Isaac Lira e Valdir Julião - repórteres
O relatório será divulgado, oficialmente, a partir das 9 horas de hoje, mas os meteorologistas de diversas instituições do país e do exterior, que estão participando da 14ª reunião de trabalho de Avaliação Climática para o Semiárido do Nordeste, em Fortaleza (CE), já avaliam que a probabilidade do período invernoso - fevereiro a abril - é de começar no próximo mês com chuvas em torno do normal.
Júnior Santos
Anúncio foi feito por especialistas que estão reunidos em Fortaleza (CE) na 14ª reunião de trabalho de Avaliação Climática para o Semiárido do Nordeste.
O meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), Gilmar Bristot, adiantou por telefone, no fim da tarde de ontem, que "as chuvas devem ter grande variabilidade temporal e espacial, que é o que normalmente ocorre no Estado".
Gilmar Bristot disse que as condições climática do Atlântico Norte, onde a temperatura ainda está quente, "não é favorável a ocorrência de boas chuvas".
Bristot afirmou que será preciso esperar pela última reunião dos meteorologistas que se realizará em Natal, nos dias 16 e 17 de fevereiro, "para se ter uma previsão conclusiva" sobre o inverno deste ano na região Nordeste.
Segundo Bristot, na reunião que se realiza na sede da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) "houve uma discussão muito grande e divergências nos modelos de pesquisa" de diversos órgãos, como Inep, Cpetec e outras instituições.
Para Bristot, como o Antlântico Norte se mantém com temperaturas mais quentes do que o Atlântico Sul, "indicativo da irregular distribuição das chuvas e ocorrência de veranico no Nordeste".
Bristot ainda explicou que l femôneno "La Niña" no Oceano Pacífico apresenta-se de forma moderada e fraca, "mas como não atua sozinho e sim em conjunto com o Oceano Atlântico, tem de se analisar todos os aspectos meteorológicos e climáticos".
O documento sobre a previsão de inverno no semiárido nordestino está sendo elaborado por representantes dos Centros Estaduais de Meteorologia dos estados no Nordeste, além de CPTEC/INPE, INMET, Instituto Internacional de Pesquisas do Clima e da Sociedade (IRI - EUA) e Escritório de Meteorologia do Reino Unido (UK Met Office).
No relatório serão apontadas as probabilidades de cada categoria referente ao período chuvoso no Estado (em torno da média histórica, acima da média e abaixo da média).
Em dezembro de 2011, quando da Reunião de Análise e Previsão Climática para o setor Norte do Nordeste do Brasil ocorrida nos dias 15 e 16 daquele mês, em Campina Grande (PB), a previsão era de que o volume de chuva que cairia nos três primeiros meses de 2012 seria igual ou maior que a registrada no mesmo período do ano passado.
"Profetas" traduzem sinais da natureza sobre chuvas
Todos os anos, em dezembro e janeiro, a atenção de Gilton Batista, fazendeiro aposentado de 73 anos, passa a estar direcionada para formigas, sapos, as árvores e a lua. Os sinais e o comportamento meticulosamente observados nos mais distintos fenômenos da natureza servem, para Gilton, a um propósito específico e centenário, que é responder à mais comum angústia de um sertanejo: o inverno será bom esse ano?
Gilton Batista é um "profeta". Mas a denominação nada tem a ver com o misticismo dos profetas bíblicos e nem significa que o fazendeiro seja dotado de poderes sobrenaturais. O nome está ligado unicamente à capacidade de observação do comportamento da natureza e de elaborar uma "previsão do tempo" a partir do que foi observado. Todos os anos, Gilton, e vários outros "profetas" sertanejos, lêem nesses sinais uma evidência de chuva e de seca, sendo muitas vezes mais acreditados pelos agricultores que os meteorologistas que utilizam o método científico para prever o tempo. Para Gilton, o inverno de 2012 será "abaixo da média".
Há pelo menos outros dois "profetas" famosos por suas previsões em Caicó. São eles: Jefferson Batista, de 90 anos, conhecido como Jefim, e Sinval Barbosa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. As opiniões se dividem acerca das chuvas em 2012. Enquanto Gilton está pessimista para o inverno desse ano, Jefim e Sinval acreditam em bons tempos para o sertão do Seridó. Cada um apóia sua "previsão" em observações distintas.
Gilton viu principalmente o comportamento do "Mari". A árvore não está com frutos. "Ela florou, mas não botou fruto nenhum. Como essa árvore só derruba suas frutas dentro da água e ela não botou fruta, é porque não vai chover", aponta. Outro dado considerado importante por Gilton é a primeira lua cheia do ano. Segundo o profeta, o céu estava limpo, sem nuvens, quando saiu a primeira lua cheia. "Se tivesse nuvens, um tempo carregado, é porque iríamos ter um bom inverno", garante.
