Informações da Tribuna do Ceará
Gerou revolta o nome e o escudo escolhidos por um time de futebol em um campeonato de uma universidade privada de Fortaleza. A equipe “Habeas Pernas” tem no símbolo a ilustração de uma mulher em posição pornográfica. Estudantes denunciaram o caráter machista das escolhas da equipe, ressaltando que fazem apologia ao assédio e ao abuso sexual de mulheres.
Um protesto foi realizado na manhã desta segunda-feira (10) em repúdio ao ocorrido na Faculdade de Direito da Universidade 7 de Setembro (Uni7). Uma nova manifestação está marcada para as 20 horas também desta segunda-feira.
A estudante de Direito da Uni7 Amanda Campos é uma das manifestantes. Ela afirma lutar para que o caso não seja encarado com uma mera piada, como os integrantes do time teriam afirmado que foi. Ela espera que o caso gere um debate sobre o machismo.
“Estamos em uma faculdade de Direito. Nos surpreendemos com um juiz que pergunta a uma mulher que queria fazer aborto por que ela abriu as pernas, mas é aí que começa”, afirma.
“Não queremos crucificar os meninos do time, a faculdade ou o centro acadêmico. O que queremos é o mínimo de respeito aqui dentro. Queríamos que o nome e o escudo não tivessem sequer passado pela inscrição”. Ela diz ainda esperar um posicionamento da universidade sobre o caso.
Em nota de esclarecimento, o centro acadêmico Agerson Tabosa (Caat), que organizou o torneio, afirmou não ter sido apresentado ao escudo no momento da inscrição do time e que não presumiu o caráter machista do nome da equipe.
“Habeas Pernas, apenas o nome, de forma razoável, pode ser entendido como um trocadilho com a prática futebolística de driblar ou, em outras palavras, passar a bola entre as pernas do adversário”, diz a nota.
O CA ainda afirmou ter entrado em contato com os integrantes do time, no sábado (8), dia em que foi realizado o campeonato, solicitando que o símbolo da equipe fosse coberto durante as partidas, o que teria sido aceito. No entanto, as fitas adesivas usadas para cobrir o escudo desprenderam-se dos uniformes durante as partidas e não foram repostas “em razão do tardar da noite e da natureza sucessiva dos jogos”.
“Ainda que toda a situação deva ser discutida de forma pública e razoável, mostrou-se impossível, no dia do evento, alguma posição do Caat de forma mais incisiva, uma vez que, para tal, mostra-se necessária uma apuração séria de todos os fatos, o que, por sua vez, precisa de tempo. Se tomássemos alguma medida mais séria sem qualquer deliberação apurada e sem previsão no regulamento, seria um demonstrativo de inconsequência, o que não condiz com a atuação de um Caat sério”.
A exclusão da equipe do campeonato, como exigida pelos manifestantes, não combinaria com a “promoção do companheirismo e descontração” buscada pela competição. A exclusão também acarretaria, argumenta o CA, no cancelamento do evento. O centro acadêmico afirmou que, a partir da próxima edição do torneio, o regulamento impedirá “qualquer forma de manifestação machista ou que incite violência de qualquer natureza”. Também afirma que será promovida uma reunião geral pública, debatendo o tema. Confira a nota na íntegra:
Repercussão
O caso não se restringiu aos muros da faculdade, tomando grande repercussão, sobretudo, na internet. Uma das principais postagens sobre o assunto já contava com mais de 300 compartilhamentos somente em um perfil até as 8h30 desta segunda-feira.
“Não me entra na cabeça que alguém tenha um déficit de criatividade tão grande que só consiga pensar em um nome que desrespeita as mulheres. Não me entra na cabeça a falta de bom senso de quem quer que esteja nessa equipe. É machismo. O que nós estamos presenciando é machismo puro”, dizia o texto.
Amanda Campos, que também postou o texto, teve outros 200 compartilhamentos. Em média, os outros pessoas que publicaram o texto têm 50 compartilhamentos em média, afirma Amanda.
A repercussão do caso gerou reação contra quem denunciou o machismo do time. As manifestantes passaram a ser xingadas mesmo por pessoas de fora da instituição, relata Amanda. Houve desde quem as mandasse “lavar louça” a quem fizesse xingamentos de baixo calão, como “vagabundas” e “vadias”. Uma das estudantes, exemplifica Amanda, passou a ser atacada por integrantes de um grupo no Facebook de São Paulo.
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