Como podemos tirar o maior proveito da oportunidade que significa sediar uma Copa do Mundo? Esse foi a pergunta que se tentou responder durante a 13ª edição do Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, seminário realizado na segunda-feira (16) pela Tribuna do Norte, Sistema Fiern, Sistema Fecomércio, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), governo do RN e Arena das Dunas, no Pestana Hotel. Com a presença de políticos, empresários, autoridades e pesquisadores, discutiu-se o impacto da Copa de 2014 na economia do Rio Grande do Norte.
Alex Régis
Os vários aspectos relacionados à realização da Copa do Mundo foram discutidos em seminário que reuniu empresários, políticos e representantes dos diversos segmentos envolvidos com o evento
Segundo dados do Ministério do Esporte, a Copa do Mundo irá gerar um impacto de R$ 187 bilhões ou 0,4% do Produto Interno Bruto até 2019. De forma direta, são R$ 47 bilhões nas mais variadas áreas, como a construção civil, turismo, entre outras. Aproveitando esse montante de recursos, o Governo Federal pretende melhorar a infraestrutura, a qualidade dos serviços e a imagem do país no mundo. Para isso, é necessário planejamento.
O investimento no Brasil nesse planejamento chega a R$ 33 bilhões, segundo Ricardo Gomyde, diretor de futebol profissional do Ministério do Esporte e assessor do ministro Aldo Rebelo. Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomercio/RN), Marcelo Queiroz, o valor pode ser ainda maior, se considerar os recursos que serão aplicados pela iniciativa privada. "Com o mundial, R$ 200 bilhões serão agregados ao PIB brasileiro", acrescentou. Amaro Sales, presidente da Federação das Indústrias (Fiern), declarou que a Copa deixará três legados: o legado da infraestrutura, o legado social e o legado das oportunidades de negócio.
Para efetivar o legado da infra-estrutura é preciso acelerar a execução das obras de mobilidade. O atraso identificado até aqui foi mencionado por vários palestrantes ao longo do dia. Natal foi eleita cidade-sede da Copa há quase três anos, em maio de 2009. De lá para cá, poucos projetos avançaram. "Estamos atrasados? Estamos. Precisamos agora recuperar o tempo perdido", afirmou o deputado federal e líder da bancada do PMDB, Henrique Alves. Para a governadora Rosalba Ciarlini, o atraso não preocupa no momento. "O projeto das obras de mobilidade está pronto. Aguardamos só o repasse da Caixa", reafirmou.
Já o assessor do Ministério dos Transportes, Ricardo Gomyde, afirmou que as obras de mobilidade não são indispensáveis para a Copa. Segundo ele, o atraso na execução das obras de mobilidade urbana não atrapalha a realização da Copa do Mundo de 2014. "As obras não são para a Copa, são para o país. Torcemos para que fiquem prontas até lá, mas se não ficarem, não haverá problema", afirmou.
Por sua vez, o diretor do escritório da Federação Internacional de Futebol (FIFA) no Brasil, Fulvio Danilas, apresentou a palestra "O Impacto da Copa do Mundo da FIFA", na qual ressaltou o legado pós-Mundial nos dois países - Alemanha, em 2006, e África do Sul, em 2010. Danilas destacou que, no caso da Alemanha, as cidades que sediaram jogos, ou serviram de pontos de hospedagem para seleções e turistas, tiveram um reconhecimento do público internacional que perdura até hoje.
As atividades ligadas ao turismo acrescentaram o equivalente a 5,5 bilhões de reais na economia alemã. A Copa de 2006 bateu todos os recordes de público. Foram cerca de 2 bilhões de visitantes. Para o Brasil estão sendo esperados 19 mil profissionais da imprensa.
Oportunidade para as cidades menores
Não há, segundo a FIFA, nenhuma evidência que comprove o benefício econômico a curto prazo. "Entretanto, os estádios são multiuso, a infraestrutura das obras de mobilidade urbana ficam para a cidade, há um impulso no setor turístico, os cidadãos tem orgulho de serem daquele país e passam a confiar mais nos gestores", ressaltou Danilas.
