Por Arthur Stabile - Colaboração para o UOL, em São Paulo
No início, o novo coronavírus tinha nos idosos acima de 60 anos o grupo mais vulnerável à doença. Um ano depois do início da pandemia, agora é a vez dos mais jovens serem afetados mais duramente. A explicação está na evolução do vírus, mais agressivo e transmissível do que antes.
Especialistas ouvidos pelo UOL detalham como a falta de combate real à proliferação da covid-19 pelo país fez com que a doença ganhasse força. Não apenas em seu formato inicial, mas —e principalmente— pela nova cepa originária do Amazonas.
Na sexta, o Brasil registrou 1.760 pessoas pela pandemia em 24 horas e fechou a semana com recorde de óbitos. Nos estados, sete somaram mais de cem mortes em um único dia:
- SP (370)
- MG (172)
- RJ (141)
- RS (167)
- PR (107)
- SC (107)
- BA (102)
Ao todo, são 262.948 vítimas da covid-19 em território brasileiro, além da contaminação de 10,8 milhões de pessoas.
Rodrigo Molina, médico consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), explica que as variantes tornam o vírus mais potente. Assim, afetam também populações antes consideradas protegidas de contaminação ou da mortalidade, caso infectadas, como jovens e adultos entre 18 e 50 anos sem comorbidades.
"Os mais jovens estão circulando mais, quebrando as quarentenas e todas as medidas de segurança que orientamos. Com a cepa evoluída, uma pessoa transmite para muito mais gente. Por isso jovens são a população mais exposta agora", analisa.
Ainda não há estudos suficientes para apontar maior mortalidade causada pela cepa brasileira, como explica Sérgio Cimerman. Médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e diretor científico da SBI, ele alerta como a maior transmissão impacta o sistema de saúde.
"Observamos que o tempo de internação na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) está mais estendido. Claro, as UTIs são diferentes no sistema público e privado, mas há um aumento de quatro a cinco dias na necessidade [de tratamento intensivo] do que no passado", explica.
Cimerman reconhece a internação de jovens em estados de saúde mais graves do que acontecia na primeira leva da pandemia. No entanto, faltam explicações do porquê disso acontece.
"Há diferença de um ano para cá, mas ainda não sabemos o que é. [A cepa] É mais transmissível, então está pegando todo mundo. Não se tem uma explicação específica para a maior gravidade [nos casos]", diz.
Além do tempo, a cepa alterou como os doentes mais graves são tratados. Mudou o foco de respiradores para cilindros de oxigênio, alteração justificada pela idade dos infectados.
"Os pacientes mais jovens ainda têm uma reserva funcional, não evoluem para insuficiência respiratória que precisa de ventilação mecânica, mas têm alta demanda por oxigênio. É um tratamento sem o aparelho respirador, mas que precisa de oxigênio", afirma Molina.
Os dois colapsos no sistema de saúde do estado transformaram o novo coronavírus em uma doença mais forte. Resistente, o vírus ganhou potência na transmissão. Estudiosos da proliferação da covid-19 detalham que é preciso aumentar os cuidado na proteção, para além do tratamento diferente com os novos doentes graves.
Vitor Mori, engenheiro biomédico e integrante do Observatório Covid-19 Brasil, reconhece termos adotado um sistema não tão eficiente para evitar a proliferação quando colocamos as máscaras de pano como prioridade para o coronavírus em março de 2020.
"No inicio da pandemia havia escassez e as máscaras de pano foram um importante plano B. Mas, em paralelo, deveria ter sido investido no aumento da produção e da distribuição de PFF2 (máscara profissional) para toda a população", justifica.
A PFF2, máscara usada em reformas, evita que partículas entrem ou saiam da parede protetora do item, como detalha Mori. Se era o modelo ideal para a primeira leva do vírus, é ainda mais quando há um vírus mais potente.
"Tratamos essa pandemia como uma pandemia de Influenza (vírus de gripes, como H1N1) e não nos atentamos às diferenças, como o superespalhamento compatível com o de outras doenças que se transmitem pelo ar."
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