Decisão foi anunciada após reunião com a presidente Dilma Rousseff, nesta sexta-feira, no Planalto; VEJA revelou esquema de corrupção na pasta
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Luciana Marques, Carolina Freitas e Adriana Caitano
O ministro do Esporte, Orlando Silva, durante depoimento aos parlamentares: defesa não funcionou (Renato Araújo/ABr)
O ministro do Esporte, Orlando SIlva, permanecerá no comando da pasta. Pelo menos por enquanto. Após reunião com a presidente Dilma Rousseff, na noite desta sexta-feira, no Palácio do Planalto, o ministro comunicou à imprensa que não deixará o posto. “É inaceitável para mim conviver com qualquer tipo de suspeição. Manifestei para a presidente minha indignação, minha revolta diante desses fatos e ela me sugeriu serenidade e muita paciência, mas afirmou a confiança que tem no nosso trabalho”, disse o ministro. “Ela fez recomendações para que nós continuássemos a trabalhar, continuássemos cumprindo os compromissos e a agenda do ministério”, completou.
A reunião durou cerca de uma hora e meia. Questionado se continuaria à frente do cargo, o ministro disse que não sabia “o porquê da pergunta”, já que as acusações são somente “especulações” em sua opinião. “A presidente se mostrou absolutamente tranquila, confiante e atenta às explicações que fiz”, declarou o ministro. “Continuo confiante e seguro”.
O ministro admitiu, no entanto, que pode haver falhas nos programas comandados pelo Ministério do Esporte. “Na gestão pública aqui e acolá pode haver problemas e o papel do gestor público é corrigir todo e qualquer erro que venha a identificar”. Ele chamou o policial militar João Dias Ferreira, que o acusou de participar de um esquema de corrupção na pasta, de "caluniador". E repetiu que não há provas contra ele. "Os caluniadores que me atacam o fazem por que combatemos os males praticados por eles".
A situação de Orlando Silva ficou complicada depois que VEJA revelou, no sábado, que o ministro era o mentor de irregularidades na pasta e que recebeu propina na garagem do próprio ministério. Ele passou a semana negando as acusações e chamando o delator do esquema de “bandido” sem credibilidade. Foi à Câmara e ao Senado prestar depoimento. “Querem tirar ministro no grito”, reclamou na quinta-feira.
A sobrevida do comunista no comando do Ministério do Esporte pode não durar muito. A relação entre Dilma e Orlando Silva, mais um ministro herdado por ela de Luiz Inácio Lula da Silva, não é das mais tranquilas. Dilma demonstra insatisfação com o trabalho do comunista e tentava tirar dele o comando da organização da Copa do Mundo de 2014. Na visão da presidente, o ministro era próximo demais da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Fifa - Orlando Silva disse que tratou com a presidente, ao final da reunião, temas ligados à pasta, como os Jogos Panamericanos no México, projetos olímpicos e organização da visita de representantes da Fifa ao Brasil.
O ministro rebateu ainda as declarações do secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcke, que disse que a entidade aguarda substituição de Orlando Silva. “A relação da Fifa com o governo do Brasil é institucional. O governo tem os seus interesses e a Fifa tem os seus. E os dois tem um objetivo em comum que é fazer em 2014 um mundial de grande sucesso”, disse. “Não necessariamente vamos pensar da mesma maneira”.
Mecanismos de controle - Em nota, a presidente Dilma Rousseff disse que o governo não condena ninguém sem provas e parte do "princípio civilizatório" da presunção da inocência. “Não lutamos inutilmente para acabar com o arbítrio e não vamos aceitar que alguém seja condenado sumariamente”, disse a presidente.
A nota diz ainda que o ministro informou à presidente que tomou todas as medidas para corrigir e punir malfeitos, ressarcir os cofres públicos e aperfeiçoar os mecanismos de controle do Ministério do Esporte.
Corrupção - Reportagem publicada em VEJA desta semana mostra que o partido de Silva, o PCdoB, organizou uma estrutura dentro da pasta para desviar dinheiro público usando ONGs amigas como fachada. As verbas deveriam ser usadas para incentivar crianças carentes a praticar esportes, mas acabavam engordando o bolso dos comunistas. O esquema funcionava da seguinte forma: as ONGs pagavam uma taxa de 20% do valor do contrato ao partido, que fechava o convênio com elas e chegava a indicar fornecedores de notas frias de despesas fictícias para embasar o repasse.
De acordo com o policial militar João Dias Ferreira, delator do esquema, os convênios previam o atendimento a 5.000 crianças, mas, quando muito, atendiam 500. Muitas vezes, não atendiam sequer uma. Entidades dirigidas por João Dias participaram do esquema e ele chegou a ser preso em 2010 pela polícia de Brasília. Segundo o delator, o dinheiro desviado foi usado pelo PCdoB para pagar despesas da campanha presidencial de 2006.
Biografia - Orlando Silva de Jesus Júnior, tem 40 anos, nasceu em Salvador (BA) e formou-se em Direito e Ciências Sociais. Ele chegou ao comando do Ministério do Esporte em março de 2006, durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, após passar por outros três cargos na própria pasta, de secretário nacional de Esporte, secretário Nacional de Esporte Educacional e secretário-executivo do Ministério do Esporte.
Antes disso, atuou como líder estudantil – foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), de 1995 a 1997, e da União da Juventude Socialista (UJS), de 1998 a 2001. Também foi representante da Federação Mundial das Juventudes Democráticas (FMJD).
Em 2008, seu nome foi envolvido no escândalo dos cartões corporativos do governo Lula. Utilizou o benefício para consumo particular em restaurantes sem estar cumprindo agenda oficial. Após as denúncias, alegou ter se enganado e devolveu o dinheiro.
Quedas em série – Até agora, foram demitidos do governo Dilma, por envolvimento com corrupção, os ministros Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo). Nelson Jobim, então titular da Defesa, saiu por criticar publicamente o governo.
Oposição - O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), acredita que a permanência de Orlando Silva não é definitiva. “A situação do ministro é insustentável, mas a presidente o manteve no cargo provavelmente no aguardo de informações que podem sair durante o fim de semana na VEJA e, aí sim, deve fazer uma nova avaliação”, comenta. “A própria pressão do PCdoB deve ter contribuído para dar esse fôlego a ele”, conclui. Pelo Twitter, o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), lamentou o adiamento da faxina. “Dilma se enfraquece e mancha a imagem do Brasil ao compactuar com a corrupção”, criticou.
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