Blog do César Santos
A GOVERNADORA Rosalba Ciarlini tomou o “Cafezinho com César Santos”. Início da tarde de quinta-feira (25), no intervalo de sua agenda administrativa em Mossoró e região. Quase duas horas de uma conversa aberta e franca sobre administração e política.
Rosalba enumerou obras e ações importantes de sua administração, como falou de problemas enfrentados desde o primeiro ano de governo, principalmente em áreas vitais como saúde e segurança. Disse que tem feito muito, porém, sem o alcance popular porque a comunicação não funcionou. “As notícias negativas tiveram mais espaços do que as positivas”, diz, creditando essa distorção ao pouco investimento feito em publicidade.
Na política, a governadora não escondeu a sua decepção com o senador José Agripino Maia, um parceiro político de 40 anos que lhe faltou no momento da decisão de ser ou não candidata à reeleição. “Ele tomou uma decisão ditatorial”, desabafa, ao lembrar da posição de Agripino de lhe negar a legenda Democratas para disputar as eleições deste ano.
Rosalba também deixa claro que torce pela reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), pela eleição da deputada Fátima Bezerra (PT) ao Senado e vota em Betinho Rosado Segundo para deputado federal.
GOVERNADORA, a senhora se sente frustrado por não ter tido a oportunidade de ser candidata à reeleição para defender o seu governo?
EU NÃO diria frustrada. Eu me sinto injustiçada. E, de certa forma, indignada. Eu sempre disse, tomada por esse espírito libertário de Mossoró, que só me dobraria às decisões de Deus e do povo. A minha vida pública sempre foi muito aberta, limpa, por isso, sempre recebi o julgamento do povo. As eleições, se eu não tivesse sido impedida de ser candidata, seriam a oportunidade de eu prestar contas do nosso governo, inclusive, esclarecer muita coisa que precisa ser dita, porque muitas vezes a gente sofre pela desinformação que alguns insistem em praticar. Essa era a oportunidade de pedir ao povo do Rio Grande do Norte que fizesse o devido julgamento, mas infelizmente não deixaram.
O FATO de ter sido o seu partido que lhe negou o direito constitucional e democrático à reeleição a deixa ainda mais indignada?
VEJA que ironia, um partido que se diz Democrata, dirigido por senador da República, preferiu fazer um acordo com adversários (PMDB do candidato a governador Henrique Alves) e me negou o direito de ser candidata. Era com esse direito, constitucional e democrático, que o povo de Mossoró e do Rio Grande do Norte iria fazer o julgamento devido.
A REUNIÃO organizada pelo senador José Agripino, para lhe negar o direito à reeleição, foi decisiva para impedir a sua candidatura?
AQUELA reunião estava toda preparada por ele (Agripino). Mas aproveitei a oportunidade para falar o que eles tinham que ouvir. Disse que me sentia humilhada pelo partido. Falei que tenho a consciência tranquila que fiz tudo que estava ao meu alcance, não envergonhei nem o partido nem o povo do RN, porque o meu governo é honesto, não tem escândalo, não tem corrupção. Podem até dizer que Rosalba não fez isso, Rosalba deixou de fazer aquilo, mas jamais vão colocar em dúvida a nossa honestidade. Nenhum potiguar pode dizer que eu usei o dinheiro público de forma errada. O que mais doeu foi o partido sequer me consultar para saber se eu queria ou não ser candidata à reeleição. A decisão do senador José Agripino foi imposta, foi ditatorial. E isso é muito grave para um partido que se diz democrata. Ele agiu como se estivéssemos numa ditadura.
FORAM 40 anos de parceria política iniciada com o governador Tarcísio Maia, pai de José Agripino. Parecia inseparável, devido à decisão, até aqui, de lado a lado. Por conhecer Agripino tão bem, essa posição dele, ditatorial, como a senhora mesmo falou, não foi uma grande surpresa?
EU fiquei arrasada. Foi uma coisa que eu jamais imaginei ser capaz de acontecer. Não esperava uma posição tão radical, principalmente vinda do senador que a gente conhecia tão bem. Veja que essa decisão de Agripino, usando o partido, para não permitir o direito constitucional da reeleição, foi a primeira vez que aconteceu no Brasil. Qual foi o governador que teve negado por seu partido o direito à reeleição? Só Rosalba. Qual o motivo? Qual o verdadeiro motivo? Agora é entregar a Deus e caminhar pra frente.
A SENHORA teve a oportunidade de mudar de partido, recebeu convites, mas preferiu ficar ao lado de José Agripino. A senhora se arrepende de ter tomado essa decisão?
NÃO. Fiz o que achava certo. Recebi vários convites, inclusive do PSD de Gilberto Kassab. Outros filiados do Democratas foram, como os Bornhausen (fundadores do DEM), a senadora Kátia Abreu, mas eu decidi ficar no partido, principalmente naquele momento em que o senador Agripino passava por dificuldades. Permaneci leal ao partido, não mudei. É engraçado que antes Agripino criticava quem fazia isso, inclusive, se sentiu traído por Wilma de Faria, que quando se elegeu governadora saiu de perto dele e se aliou a adversários. Agora, as coisas estão ficando mais claras e vejo que, desde o primeiro momento do nosso governo, eles estavam tramando isso, mas infelizmente eu não percebi, por isso, tive que passar por esse sofrimento.