Já Jefferson Batista, de 90 anos, assevera que não choveu durante a noite de São João. "Se não choveu em cima da fogueira é porque o inverno será bom", diz. Sinval Barbosa, por sua vez, realiza todos os anos uma "experiência" com uma garrafa na noite de São João, que demonstrou a viabilidade do período chuvoso desse ano. Há outras evidências. "Temos várias evidências de que será um bom inverno. Ontem mesmo era véspera do dia de São Canuto e estava relampeando. Esse sinal é forte", aponta. E define: "A única coisa que explica a experiência e a "profecia" é a fé. Somente isso".
No geral, as "profecias" são baseadas em uma crença: a de que a natureza "sabe" quando haverá ou não chuva. Para os profetas, formigas, sapos, plantas e outros seres têm uma capacidade de sentir os sinais do clima mais desenvolvida que os seres humanos. Por isso, eles confiam no comportamento desses seres para tentar decifrar os rumos do tempo.
Costume antigo
"Profetizar" acerca da chuva e da seca no sertão é um costume antigo. De certa forma, todo agricultor tem uma forma de ler os sinais do tempo. "Isso vem desde os meus avós. O povo sempre me pergunta se vai chover. E eles mesmos têm as suas superstições, suas crendices, etc. Cada um chama como quiser", relata. Acerca da efetividade da observação, crendice, superstição - ou como você preferir chamar - Gilton Batista é desafiador: "Nunca houve um pesquisador que estudasse isso a sério. Errar todo mundo erra. Até mesmo os cientistas fazem às vezes as suas burradas".
O "profeta" caicoense está certo quanto à importância dada pelos agricultores às profecias. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE circulou com Gilton por algum tempo nas comunidades rurais e todos os agricultores perguntaram alguma coisa acerca do inverno. "O inverno vai ser bom?", era a pergunta mais comum. Alguns, em seguida, desacreditavam as previsões. "Quando o homem quer saber mais do que Deus, Deus muda as coisas", disse um deles, chamado Júnior. Contudo, imediatamente o próprio Júnior passou a falar sobre as suas "experiências". "Quando a aranha caranguejeira sai da toca, é porque vai chover", disse.
Na verdade, o costume sertanejo já atraiu o interesse acadêmico, tendo Gilton um de seus principais personagens. Mas não na área de meteorologia. Em 2005, o doutorando em filosofia argentino Renzo Romano Taddei, à época vinculado à Universidade de Yale, nos Estados Unidos, utilizou Gilton e um profeta cearense, chamado Chico do Leite, como exemplos em sua tese de doutorado. "Embora alguns os chamem "profetas da chuva", é uma denominação que muitos deles recusam a aceitar. Não são dotados de poderes miraculoso. Ao invés disso são observadores sistemáticos de sinais da natureza", define.
No Seridó, comunidade do Açudinho sobrevive com água de carros-pipa
De todas as comunidades do Seridó que esperam pela chuva nesse início de 2012, nenhuma delas está tão ansiosa quanto a comunidade do Açudinho, localizada a pouco mais de 20 quilômetros de Caicó. Em maio do ano passado, a chuva forte "arrombou" cinco açudes, todos pequenos, na região. Sem os açudes, as trinta e sete famílias da comunidade sobrevivem com a água coletada em carros-pipa e retirada de favor em reservatórios privados da região.
De acordo com Roberta da Costa, presidente da Associação Comunitária do Açudinho, havia cultivo de melancia e batata, entre outras culturas, antes da ruína das paredes dos açudes no ano passado. Hoje, a plantação está reduzida a milho, feijão e capim para os animais. De 15 em 15 dias, a Operação Pipa abastece a comunidade de água. São seis mil litros, o que não chega para o fim do mês. Por conta disso, a solução é andar à procura de água. Um reservatório de uma propriedade privada tem sido utilizado.
Ana Zulmira Diniz é uma das agricultoras que pega água "de favor" nas terras vizinhas. O caminho tem cerca de três quilômetros e é percorrido a cada oito dias. "Tiramos daqui água somente para beber. Não pode tirar mais, até porque já um favor que o dono da terra está fazendo", aponta. Zulmira não vê problema em beber aquela água. "A água é boa", garante. Visualmente, contudo, a água, de cor esverdeada, não parece ser limpa. "Não temos outra opção", aponta.
Roberta da Costa define como "urgente" a necessidade de "chuva" para os habitantes do Açudinho. "Tanto aqui como nas comunidades aqui perto, do Retiro, por exemplo, a situação é grave. Precisamos dessa chuva, embora que mesmo que chova teremos um ano seco. A água aqui cai e vai embora, não tem onde reter. O que realmente queremos é a resolução do problema nos açudes", explica.
Para as demais comunidades, ainda não se chegou num momento "preocupante". Sinval Soares, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caicó, diz que, apesar da aparência seca no sertão, ainda há pasto. "Não há casos de animais morrendo ainda. O sertão está seco, mas não é algo desesperador ainda. Esperamos pela chuva", encerra.
*Tribuna do Norte
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