sábado, 9 de julho de 2011

Gol compra Webjet por RS 96 milhões

Melina Costa,
Patrícia Cançado e
Glauber Gonçalves


ECONOMIA

São Paulo e Rio (AE) - A Gol anunciou ontem a compra da Webjet por R$ 96 milhões em uma transação que, incluindo dívidas, chega a R$ 310,7 milhões. Com apenas 5,16% de participação no mercado doméstico e uma frota de aviões velhos, a Webjet atraiu a atenção da Gol por causa dos slots (horários de pouso e decolagem) que detém em aeroportos centrais do País, como os de Guarulhos e Santos Dumont, no Rio de Janeiro.

júnior santos

Atualmente a companhia aérea Gol é a segunda no ranking do setor no Brasil, atrás da TAM

"A Gol não está comprando a Webjet. Ela está comprando os slots da empresa. O que eles vão querer com aviões velhos?", resume o professor Elton Fernandes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Como os maiores aeroportos do País enfrentam graves deficiências de infraestrutura que impedem a concessão de novos slots pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as únicas saídas para crescer nesses locais é comprando aeronaves maiores ou adquirindo empresas que voem nesses locais. A Gol já tinha lançado mão da primeira Essa não é a primeira investida da Gol sobre a Webjet. Outra tentativa feita há cerca de dois anos não foi bem sucedida porque a proposta da companhia comandada pela família Constantino não agradou à Webjet.

Uma operação do tipo já era esperada pelo mercado. Para especialistas, a Webjet chegou a um ponto em que precisava se capitalizar para avançar no mercado. A empresa, que já foi a terceira em participação no mercado doméstico, ficou estagnada, enquanto a Azul, que entrou depois no mercado, avançava gradualmente até tomar sua posição.

Uma das saídas vislumbradas pela Webjet foi a abertura do capital.

Depois de iniciar os trabalhos para realizar uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em fevereiro, a Webjet desistiu da empreitada em maio, receosa com a escalada nos preços internacionais do petróleo.

O controlador da Webjet, Guilherme Paulus, no entanto, dava outras tacadas na tentativa de capitalizar a Webjet. Dono da empresa desde 2007, o também proprietário da operadora de turismo CVC é figura recorrente em Brasília. Segundo fontes, ele é o empresário que mais ativamente tem atuado na defesa da aumento do limite de participação estrangeira em empresas aéreas brasileiras de 20% das ações com direito a voto para 49%.

O texto que altera o Código Brasileiro de Aeronáutica chegou a ir para votação da Câmara este ano, mas acabou retirado da pauta

O aumento do limite é interessante para Paulus que, segundo fontes, também mantinha contato com o fundo de investimentos Irelandia Aviation, da família que fundou a aérea irlandesa Ryanair. As relações com o fundo continuaram pelo menos até a entrada com os papéis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para realizar o IPO. Nele, Charles Clifton, que trabalhou 16 anos na Ryanair e é sócio do fundo Irelandia, é apresentado como membro do Conselho de Administração e assessor da Webjet.

Concorrência

Mesmo com a incorporação das operações da Webjet, a Gol alcançaria a mesma fatia de participação que a líder TAM no mercado doméstico.

Enquanto Gol e Webjet juntas ficaram com uma fatia de 40,55% em maio, a TAM respondeu por 44,43% da demanda. Para especialistas, o tamanho modesto da Webjet não deve desencadear uma concentração que preocupe o mercado, o que deve facilitar a aprovação da operação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

"Do ponto de vista legal e do histórico (de atuação) do Cade, não vejo grandes entraves (à operação)", diz o especialista em direito aeroviário Guilherme Lopes do Amaral, do escritório Aidar SBZ Advogados. Ele lembra que os movimentos de consolidação são a principal forma encontrada pelas companhias aéreas - que tradicionalmente trabalham com margens apertadas - para reduzir custos.

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