POR EDSON SARDINHA
A presidente afastada Dilma Rousseff precisa do apoio de pelo menos 28 senadores para escapar da cassação e retornar ao mandato ao final do julgamento desta quarta-feira (31). Nem todos precisam votar nela. As ausências também contam a favor da petista. Cabe aos seus adversários reunir, entre os 81 parlamentares, o mínimo de 54 votos exigidos para a cassação do mandato presidencial. Os neogovernistas dão como certa a aprovação do impeachment. Até aliados da presidente afastada admitem que são remotas as chances de reversão do quadro. Um cenário completamente diferente do que marcou o início do segundo mandato da petista.
Em menos de dois anos, Dilma viu sua base aliada se esfarelar no Senado. Dos nove partidos que apoiaram a sua reeleição, apenas três continuam fieis à presidente afastada: o próprio PT, o PCdoB e o PDT. As legendas que defenderam voto em Dilma e Michel Temer (PMDB) somavam 53 senadores no início do segundo mandato. Ou seja, dois em cada três parlamentares. Entre eles, 18 peemedebistas e 14 petistas.
Hoje o PMDB ocupa 19 cadeiras. Mas apenas a ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu (TO) e o paranaense Roberto Requião resistem no apoio a Dilma. Os aliados da presidente afastada ainda tentam convencer peemedebistas que têm evitado declarar voto, como o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA) e o senador João Alberto (PMDB-MA), seu aliado.
Na outra ponta, ao menos três senadores que não participaram da aliança com Dilma se posicionam frontalmente contra o impeachment: Lídice da Mata (PSB-BA), João Alberto Capiberibe (PSB-AP) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A opção do único senador da Rede contraria a posição da fundadora do partido, a ex-candidata ao Planalto e Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do primeiro governo Lula, ex-senadora e militante histórica do PT.
Cálculo político
Na véspera de seu julgamento final, a presidente afastada tem a certeza dos dez votos do PT, dos dois do PSB, dois do PTB, de outros dois do PMDB e um do PCdoB, um do PDT, um do PSD e um da Rede. Ou seja, ao menos 20 votos são dados como certos. O PDT, que ainda apoia Dilma, está dividido. Adversário do PT no Rio Grande do Sul, Lasier Martins (PDT-RS) já confirmou que votará pelo afastamento da petista. Restam as investidas sobre Acir Gurgacz (RO) e Telmário Mota (RR) – este deve votar em defesa da petista. Acir apoiou o afastamento da presidente em maio, mas não confirmou como votará desta vez. Nos últimos dias, aliados da presidente afastada também tentaram o apoio de Roberto Rocha (PSB-MA) e Wellington Fagundes (PR-MT). Rocha, porém, também foi recebido por Michel Temer. A bancada maranhense se reuniu ontem à noite para discutir um voto conjunto.
Entre os sete senadores do PP, a única esperança dos petistas é Roberto Muniz (BA), que se declara indeciso. Suplente do ex-petista Walter Pinheiro (BA), Muniz é do mesmo partido de João Leão (PP), vice-governador do governador baiano, o petista Rui Costa (PT), e ainda não declarou como votará. Vice do ex-governador Jaques Wagner (PT), Otto Alencar (PSD-BA) votará contra o afastamento em definitivo de Dilma.
Já entre os três petebistas, dois votos devem ser dados em favor da petista: Armando Monteiro Neto (PE), que foi seu ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e o piauiense Elmano Férrer, que em seu discurso ontem à noite disse não ter visto crime de responsabilidade nos atos da presidente afastada. Ligado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), o petebista Zezé Perrella (MG) é favorável ao impeachment.
Como mostrou o Congresso em Foco, dirigentes e interlocutores petistas, como o ex-presidente Lula, têm oferecido apoio eleitoral em municípios de atuação dos senadores em troca de voto pró-Dilma ou mesmo de ausência em plenário no dia da votação. O problema é que o presidente interino, Michel Temer, também tem atuado na outra ponta, ofertando cargos e alianças para garantir votos favoráveis ao impeachment.
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