sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

LUTO: morre aos 100 anos um dos maiores repentistas do Nordeste – VEJA VÍDEO

Da redação com Polêmica Paraíba
por: Suedna Lima

Morreu na noite desta quinta-feira (31), aos 100 anos de idade um dos maiores repentistas do Nordeste, João Batista Bernardo, conhecido como João Furiba, que nasceu em 04 de julho de 1922, em Taquaritinga do Norte-PE e viveu boa parte da vida em Sumé, no Cariri Paraibano, e atualmente estaria morando em Triunfo-PB.

O artista que era um dos maiores nomes da viola, teve dez casamentos e 20 filhos, e faleceu no hospital regional de Cajazeiras.


João começou a se interessar pela cantoria ainda criança decorando versos que achava bonitos. Pedia sempre ao pai para convidar cantadores para irem cantar em sua casa. Aos 12 anos de idade fez dupla com o irmão Vicente e com ele passou a se apresentar em cidades e vilas da região de Taquaritinga do Norte. Aos 15 anos foi para Campina Grande onde fez sucesso cantando ao lado de cantadores como Canhotinho, Josué da Cruz, José Alves Sobrinho, Manoel Raimundo de Barros, Manoel Soares, e outros. Em 1978, participou em Campina Grande, Paraíba, do V Congresso Nacional de Violeiros no qual cantou dois desafios com João Bandeira: “Amor de mulher casada é bom mas é perigoso” e “Morre cego sem ter prazer na vida quem não viu uma festa no sertão”. Esses desafios foram lançados em disco pelo selo Marcus Pereira em 1980, no LP “Violas e repentes – 2 – V Congresso Nacional de Violeiros”, gravado ao vivo. Em 2006, participou do 5º Concane – Congresso de Cantadores do Nordetse, realizado na cidade de Recife, Pernambuco. Ao longo da carreira participou de inúmeros congressos e recebeu mais de 30 troféus em festivais de violeiros tendo obtido o primeiro lugar em 13 deles.
Alguns versos de João Furiba:
Certa vez, cantando com Manuel Laurindo que terminou uma estrofe afirmando sua admiração pelo “o tigre da mão chata”. Furiba sapecou essa imortal sextilha, peça obrigatória no arquivo das obras geniais.

“Eu admiro é a barata
Saber voar e correr,
Chega na lata de açúcar
Bate um baião pra comer,
O que come é muito pouco,
Mas bota o resto a perder.”

Furiba duelava com o famoso e imbatível Lourival Batista que aproveitou da ocasião para criticá-lo em virtude de se fazer acompanhar da esposa e terminou uma estrofe: “Não gosto de homem que anda / Com a mulher por toda rua.”.

Furiba mostra sua genialidade, improvisando essa obra de arte:

“Pra não fazer como a tua
Que fica em casa sozinha,
Entra homem pela sala,
Sai homem pela cozinha,

Eu como sou desconfiado
Pra onde vou, levo a minha.”.

Numa peleja com Pinto do Monteiro, Furiba, deixando de lado a mentira, falou que havia casado mesmo. Pinto não perdeu tempo e improvisou:

“Sei que sua esposa é
Honesta, educada e forte,
Talvez seja a mais bonita
Da Paraíba do Norte,
Eita Furiba feliz,
Ô moça pra não ter sorte!”.

Como surgiu a fama de João Mentira? Moacir Laurentino cantou diversas vezes com João Furiba. Nos festivais de Teresina Moacir fazia a plateia delirar com as interrogações de Laurentino e as respostas de João Mentira. Moacir interroga: “Me responda como vai / Na criação de caprinos.”.

Furiba sapecou a resposta:

“Tenho quinhentos meninos
Morando em minha choupana,
Tratando da criação
Com capim de gitirana,
Tem cabra que está parindo
Duas vezes por semana.”.

Crônica de Ricardo Anísio sobre João Furiba:
Ah, se fora somente um Furiba… Mas é um Furiba valente, que desafia a morte e estica a corda da vida. Um João, que não é um mero João, mas é um João homérico. É um Furiba poeta, é um João Furiba de ouro e de mel.

Simplesmente um João? Qual nada. Um João como o Furiba é baú de sonhos, terreiro de alegrias. Um João que namora a vida, um João que desdenha da morte. Pode até lhe parecer um Davi peitando Golias. E é mesmo. É um lutador de viola na mão.

Navegador dos açudes rachados, um carpinteiro de versos que nasceu para voar. Tão leve que o vento leva, é esse o João que a gente quer. Um João de ouro, um João de Prata. Um João que combina com a morte, para poder namorar mais a vida. João das purezas, João dos luares. O João que se adjetiva, um João que se doura.
Esse é nosso João Furiba, furibando a solidão. Ah, se houvessem mais Furibas. Ah, se fosse fácil sê-lo. Mas num é não, seu moço.

Ser João Furiba não é para qualquer um. Porque a pureza e a alegria não se vendem nem se compram. Fiquem sabendo que anjos como João e anjos como Furiba; quando sobem é Deus quem manda. Porque Deus né bobo não. E Deus quer ter Furiba cantando sua canção, nos alpendres do Paraíso, onde a bondade deu o braço pra coragem, e se assentou no coração.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba

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