Brasília (AE) - A presidenta Dilma Rousseff decidiu manter Wagner Rossi no Ministério da Agricultura para não brigar com o PMDB do vice-presidente Michel Temer, mesmo com todas as denúncias de tráfico de influência envolvendo o ministro. Em contrapartida, Dilma vai impor uma faxina nos cargos ocupados por amigos de Rossi. Temer é o padrinho da nomeação de Wagner Rossi na Agricultura. Essa é a base do acordo de convivência com a base aliada, que tem no vice-presidente da República - eleito com ela na mesma chapa - um dos seus principais líderes. Segundo informações de auxiliares da presidenta, Dilma fará o máximo de esforço para evitar repetir com o PMDB a experiência traumática que vive com o PR, alijado do Ministério dos Transportes.
andré dusek
Wagner Rossi vinha substituindo técnicos por apadrinhados políticos em cargos estratégicos
Por isso, aceitou manter Rossi - pelo menos por enquanto, por não ver nas denúncias contra o ministro um fator de gravidade absoluta. Ela sabe que não pode sequer pensar em perder o apoio do PMDB, além do agravante de o presidente do partido ser também o seu vice. Temer tem hoje o controle quase absoluto do partido. E só não pode dizer que é total por causa das dissidências do senador Jarbas Vasconcellos (PE) e Pedro Simon (RS).
Cedendo de um lado, mas avançando de outro, a presidenta vai tomando algum controle sobre a Agricultura. Um dos exemplos é a nomeação de José Gerardo Fontelles para a Secretaria-Executiva do Ministério da Agricultura, em lugar de Milton Ortolan, que pediu demissão no dia 6, logo depois de publicação, pela revista Veja, de notícia sobre uma suposta ligação dele com o lobista Júlio Fróes. Fontelles havia sido secretário-executivo do ministro anterior, o deputado Reinhold Stephanes. É um técnico com mais de 40 anos de carreira.
Ao substituir Stephanes, que se afastou em abril do ano passado para disputar a reeleição de deputado, Wagner Rossi manteve o secretário-executivo. Confirmado no ministério pela presidente Dilma, Rossi segurou Fontelles até março. Aí, o substituiu por Ortolan, seu amigo de 25 anos, que havia sido o seu chefe de gabinete na presidência da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), cargo para o qual foi nomeado em 2007, também pela influência direta de Temer.
Com as denúncias envolvendo Ortolan, e com a saída deste, a presidenta interveio e nomeou Fontelles, que desde o afastamento da Secretaria-Executiva, ocupava o cargo de assessor especial de Rossi. O ministro tem se notabilizado por tirar técnicos e pôr amigos e afilhados políticos do PMDB e do PTB nas vagas. Mas, para não desfalcar o ministério de pessoas que conhecem tão bem os meandros da Pasta, ele os convida para permanecer, na condição de técnicos.
Outro exemplo da faxina de Dilma Rousseff no setor de agricultura ocorreu com a nomeação de Rui Magalhães Piscitelli para a Procuradoria-Geral da Conab. Ele entrou no lugar de Rômulo Gonsalves Jr. A própria Dilma foi buscar Piscitelli na Advocacia-Geral da União (AGU), numa conversa com o ministro Luís Inácio Adams. Encontrado o nome, ela avisou a Rossi sobre a mudança.
Por intermédio de sua assessoria, o ministro da Agricultura deu a entender que não pretende desagradar a presidenta da República. A ideia, de acordo com a assessoria, é mesmo pôr pessoal técnico no lugar dos que foram ocupados por políticos.
PR anuncia posição de independência
Brasília, (AE) - Depois de um embate com a bancada de senadores do partido, o presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), anunciou ontem a "declaração de independência" do partido da base de sustentação do governo no Congresso. O ex-ministro dos Transportes, defenestrado do cargo após denúncias de corrupção na pasta, explicou que o partido atuará de forma independente, mas com responsabilidade e entregará todos os cargos no governo. Menos o cargo de ministro dos Transportes, explicando que Paulo Sérgio Passos é da cota da presidente Dilma Rousseff. "Paulo Sérgio Passos é um técnico que merece nosso respeito", disse Nascimento. Mas avisou que embora filiado ao PR, o partido não o reconhece como "legítimo representante" no governo.
O senador Blairo Maggi (PR-MT) e outros parlamentares chegaram a defender, publicamente, que Passos se desfiliasse do PR para continuar no cargo. "Se não, nosso discurso (de entregar os cargos) fica atravessado", argumentou Maggi. Mas Nascimento atribuiu à cota presidencial a permanência de Passos no cargo e no partido. Entre outros cargos, o PR ainda controla a diretoria de Engenharia de Furnas, ocupada por Mário Márcio Rogar, indicado pelo partido. Além disso, o irmão do líder do PR no Senado, Magno Malta - Maurício Malta - é assessor parlamentar no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). O senador Clésio Andrade (PR-MG) conseguiu preservar no cargo o diretor da Superintendência do Dnit em Minas Gerais, Sebastião Donizete.
Durante a tarde, senadores do PR tentaram evitar até o último instante o pronunciamento de Nascimento, como Magno Malta e Clésio Andrade, que resistem ao rompimento com o governo. Malta confrontou Nascimento e desabafou com os jornalistas: "Eu não sou criança para anunciar outra coisa agora, eu sou homem de uma palavra só, ninguém manda em mim". Na última semana, Malta anunciara a saída da bancada do bloco governista no Senado, liderado pelo PT.
Ministro viajou em jatinho da Ourofino
Brasília (AE) - O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, utilizou em seus deslocamentos um avião de empresa que depende de autorizações da pasta para vender seus produtos. A Ourofino Agronegócio atua no ramo de agrotóxicos, sementes e saúde animal e colocou à disposição do ministro e de seu filho Baleia Rossi (PMDB-SP), deputado estadual, um Embraer Phenon 100 avaliado em US$ 7 milhões, conforme revelou o jornal Correio Braziliense.
Integrantes do governo e empresários do setor afirmaram que a empresa é beneficiada pelo ministério por meio de processos mais ágeis para obter licenças de seus produtos. Relatos dão conta de que servidores do Ministério da Agricultura fazem pressões nesse sentido junto ao Comitê Técnico de Assessoramento de Agrotóxicos, que conta com representantes do Ministério do Meio Ambiente e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. O ministro diz que a pasta age dentro de sua "missão institucional" ao defender prioridades para alguns produtos.
À reportagem, Rossi admitiu ter viajado no avião da Ourofino em "três ou quatro ocasiões". Ele citou ter usado o avião duas vezes para ir de Brasília para a cidade onde mora, Ribeirão Preto (SP). Em outra ocasião, foi até Uberaba (MG), onde a Ourofino tem filial. Além de ceder o avião para os deslocamentos, a empresa também doou R$ 100 mil para Baleia na eleição de 2010, e contratou a produtora A Ilha, também de Baleia, para a realização de vídeos institucionais.
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