Ministério da Justiça não informou quantos detentos ficarão na cidade potiguar. Forte esquema de segurança foi montado.
Da redação
Por G1 RN
Pouco depois das 21h30 desta quarta-feira (13), dois helicópteros que fizeram a transferência dos presos de uma facção criminosa para presídios federais chegaram a Mossoró (RN). O Ministério da Justiça não informou quantos presos ficarão na cidade potiguar.
Um forte esquema de segurança foi montado para a transferência. Oitocentos militares do Exército brasileiro realizaram a operação de segurança para levar os detentos à Penitenciária Federal de Mossoró.
Os presos transferidos estavam em Presidente Venceslau e em Presidente Bernardes, no interior de São Paulo. Eles foram distribuídos em presídios federais de Brasília, Mossoró e Porto Velho.
O prazo de permanência nos presídios federais é de 360 dias. Nos primeiros 60 dias, os integrantes da facção ficarão no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).
Cada presídio tem 12 celas para abrigar presos em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Elas têm 12m² e o preso passa o dia todo trancado. Só sai para atendimento médico, audiência com juiz ou advogado. Não tem direito a banho de sol.
A transferência de integrantes do PCC ocorre após o governo de São Paulo ter descoberto um plano de fuga para os chefes e ameaças de morte ao promotor que combate a facção no interior de São Paulo. A facção atua dentro e fora dos presídios brasileiros e internacionalmente.
Na edição do Diário Oficial da União desta quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) assinou decreto autorizando a presença das Forças Armadas em um raio de 10 kms dos presídios de Porto Velho (Rondônia) e de Mossoró (Rio Grande do Norte). Também nesta quarta, o governo federal publicou uma portaria com regras mais rigorosas para visitas a presos em presídios federais de segurança máxima. A portaria é assinada pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirma que “a operação é a primeira ação realizada com a participação da Secretaria de Operações Integradas (SEOPI) criada na atual estrutura do Ministério da Justiça e Segurança Pública”.
“Os presos, líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), custodiados em São Paulo, estão sendo transferidos com a escolta do Departamento Penitenciário Federal (Depen) e da Polícia Militar de São Paulo para as penitenciárias federais. O isolamento de lideranças é estratégia necessária para o enfrentamento e o desmantelamento de organizações criminosas. O trabalho integrado conta com a atuação da Polícia Militar, Polícia Civil e Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, Força Aérea Brasileira (FAB), Exército Brasileiro, Coordenação de Aviação Operacional e Comando de Operações Táticas da Polícia Federal, além da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O trabalho também envolve ações de inteligência em conjunto com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A transferência ocorre em cumprimento à decisão da Justiça do Estado de São Paulo após pedido do Ministério Público de São Paulo”, diz o texto.
Presídios Federais
As cinco penitenciárias federais brasileiras Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Mossoró (RN), Porto Velho (RO) e Brasília, recém-inaugurada, nunca registraram fugas ou rebeliões e nem há superlotação. A taxa de ocupação é de 59%, bem menor que na maioria dos presídios do país. As vagas são reservadas para presos, de acordo com o grau de periculosidade e com a liderança na facção criminosa.
Motivos da transferência
Dentre os 22, sete tiveram a transferência definida no ano passado por causa do envolvimento em crimes descobertos na Operação Echelon, como ataques a agentes públicos e assassinatos de rivais.
Na decisão de novembro, o juiz Paulo Sorci, da 5ª Vara das Execuções Criminais de São Paulo, diz que “essas considerações revelam o perfil de alta e incomum periculosidade do detento, situação peculiar que determina a sua remoção para unidade prisional especial, já que inviável sua permanência em presídio comum da rede estadual. Em conclusão, mostra-se imprescindível a inclusão e transferência do requerido para unidade de segurança máxima federal”.
Em junho de 2018, a operação Echelon prendeu 63 integrantes em 14 estados. As investigações começaram a partir de trechos de manuscritos encontrados nos esgotos do presídio. A Polícia Civil identificou sete chefes e confirmou a existência da célula "sintonia de outros estados e países".
Os criminosos teriam assumido as funções da "sintonia" quando os chefes da organização criminosa ficaram isolados no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), em 2016, em decorrência da operação Ethos, que revelou esquema envolvendo advogados da facção.
Os sete presos estavam no RDD, previsto na Lei de Execuções Penais, que é uma forma especial de cumprimento da pena em regime fechado em que o preso fica em cela individual e com limitação a horário de banho de sol e de direito à visita. O regime pode ser aplicado como punição disciplinar, por exemplo, a presos que cometam infrações graves ou que representem perigo à desordem interna, ou como medida de isolamento de detentos perigosos, considerados de risco à segurança pública ou à sociedade, como chefes de organizações criminosas.
Marcola e outros 14 integrantes estão sendo transferidos por causa de um plano de fuga frustrado para o resgate dele e de parte da cúpula.
Plano de fuga
O plano de fuga citado pelo Ministério Público como uma das justificativas para a transferência, nesta quarta-feira (13), de 15 dos 22 integrantes de uma facção criminosa para presídios federais implicou gastos de "dezenas de milhões de dólares", de acordo com a representação apresentada à Justiça. O valor foi investido em "logística, compra de veículos blindados, aeronaves, material bélico, armamento de guerra e treinamento de pessoal", descreve o órgão.
A partir da descoberta do plano, o governo reforçou a segurança em torno dos presídios na região oeste do estado com policiais das principais tropas de elite das Polícias Civil e Militar e do grupamento aéreo. Homens da Tropa de Choque receberam treinamento para usar fuzis ponto 50. Mesmo com segurança reforçada, as câmeras de segurança flagraram drones do crime organizado sobrevoando a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
De acordo com o MP, o plano foi identificado pelo Núcleo de Inteligência da Coordenadoria Regional das Unidades Prisionais do Oeste Paulista (Croeste). O serviço de inteligência de polícias da região também apontou detalhes da ação descrita como "cinematográfica". Os presos estavam na Penitenciária 2, em Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.
O documento lista que o plano de fuga previa o uso de:
- helicópteros e aviões;
- lança foguetes, granadas e explosivos de alto poder de destruição;
- grupos formados por "grande número de homens" treinados em fazendas na Bolívia, "originários de várias nacionalidades", incluindo soldados "com expertise no manuseio de armamento pesado e explosivos";
- veículos blindados, como SUVs e caminhonetes;
- fuzis calibre .50.
Em um dos trechos, o MP detalha o poderio do grupo para o resgate:
“Relatos da inteligência, das polícias da região, o grupo arregimentado por [integrante da facção], seria formado por grande número de homens que estão sendo treinados nas fazendas dele na Bolívia, os quais seriam originários de várias nacionalidades, inclusive soldados africanos com expertise no manuseio de armamento pesado e explosivos, divididos em várias células com funções específicas e compartimentadas, as quais contariam também com criminosos que teriam participado de grandes ações contra empresas de valores e resgates de presos, ações essas que tiveram êxito em neutralizar a polícia militar do local até que os criminosos concretizassem seu intento”.
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