Fernando Domingo
Repórter
Em meio à desvalorização do real em relação ao dólar, da crise política-econômica brasileira e de um futuro de incertezas, uma atividade importante para o RN deve sair fortalecida deste ano: o turismo. A expectativa é que o segmento tenha 90% de ocupação na alta temporada, com lotação máxima no mês de janeiro. A boa fase em 2015 incluiu também a instalação de dois grandes empreendimentos – Holiday Inn Natal e Comfort Hotel & Suítes – com investimentos superiores a R$ 35 milhões e cerca de 800 novos leitos, elevando para 29 mil o total em Natal. A expansão é de 38% em relação à 2011, quando havia 21 mil – dado mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Ana SilvaÁrea de lazer em hotel: Taxa de ocupação no setor cresce, mas é preciso avançar, diz ABIH/RN
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“Se esta ocupação no litoral potiguar nestes três meses ocorrer, entre dezembro, janeiro e fevereiro, vamos ter uma movimentação financeira de R$ 1,5 bilhão. Isto, considerando apenas o turista que se hospeda na rede hoteleira”, destacou o secretário de turismo do Estado, Ruy Gaspar. Otimismo compartilhado pelo titular da pasta na Prefeitura de Natal, Fred Queiroz. “Será a mais alta temporada dos últimos tempos. O ano foi muito bom, vimos resultados em todos os feriados”, comentou.
Para José Odécio Júnior, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Estado (ABIH-RN), as expectativas para o período são fruto de um trabalho desenvolvido ao longo do ano. “Nós retomamos um contato que havíamos perdido nos últimos anos, de uma participação mais ativa no setor em vários eventos de turismo e contamos com o apoio dos Governos e da iniciativa privada em aspectos importantes da cadeia econômica, como um maior diálogo com as operadores e companhias aéreas”, declarou.
O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, destaca que o turismo de sol e praia é a principal motivação dos que viajam pelo Brasil e que, diante desse cenário, há a oportunidade de consolidar o Rio Grande do Norte como destino referência do Nordeste. “Para potencializar ainda mais o turismo em nosso estado, anunciamos recentemente R$ 4,5 milhões para obras de infraestrutura turística em 27 municípios do estado. Além disso, o aeroporto Governador Aluízio Alves tem sido essencial para impulsionar o fluxo de visitantes que chegam aos nossos destinos”, frisou, acrescentando que é preciso aproveitar a imagem projetada na Copa do Mundo em 2014 - quando 98,1% dos visitantes estrangeiros aprovaram a hospitalidade dos potiguares - para avançar em políticas de incentivo ao setor.
Ânimo
De acordo com o presidente da ABIH-RN, nos últimos anos, a hotelaria potiguar sofreu com a competitividade de outros Estados do Nordeste e a queda de turistas em Natal, mas pode ser fortalecida. “No turismo, você planta hoje para colher amanhã, então, o importante é reabrir canais que estavam fechados. Divulgação é investimento”, afirmou. Ele destacou os voos diretos entre Natal/Portugal (TAP) e Natal/Buenos Aires (Gol), que está com lotação garantida até março de 2016, como importantes, inclusive para uma possível retomada de investimentos estrangeiros.
Tais possibilidades de investimentos e um cenário favorável ao turismo nordestino, pela alta do dólar, são ressaltadas pelo professor de economia e doutor em Ciências Sociais, William Nunes Pereira. “No curto prazo, teremos um quadro muito benéfico para o setor no Rio Grande do Norte, pois tínhamos uma vazão muito grande de visitantes em virtude das viagens para o exterior, que impactava também na balança comercial, pelo dólar favorável. Neste ano, isto caiu e favoreceu o Nordeste, pela estrutura e beleza natural que possui”, analisou.
O quadro também modifica apostas na hotelaria. É o caso do Comfort Hotel & Suítes, que iniciou operações nesta semana e tem um interesse maior pelo cliente corporativo, mas, que vai aproveitar o bom momento do turismo de lazer. “Já estamos com alta ocupação para o réveillon, com perspectiva de chegar aos 100%. Temos essa opção de apostar neste público”, disse Talita Cortes, gerente geral do empreendimento.
Bate-papo
Leilianne Barreto
Especialista em turismo e administração e professora do Departamento de Turismo da UFRN
Tivemos dois grande empreendimentos instalados em Natal neste ano. O que justifica esse interesse?
Os investimentos tiveram reflexos da Copa do Mundo, que trouxe uma visibilidade maior à cidade, com o evento, e que possibilitou captar esse público do turismo de evento. E, nisso colocamos também as adaptações no Centro de Convenções. Em geral, perdemos para o Ceará e Pernambuco neste quesito, mas, temos um parque hoteleiro estratégico, com grande potencial, além das belezas naturais.
Qual a tendência para o fechamento do ano e o quadro econômico do setor?
Não sei se teremos um crescimento. Vai ter mercado. O público sempre tem. Mas, ganho real é difícil. Não sabemos se há turistas brasileiros e estrangeiros para fazer com que nosso segmento cresça. O cenário global, além do nacional, é de crise. E, o turismo é uma atividade “supérflua”. Haverá uma melhora, mas, não vai ser a salvação da colheita. Vai melhorar a partir do momento que esta demanda se estabilizar novamente.
Até que ponto o turismo e a atividade hoteleira pode contribuir para a economia potiguar?
Pode melhorar um pouco o cenário, em relação à 2014. Mas, estruturar tudo, não. O Estado precisa passar por alguns investimentos. As vezes, ficamos pensando que basta uma publicidade ali ou aqui, que a economia melhoraria sozinha com o turismo. Mas, não temos inovado. E isto é importante. Temos ótimos equipamentos, em quantidade, gastronomia também, mas, falta diversificação dos atrativos.
Por qual motivo?
Se compararmos com opções do Sul do país, por exemplo. As cidades de Gramado e Canela, não tem baixa estação, não sentem a crise, porque são destinos que sofrem renovações constantes. O turista é instigado a voltar, pois, sempre há produtos novos. Aqui, o visitante gosta e volta, mas, as ofertas são sempre as mesmas. Esse é o nosso principal gargalo”.
O que poderia ser feito? E de que forma?
O poder público e a iniciativa privada precisam ter um outro olhar sobre o turismo potiguar. Os empresários, os gestores, têm que colaborar para a criação de novos produtos, não apenas construírem novos hotéis. Um parque temático, por exemplo, seria algo diferenciado. Você tem noite, chuva, não apenas sol e mar. O nosso pólo turístico, na prática, é muito pequeno. Não há interação entre os municípios, são ações isoladas de agências e operadoras.
Fonte: Tribuna do Norte
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