
No Congresso e no Planalto, Mário Negromonte (Cidades) e Pedro Novais (Turismo) são os dois ministros que aparecem mal avaliados e que podem ser substituídos em breve. Segundo o iG apurou, ambos não conseguiram dar “uma cara própria” às suas respectivas pastas. Nos poucos encontros que tiveram com a presidenta, não conseguiram convencê-la.
Até agora nenhum dos dois passou por “uma sabatina” com a presidenta. Há quem diga que sobretudo Negromonte não aceitaria ser tratado aos gritos e com provocações por Dilma, como ela costumava fazer quando era ministra da Casa Civil no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nelson Jobim (Defesa) também enfrentou dificuldades neste início de governo. Não conseguiu emplacar a compra dos novos caças da Força Aérea Brasileira, que se arrasta desde 2003. Do ponto de vista político, sempre foi fragilizado. Nunca teve respaldo do seu partido, o PMDB.
No fim de junho, o ministro da Defesa deu uma declaração que causou polêmica. Durante homenagem ao tucano Fernando Henrique Cardoso, que completou 80 anos, ele afirmou que o ex-presidente nunca levantou a voz com auxiliares e que era preciso ter "tolerância com idiotas". Para petistas e demais aliados, a declaração pareceu uma crítica à presidenta. Jobim teve de se reunir com ela para explicar o que havia dito. Depois, publicamente, o ministro disse que se referia a jornalistas.
Os que vão bem
Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento Econômico) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) já haviam se destacado nos primeiros 100 dias e seguem bem avaliados pela presidenta. O nome da vez agora é Paulo Bernardo (Comunicações), que aos poucos tem conseguido refundar a pasta, como determinou Dilma. Com maior destaque, Bernardo conseguiu colocar em prática o Plano Nacional de Banda Larga e incluir nele as empresas de telefonia.
“Nosso principal esforço foi na negociação de metas de telefonia e de internet com as empresas concessionárias. Isso é parte do Plano Nacional de Banda Larga e apostamos que a oferta de internet a R$ 35 vai ajudar a massificar o acesso de um serviço ainda inacessível para a maioria das pessoas”, afirmou o ministro Bernardo ao iG.
Veja os ministros que tiveram destaque, positivo ou negativo, nos 200 dias do governo:
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