terça-feira, 24 de agosto de 2021

O doce da rapadura, alfinin e do mel orgânico de Coronel João Pessoa-RN

Coronel João Pessoa fica localizado geograficamente numa região de vale, cercado por montanhas, com solo fértil e água abundante no subsolo; São mais de dez engenhos e dezenas de produtores de cana sem agrotóxico, que neste período do ano mobilizam centenas de trabalhadores e mestres de engenhos na colheita, transporte e processamento da cana, de açúcar

Da redação com Mossoró Hoje
Por Cezar Alves


O município de Coronel João Pessoa, de mais ou menos cinco mil habitantes, se transforma, neste período do ano, na capital da rapadura, mel e alfinim no Oeste do Rio Grande do Norte.

E não é qualquer derivado da cana de açúcar que os moradores da região dominam a técnica de produção há décadas. Trata-se de cana de açúcar orgânica e o processamento é artesanal.

A informação é do secretário Municipal de Agricultura, João Bosco, que acompanhou a reportagem do MH.

João Bosco explicou que a produção da cana de cana de açúcar, diferentemente de outros tipos de cultivos, não se começa no início do inverno e sim no final do período chuvoso.


Ele falou que os sucos cavados no solo argiloso recebem os troncos de cana para reprodução e logo em seguida água, que existe em abundância e de ótima qualidade no Vale de Coronel João Pessoa.

Não se pode plantar cana no início do inverno, por que a região alaga e impediriam o crescimento das mudas. Plantando no fim do inverno, regando, no início do inverno do ano seguinte, a canavial já está no tamanho que suporta receber uma carga de água maior.

Do plantar a colheita, que é feita de forma braçal por dezenas de trabalhadores, com o corte no facão, são 12 meses. Uma vez colhida, é colocada em tratores e levados ao engenho.

Existe vários engenhos em funcionamento no município, segundo a prefeita Fátima Alves, todos de forma artesanal e moendo cana produzida sem agrotóxico. A produção sem agrotóxico é uma política pública municipal abraçada pelos produtores, por entender que o produto terá valor agregado na comercialização.

A prefeita acompanhou a reportagem em visita ao engenheiro de Francisco Viana de Sousa. Os dois explicaram como funciona o processo de produção de rapadura, mel e alfinin artesanal.

Quando a cana é desembarcada na bagaceira que fica lado da casa do engenho, passa por um processo de retirada da palha e, em seguida, é colocada ao lado da moenda.

Chico Viana explicou que o trabalho na moagem começa de 2 horas da madruga. O Almoço da rapaziada é de 9 horas da manhã. É preparado no local pelas mulheres da comunidade.

No meio da tarde, tem outra refeição reforçada. A turma dorme cedo, para de 2 horas da madrugada do dia seguinte já está no batente, cortando, transportando e processando a cana.

O engenho mói a cana, produzindo o que eles chamam de garapa ou caldo de cana. É muito apreciado. O bagaço da cana moída é colocado para secar no pátio ao lado ao engenho.

O passo seguinte é usar o próprio bagaço da cana, já seco, para alimentar o fogo da fornalha, que aquece os tachos com o caldo da cana numa temperatura incrível.

Neste momento, entra em cena o primeiro especialista no processo artesanal da produção de rapadura, mel e alfinin: o mestre caldeireiro. Este operador ainda não é o mestre do engenho.

Ele ferve o caldo da cana até um ponto específico, que poucos conhecem, retira o que eles classificam como (tiborna), descarta ou destina para o consumo animal da região.

O mestre caldeireiro transfere o restante para segundo tacho, onde ele adiciona cal (faz o tempero) na quantidade certa. Depois o mel é transferido para o terceiro tacho.

Do terceiro, quarto e quinto tachos, o mel é apurado, fervido até atingir uma certa viscosidade. "Deste momento em diante, já está pronto para o consumo", explica Chico Viana.

O mel é vendido para comerciantes dos estados da Paraíba e também do Ceará. No Ceará, é conhecido pela qualidade e também por ser orgânico e produzido artesanalmente.

O mel que continua fervendo nos tachos é transferido para o tacho final (móvel), onde passa a receber atenção do mestre principal do engenho, Seu Gecir. É ele que dá o ponto final no momento exato.


Neste vídeo acima, o Mestre Gecir explica, inicialmente, que existe batida e existe rapadura. São duas coisas distintas. A batida é feita com o mel apurado um pouco antes do que é destinado para fazer a rapadura tradicional.

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