quarta-feira, 9 de junho de 2010

MUNDIAL DA ÁFRICA

fernando maia/agência o globo


BONS PROBLEMAS PARA A SELEÇÃO BRASILEIRA

NOTÍCIAS

“Tribuna do Norte”

Johannesburgo (AG) - Na entrevista coletiva após a vitória de 5 a 1 sobre a Tanzânia, ontem, em Dar es Salaam, Dunga fez um esforço tremendo para não demonstrar a sua satisfação com a atuação da equipe na segunda etapa. Talvez não quisesse deixar transparecer que ficara realmente empolgado com as entradas de Ramires e Daniel Alves nos lugares de Felipe Melo e Elano. Mas ao longo da entrevista, admitiu, pela primeira vez, que pode começar uma partida com algumas alterações na equipe que é considerada a titular.

Volante reconhecido pela habilidade e capacidade de sair com a bola, Ramires pode ganhar vagaMas que ninguém espere mudanças já para o jogo de estreia, dia 15 de junho, contra a Coréia do Norte. Para a primeira partida, Dunga deverá manter a equipe que vem treinando como titular, apesar de a formação — Júlio César, Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos; Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano e Kaká; Robinho e Luís Fabiano — jamais ter começado um jogo.

Não é de hoje que Dunga vem ensaiando a entrada de Daniel Alves no lugar de Elano. A primeira vez que testou a troca foi na final da Copa América de 2007, contra a Argentina. E o resultado superou as expectativas. Elano se contundiu logo no início e o treinador surpreendeu ao lançar o lateral do Barcelona como meia.

Daniel Alves jogou muito bem. Fez a jogada do segundo gol, de Ayala, contra, e fechou a goleada de 3 a 0, com um chute cruzado na segunda etapa.

Depois disso, sempre que lançou o lateral como meia, o resultado foi excelente. Jogando mais avançado, Daniel Alves foi um dos destaques da vitória de 4 a 2 sobre o Chile, em Salvador, pelas eliminatórias. O baiano de Juazeiro voltou a se destacar quando substituiu Ramires na partida contra a Irlanda, em Londres, em fevereiro deste ano. Portanto, o que se viu em Dar es Salaam não foi surpresa para ninguém, muito menos para Dunga.

— Estou sempre pronto para entrar e sei que o Dunga está me observando. Mas a qualidade do grupo é grande. O importante é que cada um contribua para que esse grupo seja vencedor — disse o lateral, que tem procurando ser o mais político possível em sua declarações.

Sempre que Daniel Alves entra no meio, Maicon acaba subindo de produção. Juntos, os dois preenchem o lado direito do ataque e se revezam nas idas à linha de fundo, Foi assim que surgiu o quarto gol do Brasil contra a Tanzânia, marcado por Kaká, de peito.

Mas a grande surpresa propiciada por Dunga na última segunda foi a entrada de Ramires no lugar de Felipe Melo. O ex-jogador do Cruzeiro jamais fora escalado como volante na seleção. Sempre atuou como terceiro homem, no lugar de Elano. Além disso, normalmente o treinador trocaria Felipe Melo por Kléberson, teoricamente seu reserva imediato. Contra a Tanzânia, Ramires teve atuação destacada, como, aliás, há muito não tinha na seleção. Vindo de trás, o jogador fez dois gols, seus primeiros com a camisa da seleção.

A possibilidade de Ramires ganhar a vaga de Felipe Melo ainda na primeira fase não pode ser descartada. Além de deixar o time mais veloz, Ramires tem outro trunfo: os cartões amarelos que Felipe Melo recebe com constância. Nos dois amistoso realizados antes da estreia, contra Zimbábue e Tanzânia, o volante recebeu dois cartões amarelos. Se fosse Copa do Mundo, já estaria suspenso para o terceiro jogo.

A partir de amanhã, a seleção entra na reta final da preparação para a estreia na Copa. Os treinos vão diminuir de duração e aumentar em intensidade,

— É hora de aumentar a velocidade da equipe — explicou Dunga.

Ameaça norte-coreana

Johannesburgo (AG) - No sonho mais lindo de Jong Tae Se, a seleção de Dunga vai protagonizar um filme de terror no próximo dia 15, no Estádio Ellis Park, em Johannesburgo. Isso, claro, com o atacante, de 26 anos, cumprindo a promessa de marcar um gol por jogo na África do Sul. Foi com previsões nada modestas que o camisa 9 da Coreia do Norte, primeiro adversário do Brasil na Copa do Mundo, quebrou ontem um antipático isolamento da delegação asiática que já durava oito dias. Tae Se acredita em milagres, mas acha que o talento com a bola nos pés não é o mais importante para alcançá-lo.

“Eu acredito que podemos ganhar do Brasil. Será um jogo difícil. Mas somos uma equipe de grande espírito e coração bravo. E quem tem coração bravo pode alcançar milagres”, afirmou ele, apelidado de “Wayne Rooney asiático”.

Durante os seis minutos da coletiva que deveria durar 15, Tae Se parecia viver um universo paralelo. Num momento em que o regime autoritário de Pyongyang é alvo de pesadas críticas da comunidade internacional por afundar um navio sul-coreano e matar 46 pessoas, o jogador acredita que a nova geração dos ‘Cholima’, ou Cavalos Alados, fará em campo o que parece cada vez mais distante por meios diplomáticos. “Queremos mudar a imagem da Coreia do Norte. Muitas pessoas falam, mas não conhecem o nosso país. Política e esporte são coisas bem diferentes”, afirmou.

De volta à vida real, o cenário é bem diferente. O isolamento dos norte-coreanos na África do Sul vem gerando mal-estar com a população das áreas vizinhas ao Makhulong Stadium, que até o momento não tiveram acesso aos treinos da equipe. As restrições ao trabalho da imprensa também são grandes. Mas Tae Se foi socorrido pelo chefe de imprensa da Coreia do Norte, Kim Myong Chol, ao ser questionado se achava que o isolamento não contribuía para essa imagem ruim.

“Estamos isolados por questão de segurança dos jogadores”, limitou-se a dizer Myong Chol.

Protegidos por uma escolta policial que já chegou a 11 veículos, os norte-coreanos estarão expostos aos ataques de três fortíssimas equipes no Grupo G. Em seu otimismo sem fronteiras, Tae-Se discorda do termo “grupo da morte’. Em vez de susto, ele fala em realização pessoal.

“Quando ouço falarem sobre Grupo da Morte, fico surpreso. Estou confiante e muito feliz de poder enfrentar jogadores como Kaká, Robinho e Cristiano Ronaldo e Drogba, que eu só via pela TV. São referências para mim”.

Na lateral do ônibus da delegação, a inscrição ‘1966 de novo’ não deixa dúvidas sobre a expectativa de que a equipe de Kim Jong-Hun repita o feito da seleção que derrotou a Itália por 1 a 0, na Copa da Inglaterra.

“Cresci ouvindo falar em 1966. E quero que nosso time possa trazer novas surpresas à Copa do Mundo de novo. Nosso time tem a mentalidade de jogo alemã”, afirmou Tae Se, que atua no Kawasaki Frontale, do Japão, onde convive com jogadores brasileiros. “Sei muito do Brasil pelas conversas com eles. Mas tem um deles que não gosta do Dunga, porque deixou o Ronaldinho e o Adriano de fora”.


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