Com o resultado desta sexta, a Petrobras perdeu R$ 23,86 bilhões em valor de mercado, provocando prejuízos para as pessoas que investem em papeis da estatal.
Da redação com nominuto
Por Estadão Conteúdo
As ações das Petrobras amargaram perda de 6,5% nesta sexta-feira, 29, diante do temor de novas ingerências do governo na estatal, principalmente após o presidente Jair Bolsonaro defender que a empresa precisa focar mais nas questões sociais. O recuo da petroleira teve forte impacto na Bolsa brasileira (B3). O Ibovespa, principal índice da Bolsa, cedeu 2,09% e fechou o dia aos 103.500 pontos. No câmbio, o dólar subiu 0,37%, a R$ 5,6461. Com o resultado desta sexta, a Petrobras perdeu R$ 23,86 bilhões em valor de mercado, provocando prejuízos para as pessoas que investem em papeis da estatal.
Hoje, a Bolsa fechou no menor nível desde 12 de novembro. Em outubro, a queda foi de 6,74%, emendando seu quarto mês consecutivo em baixa, na sequência negativa mais extensa desde os quatro recuos seguidos entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014. Na semana, cedeu 2,63%.
As ações ordinárias da estatal tiveram baixa de 6,49%, enquanto as preferenciais cederam 5,90%. O resultado veio descolado do desempenho do petróleo no exterior, com o WTI para dezembro em alta de 0,92%, a US$ 83,57 o barril em Nova York, enquanto o Brent para o mesmo mês virou o sinal no final da sessão e avançou 0,07%, a US$ 83,72 em Londres.
Nem mesmo o resultado forte da petroleira ontem, com lucro de R$ 31,14 bilhões no terceiro trimestre, revertendo prejuízo do ano anterior, ajudou a aliviar o impacto da fala, também na quinta-feira, de Jair Bolsonaro, de que a empresa não deveria lucrar tanto e contribuir mais para o social, em referência ao preço do combustível. Na ocasião, o presidente também afirmou que busca uma maneira de 'mudar a lei' para conter os reajustes.
O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, tentou amenizar os temores, ao dizer que a empresa obedece a leis e não poderia segurar os preços dos combustíveis. A fala, porém, teve pouco efeito, principalmente após
No balanço julho-setembro, Petrobras trouxe "resultado muito forte, margens robustas e distribuição de dividendos de quase 10% em um trimestre", observa Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos.
"Por outro lado, a declaração do presidente (Bolsonaro), no sentido de interferir na política de preços da empresa, assustou o mercado, elevando a percepção de risco", acrescenta Oliveira. "Com preço do petróleo em patamares elevados, e dólar nesses níveis, o mercado fica receoso quanto a medidas em viés populista, tendo em vista a queda de popularidade do presidente e a aproximação do período eleitoral. O mercado está precificando o aumento de possibilidade de alguma intervenção na empresa, o que resulta nesse movimento de venda, de saída do papel."
"Jair Bolsonaro afirmou que busca uma maneira de 'mudar a lei' para conter os reajustes dos combustíveis. O presidente também reclamou dos ganhos da estatal, pouco antes da empresa divulgar receita recorde no terceiro trimestre. Anunciou ainda pagamento adicional de R$ 31,8 bilhões em dividendos e quer usar 60% do fluxo de caixa (livre) para dividendos em 2022", observa em nota a equipe de análise da Terra Investimentos.
Para o Bank of America, as ações da Petrobras continuam a apresentar um bom risco/retorno, apesar das incertezas políticas envolvendo a estatal. O analista Frank McGann considera que os desafios de preços e o risco contínuo do Brasil seguem no radar, assim como as incertezas eleitorais.
A esse cenário também se soma às investidas recentes tanto de Bolsonaro quanto do ministro da Economia, Paulo Guedes, em torno da privatização da estatal. No começo da semana, ao defender a venda, o ministro chegou a dizer que a estatal não irá valer mais nada daqui há trinta anos.
Além da Petrobras, o desempenho do Ibovespa na sessão foi condicionado também pelo de outra gigante das commodities, Vale, hoje em baixa de 2,84%, que trouxe resultados trimestrais abaixo do esperado, impactados pela correção do minério de ferro, cujo preço vem sendo afetado por ingerências do governo chinês sobre a produção local de aço. O setor de siderurgia como um todo esteve entre os maiores perdedores do dia, com Usiminas PNA em baixa de 7,54% e CSN ON, de 5,24%, no encerramento desta sexta-feira.
Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para Alpargatas, em queda de 10,56%, Banco Inter, de 9,14%, e Locaweb, de 8,50%. No lado oposto, as produtoras e exportadoras de proteína animal, beneficiadas pelo dólar forte: Minerva, em alta de 7,15%, Marfrig, de 5,33% e JBS, de 4,19%. Entre os grandes bancos, as perdas nesta sexta-feira chegaram a 2,88% para Bradesco PN.
Câmbio
Com muita volatilidade e trocas de sinais ao longo do dia, o dólar à vista acabou encerrando a sessão desta sexta em alta, alinhando ao sinal predominante da moeda americana no exterior. O real, contudo, apresentou perdas bem mais amenas que seus pares, como o rand sulafricano e o peso mexicano - movimento atribuído por operadores a fluxos pontuais de recursos e ajustes na rolagem de contratos futuros.
Na esteira do temor de ingerência na estatal, o dólar chegou a correr até a máxima de R$ 5,6629, alta de 0,67%, refletindo ainda as preocupações fiscais, apreensão com a paralisação dos caminhoneiros no dia 1°. Já a mínima, de R$ 5,598, baixa de 0,48%, veio ao longo da tarde, na esteira da fala novo secretário do Tesouro, Paulo Valle, de que pode atuar no mercado em conjunto com o Banco Central. Experiente funcionário de carreira do Tesouro, Valle - em apresentação de detalhes da PEC dos Precatórios - sinalizou que, além retirar oferta de títulos prefixados, o órgão pode intervir com a recompra de títulos.
Mas o alívio na taxa de câmbio foi momentâneo. Com a aceleração da queda do Ibovespa o ambiente externo ruim para divisas emergentes, o dólar acabou recuperando fôlego e voltou não apenas a ser negociado acima de R$ 5,60 como tocou na casa de R$ 5,65. Com o avanço desta sexta-feira, a moeda fechou a semana com variação de 0,33% e acumulou valorização de 3,67% em outubro, após ter subido 5,30% em setembro.
O diretor da corretora Correparti, Ricardo Gomes da Silva, não vê espaço para um alívio na taxa de câmbio no curto prazo e prevê nova onda de "estresse" na semana que vem com as negociações para votação da PEC dos Precatórios e a divulgação da ata do Copom, além das repercussões da paralisação dos caminhoneiros. "A pressão continua forte. Não sei se vai haver quórum para votação da PEC e o texto pode ser modificado. Mas mesmo que seja aprovada na Câmara, a PEC não deve passar no Senado", avalia.