Fernando Henrique na Academia
Ubiratan Brasil/AE
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso confirmou seu favoritismo e foi eleito nesta quinta-feira à tarde para a cadeira de nº 36 da Academia Brasileira de Letras, ocupada antes pelo jornalista João de Scantimburgo, que morreu em março.
A eleição aconteceu na sede da ABL, no Rio, e Fernando Henrique conseguiu 34 dos 39 votos possíveis - 24 acadêmicos votaram em pessoa e outros 14, por carta. Houve uma abstenção. Após oficializada a vitória, o ex-presidente comemorou com amigos na Fundação Eva Klabin, na Lagoa, zona sul do Rio.
“Resisti alguns anos à sugestão de vários amigos para me apresentar à ABL. Primeiro, porque não sou propriamente o que se denomina de um ‘homem de letras’”, escreveu ele, em sua página no Facebook. “Segundo, porque temia que pudesse haver confusão entre minha produção intelectual e minhas posições políticas. Ao saber, porém, que desde sua fundação a Academia contemplava intelectuais em geral, e não apenas escritores, e tendo também passado mais de dez anos fora de cargos públicos, sem mais aspirar a nenhum deles, arrisquei submeter meu nome à apreciação dos acadêmicos.”
No mesmo texto, Fernando Henrique comenta a honraria desta quinta. “Eleito, só me resta agradecer a generosidade dos que hoje me recebem como companheiro, reafirmando minha satisfação e meu desejo de ajudá-los no esforço para que a ABL continue cumprindo os desígnios de seus fundadores, primeiros ocupantes de cadeiras, dentre os quais Machado de Assis, Ruy Barbosa e Joaquim Nabuco.”
“Essa eleição é um ato de respeito da Academia Brasileira de Letras à inteligência brasileira. A grande obra de Fernando Henrique Cardoso de sociólogo e cientista dá ainda mais corpo à Academia”, disse o imortal Marcos Villaça, ex-presidente da ABL, em comunicado oficial.
O convite para disputar a vaga partiu de dois imortais, a escritora Nélida Piñon e o senador José Sarney, logo depois de a Academia considerar a cadeira vaga. Logo a campanha por Fernando Henrique ganhou outras adesões como a de Villaça e de Celso Lafer, ex-ministro de Relações Exteriores do governo do ex-presidente e responsável por trazer a carta de candidatura.
O lançamento do nome de FHC foi um dos mais rápidos da história. Em almoço de conselheiros da Fundação Santillana, o ex-presidente estava com outros imortais no La Casserole, em São Paulo, no dia 22 de março, quando Nélida recebeu no celular a informação sobre a morte de Scantimburgo. Passou-a a Sarney, na cadeira ao lado - e este sugeriu que Fernando Henrique seria um bom nome para a vaga. FHC concordou e os autorizou a sair à caça dos votos.
O anúncio de sua candidatura, porém, despertou adesões imediatas “Tão logo soube que ele se candidataria, eu lhe garanti meu voto”, confidenciou a escritora Lygia Fagundes Telles à reportagem.
Agora ele é o terceiro presidente da República a fazer parte da ABL - Getúlio Vargas foi o primeiro, eleito em 1941 para a cadeira 37, seguido de Sarney, escolhido pelos imortais em 1980 para ocupar a cadeira 38. Ele também terá como colegas dois membros de seu governo, como seu vice-presidente Marco Maciel, eleito em 2004, e Celso Lafer, membro da casa desde 2006.
Fernando Henrique derrotou outros dez candidatos à cadeira 36: J R. Guedes de Oliveira, Gildasio Santos Bezerra, Jeff Thomas, Carlos Magno de Melo, Eloi Angelo Ghio, Diego Mendes Souza, Felisbelo da Silva, Alvaro Corrêa de Oliveira, José William Vavruk e Arlindo Vicentine.
TRIBUNA DO NORTE/AE