Ele ressaltou, porém, em uma das respostas ao público presente no Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, realizado no Hotel Pestana, que as cidades que sediarão os jogos deverão estar preparadas para receber um grande número de turistas durante os dias de jogos mais concorridos. "A infraestrutura dos aeroportos deverão estar preparadas, com um planejamento bem elaborado para receber voos fretados e, consequentemente, atender a uma maior demanda de voos e decolagens extras", enfatizou Danilas.
No que diz respeito aos benefícios, o gerente do escritório FIFA no Brasil ressaltou a participação das cidades menores. "A Copa do Mundo é uma boa propaganda para as cidades-sedes, principalmente as menores", destacou Fulvio Danilas.
Copa gera oportunidades para micro e pequenos
A palestra do presidente nacional do Sebrae, Luiz Eduardo Barreto, encerrou a décima terceira edição do projeto Motores do Desenvolvimento falando sobre as oportunidades para as micro e pequenas empresas. Segundo Barreto, essa é a fatia do mercado que mais gera emprego e precisa ser vista com cuidado na preparação para receber os jogos da Copa. Oportunidades de negócio precisam ser aproveitadas. "Quando eu vou ao BNDES, sempre digo: vocês nunca vão ver aqui uma empresa que gere 60% dos empregos formais e seja responsável por 20% do PIB. É preciso um olhar diferenciado com esse conjunto, com as micro e pequenas empresas", falou.
Alex Régis
Luiz Eduardo Barreto: suporte para a inserção das micro e pequenas empresas na Copa do Mundo
O presidente do Sebrae Nacional explicou que a instituição estuda as possibilidades de novos nichos de mercado no entorno da Arena das Dunas bem como em outras cidades do Estado. "Com certeza novas possibilidades de mercado vão surgir. Tanto nos arredores do novo estádio como no caminho que leva ao novo aeroporto e outras cidades do RN", destacou. Esse análise vai na mesma linha de várias outras emitidas por especialistas e palestrantes durante o seminário.
O Mapa de Oportunidades do Sebrae foi lembrado por Barreto como um instrumento que pode prover esse "olhar diferenciado". "É preciso um instrumento que aumente a competitividade das empresas. O estudo da Fundação Getúlio Vargas teve o intuito de justamente mapear essas oportunidades", disse o presidente nacional do Sebrae. Em Natal, foram identificadas 356 oportunidades. As empresas acompanhadas pelo programa do Sebrae respondem um questionário, uma matriz de competitividade. A ideia é que ao final do processo existam empresas mais competitivas.
Luiz Eduardo Barreto deu um exemplo de como o impacto econômico gerado pela Copa do Mundo. "Vários setores podem ser atingidos. Desde o têxtil até a cadeia do turismo", disse Barreto. Nove setores foram apontados pelo Sebrae como atingidos pela movimentação de recursos proveniente da Copa. Os nove setores afetados, segundo o Sebrae, são: Construção civil, tecnologia da Informação, madeira e móveis, têxtil e vestuário, produção associada ao turismo, turismo, comércio varejista, agronegócios e serviços.
As oportunidades identificadas pelo Sebrae atingem setores que orbitam em torno da cadeia do turismo, que é a principal atingida de forma direta. Tome-se o exemplo de um hotel que precisa adotar melhorias para receber o turista. Se for necessário fazer uma ampliação, a construção civil é beneficiada. Se for necessário implantar sistemas de informação, internet, transmissão de dados em rede, beneficia o setor de tecnologia da informação. Se for necessário trocar o acervo de roupa de cama e banho, o setor têxtil passa a ter oportunidade de fazer novos negócios. "É por esse efeito em cadeia que a pesquisa do Sebrae se torna fundamental", encerra Célio Vieira.
*Tribuna do Norte
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