terça-feira, 3 de novembro de 2020

Ex-presidente do Alecrim praticou 214 vezes os crimes contra sistema financeiro nacional, diz MPF

Da redação com Tribuna do Norte
Por Luiz Henrique GomesRepórter
O Ministério Público Federal acusou o ex-presidente do Alecrim Futebol Clube, o inglês Anthony Armstrong, e a sua enteada de praticar 214 vezes os crimes de fraude contra o Sistema Financeiro Nacional, além de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Preso nos Emirados Árabes Unidos na última semana, Anthony Armstrong enganava investidores internacionais para captar dinheiro e depois desviava os recursos em proveito próprio. O Alecrim FC era um dos investimentos de Armstrong que recebiam recursos desviados.

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O inglês Anthony Armstrong e a enteada foram denunciados com outras seis pessoas em março deste ano pelo MPF. Os outros seis são cinco contadores da antiga empresa de construção civil do inglês e um funcionário da Caixa Econômica Federal.

De acordo com a denúncia, realizada em março deste ano, Anthony Armstrong e a enteada criaram uma empresa de fachada no ramo da construção civil, a Ecohouse Brasil, para captar investimentos internacionais. Eles alegavam aos investidores que a empresa construía casas pelo programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, e prometiam um lucro de 20% em 12 meses sobre o capital investido. O lucro seria proveniente da venda das casas após a construção.

Eles chegaram a captar recursos de 1,5 mil investidores que movimentaram R$ 75 milhões em dois anos, segundo o MPF. Entretanto, a Ecohouse Brasil nunca construiu as casas e sequer chegou a possuir convênio com a Caixa Econômica Federal para participar do programa Minha Casa, Minha Vida. O dinheiro era desviado para outras quatro empresas – o Alecrim FC, um restaurante, uma empresa de segurança e outra de fachada – ao chegar à Ecohouse. Segundo a denúncia, Armstrong e a enteada “ostentavam uma vida de puro luxo graças aos desvios por eles praticados.”

Os dois gastaram os recursos obtidos com viagens que chegaram a R$ 469 mil, veículos de luxo, hotéis e outros gastos pessoais. Foi com o dinheiro desviado que o Alecrim FC fez a compra de jogadores como Stefano Seedorf, primo de Clarence Seedorf (ex-Juventus, Milan e Botafogo), no valor de R$ 83 mil. De acordo com depoimentos de membros da diretoria do clube, os gastos no Alecrim eram feitos com dinheiro em espécie e causavam estranheza. Ao todo, mais de R$ 4 milhões foram desviados para o clube potiguar.

Segundo o MPF, a intenção de Armstrong no desvio de recursos para o Alecrim FC era “criar a falsa imagem de que Anthony Armstrong era um empresário de sucesso, com atuação em vários setores”. Para isso, ele chegou a desviar material que deveria ser empregado na construção de casas, para a reforma do centro de treinamento do clube.

Para enganar os investidores internacionais, os empresários possuíam uma declaração falsa que atestava a prestação de serviço da empresa para o programa Minha Casa, Minha Vida. A declaração foi assinada por um funcionário da Caixa Econômica Federal, denunciado pelo MPF por falsidade ideológica. A fraude também acontecia através de atestados falsos feitos pelos contadores da empresa que diziam que as obras transcorriam normalmente e de visitas a canteiros de obras. Os investidores eram levados a esses canteiros para atestar a veracidade dos investimentos, mas, segundo depoimentos de empregados da empresa, essas obras jamais ficaram prontas.

A denúncia é proveniente da Operação Godfather, deflagrada em 2014. A prisão preventiva de Armstrong e da enteada chegaram a ser pedidas na época, mas a Justiça não acatou. Nos últimos anos, segundo o MPF, os dois viveram no Principado de Mônaco, conhecido por ser um lugar luxuoso com cassinos da belle-époque, e nos Emirados Árabes, onde Armstrong foi preso. O MPF chegou a pedir a prisão preventiva da enteada, mas a Justiça concedeu o habeas corpus no dia 20 de agosto.

A TRIBUNA DO NORTE não conseguiu contato com os advogados de defesa dos acusados.

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