O SENADOR José Agripino sempre levantou a bandeira da ética, honestidade e zelo com o bem público. Agora, está aliado à ex-governadora Wilma de Faria (PSB), que teve 10 grandes escândalos em oito anos de governo. O senador está mudado, governadora?
OLHA, o cidadão mais simples que eu tenho conversado tem feito determinadas observações que realmente a gente diz, o povo é sábio. Agora, ele é que tem que prestar contas com o povo. O povo lembra bem o que Agripino dizia de Wilma, quando mostrava os escândalos que aconteciam no governo dela e dizendo que não conviveria com a improbidade. Agora, de repente, tudo isso mudou?
ESSE tipo de comportamento faz a senhora perder a fé na política ou nos políticos?
EU digo que eu compreendo o sentimento das pessoas que estão cada vez mais descrentes com a classe política. É muito ruim quando um político muda a sua posição, muda a sua palavra. Isso o cidadão não aceita, eu também não aceito. O político precisa ser coerente, ter posição firme, não se permitindo dizer uma coisa agora e depois está se contradizendo. Tudo tem que ter lógica, tudo tem que ter equilíbrio, tudo tem que ter coerência. O país está precisando de políticos éticos, de homens que desejam servir e não serem servidos.
GOVERNADORA, a senhora disse há pouco que agora é seguir em frente. E qual é o seguir em frente da senhora?
EU sou uma cidadã, tenho uma profissão, adoro a minha cidade, então é continuar a vida. Eu não faço planos, deixo a vida me levar, como diz a canção. Estou mais experiente, o sofrimento também dá grandes lições. Então, vamos seguir em frente.
A SENHORA defende o voto na presidente Dilma (PT), na candidata ao Senado Fátima Bezerra (PT) e no candidato a deputado federal Betinho Rosado Segundo (PP). O que faz crê que eles são merecedores do voto?
OLHA, estive com a ministra Marta Suplicy em Mossoró. Conversamos rapidamente. Ela perguntou como as coisas estavam aqui e eu disse a ela que acreditava que o povo do Rio Grande do Norte está muito determinado em fazer a deputada Fátima senadora da República. É uma parlamentar que trabalhou muito pela educação. Em todo o Estado tem a marca do mandato de Fátima. Eu, como governadora, apesar de estarmos em partidos diferentes, sempre tive o apoio da deputada nos pleitos do nosso Estado. Ela esteve presente em todas as lutas. Então, merece o voto. Eu gostaria muito de vê-la senadora.
E A presidente Dilma?
No Rio Grande do Norte, a presidente Dilma é a favorita. Disse isso à ministra Marta Suplicy. Eu sou muito honesta em dizer: a presidenta sempre teve muita atenção aos pleitos do RN e nos tratou de forma republicana, sem se importar com a questão partidária. Dilma sempre teve uma atenção muito especial com os nossos pleitos. Na luta pela barragem de Oiticica, teve um episódio que marcou. A presidenta veio para uma reunião com todos os prefeitos, na Escola de Governo, e na preparação desta reunião, em Brasília, ficou certo que ela assinaria a ordem de serviço da obra. Na véspera da visita, fui informada pelo presidente da Câmara dos Deputados (Henrique Alves) que ela não daria a ordem de serviço porque a obra seria feita pelo Dnocs. Achei muito estranho. Então, quando a presidenta chegou, estávamos no carro oficial, e eu disse “presidenta eu vou dizer uma coisa e a senhora pode até me colocar pra fora do carro depois, mas se a senhora não assinar essa ordem de serviço hoje para que essa obra de Oiticica aconteça, que é esperada há um século e numa seca braba dessa é a redenção do povo do Seridó, era melhor que a senhora não tivesse vindo para a reunião.” Ela olhou pra mim, meio assustada, e disse: vou ligar agora pra Mirim (ministro Mirim Belchior). Ligou e falou para Mirim que iria dar a ordem de serviço. Quando chegamos à Escola de Governo, a ordem de serviço estava lá, pronta para ser assinada. Então, eu não posso esquecer isso. Dilma é merecedora do voto.
BETINHO Rosado Segundo, quais as convicções que a senhora tem que ele fará um bom mandato?
O DEPUTADO Betinho Rosado todo mundo já conhece. Taí a lei dos royalties, a questão tarifa verde da energia, o saneamento de Mossoró, que foi ele que arranjou uma emenda de 22 milhões de reais para começar a obra, e muitas outras ações. Betinho não é candidato à reeleição por uma insegurança jurídica. Por isso, lançou o seu filho Betinho Rosado Segundo. Eu voto nele com todo entusiasmo. É a renovação, é a nova esperança. Se eu não confiasse na sua capacidade, na sua competência, na sua disposição de trabalho, eu não sairia dizendo que voto nele. Olha, Mossoró e o Rio Grande do Norte não podem perder a capacidade de luta de Betinho em Brasília. É de fundamental importância. Por isso, o meu voto.
FICOU aberta a opção para o Governo do Estado. Tem cinco candidatos, em qual quadrinho a senhora marcará o “X”?
Meu voto, até o momento, é nulo.
Fonte: De Fato