Em entrevista exclusiva ao Agora Jornal, senador e presidente nacional do Democratas abordou cenário do Executivo, votações de reformas e intenções para 2018.
Da redação com AGORA RN
Por Rodrigo Ferreira
Ex-governador do Rio Grande do Norte em duas ocasiões e ex-prefeito de Natal entre 1979 e 1982, o senador José Agripino Maia (DEM) confirmou que vai tentar a reeleição no pleito de 2018. O parlamentar, que iniciou sua carreira como senador em 1987 (teve uma parada rápida de 4 anos entre 1991 e 1994 para ser governador do Estado), revelou sua intenção em entrevista exclusiva ao Portal Agora RN/Agora Jornal.
Entre tantos assuntos abordados ao longo da entrevista, o senador do Democratas falou sobre a atual conjuntura do parlamentarismo federal após a votação da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB), que visava investigar a sua suposta participação em esquema de corrupção delatado por líderes do Grupo JBS, como os irmãos Joesley e Wesley Batista, além do executivo da J&F, Ricardo Saud. Por maioria de votos, a denúncia foi engavetada e não será avaliada enquanto o peemedebista permanecer na presidência.
Segundo José Agripino, a relação atual do líder da República com os parlamentares da Câmara e do Senado tem sido majoritariamente relativa aos textos das reformas que pretende implementar ao longo de sua gestão (a trabalhista, inclusive, já foi aprovada pelas duas Casas Legislativas e sancionada pelo líder do Executivo). Questionado sobre se o mesmo ainda tem sustentação para governar o país, despistou do caso da denúncia e reafirmou o compromisso do presidente em levar adiante as propostas das reformas, sobretudo a Previdência.
“O presidente tem mantido uma relação constante com o Congresso Nacional com foco na aprovação das matérias que o Palácio do Planalto destacou como as mais importantes, entre elas as reformas que estão tramitando na Câmara. Ele [Temer] foi presidente da Câmara dos Deputados por três vezes. Conhece bem o funcionamento da Casa e sabe que algumas das reformas estruturantes necessárias para colocar o país de volta aos trilhos são impopulares”, declarou Agripino.
Perguntado sobre se o Democratas teria a intenção de deixar a base aliada do governo devido as citações negativas ao nome de Michel Temer em delações recentes, o senador, que também é presidente nacional da legenda, afirmou que o partido não tem a intenção de sair da condição que se encontra. Segundo ele, o fato de ter aceitado o desafio de ‘reconstruir o país’ ao longo de pouco mais de dois anos de mandato segue sendo bem encarado pela sigla, que acredita ser possível cumprir o planejado em tempo hábil.
“Aceitamos o desafio de fazer parte de um projeto que visa reconstruir o Brasil e fazer o país voltar a crescer. Acreditamos que o caminho para isso passa necessariamente pela economia. O Democratas tem bandeiras claras e lúcidas nesse sentido. Hoje, estamos à frente do Ministério da Educação e o deputado Mendonça Filho, que está ministro, vem desenvolvendo um excelente trabalho por lá”, exemplificou Agripino, lembrando da posição do DEM dentro do setor Executivo do governo.
Atualmente, o Democratas tem 30 parlamentares dentro da Câmara dos Deputados e pode ter o número elevado após novas filiações que estão sendo cogitadas. Diante disso, o senador revelou que o projeto político da sigla para 2018 será aumentar mais a bancada no Congresso Nacional. Para isso, ressaltou a força do partido e lembrou de uma declaração do ex-presidente Lula, que prometeu ‘acabar’ com o DEM em anos anteriores mas hoje vê a legenda crescer cada vez mais dentro do governo.
“Estamos crescendo muito em nível nacional. Temos 30 deputados federais e a expectativa é que esse número cresça para 50 após novas adesões. Recentemente fomos desafiados nos, mas resistimos com firmeza e convicção do nosso papel enquanto partido que defende a livre iniciativa. O ex-presidente Lula disse que o DEM iria acabar. Hoje temos o ministro da Educação, o presidente da Câmara dos Deputados e uma bancada forte e altiva. Nosso objetivo é crescer ainda mais e com solidez”, assegurou.
Muito embora a reportagem tenha tentado extrair do senador algumas posições sobre o ano de 2018 no âmbito estadual, Agripino preferiu não externar posicionamentos acerca do próximo pleito (à exceção da garantia de sua candidatura ao Senado Federal). Perguntado sobre se a parceria DEM e PMDB iria continuar no Rio Grande do Norte no ano que vem, o parlamentar, eleito em 2010 com 958.891 votos (32.23% das escolhas válidas), disse achar cedo para fazer projeções nestes casos, no entanto, admitiu a possibilidade de manter o pacto.
“Há um histórico de parceria entre o DEM e o PMDB no Rio Grande do Norte que não podemos negar. No momento, não acho conveniente falar de eleições diante do cenário mutável em que vivemos e com tantos outros temas para priorizar. Mas a perspectiva é de se manter a aliança”, contou ele, despistando novamente ao ser questionado sobre uma possível aliança na candidatura de reeleição do atual governador Robinson Faria (PSD). “É pouco oportuno falar, debater ou especular chapas ou coligações eleitorais faltando mais de um ano para as eleições”, complementou.
A gestão do atual chefe do Executivo estadual, inclusive, também foi tema na sabatina com Agripino. Apesar de ter falado de maneira sucinta, o senador fez uma avaliação não tão boa sobre a liderança do peesedista no Governo do Estado, endossando o discurso de insatisfação feito no plenário do Senado Federal ao longo desta semana. “Todos os governos têm pontos negativos e positivos, mas não há como negar que atualmente a administração estadual vive um momento de fragilidade diante da crise econômica e, principalmente, do caos na segurança”, encerrou.
“Brasil não vai sair do buraco sem reformas”
Pauta de muitos debates no Congresso Nacional, as reformas propostas pelo presidente Michel Temer também entraram no diálogo da reportagem com José Agripino. Ele, que votou favorável à implementação da reforma trabalhista, assegurou ter tido total convicção de seu posicionamento quanto ao texto, que na sua avaliação não retirou nenhum benefício do trabalhador e apenas fez alterações na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), tachada como imperfeita e não-acabada.
“O Brasil não vai sair do buraco sem as reformas estruturantes. Eu jamais teria votado a favor da reforma trabalhista, por exemplo, se ela retirasse um benefício sequer de qualquer cidadão brasileiro. A CLT é um instrumento perfeito e acabado? Não. Tanto que no Brasil existem 3,9 milhões de ações trabalhistas, enquanto que na Alemanha são 590 mil, na Itália, 305 mil. Ou seja, se há esse tanto de questionamento no Brasil, é porque algo precisava ser feito e alterado”, declarou.
No caso da reforma da Previdência, Agripino defendeu que seja encontrado um “meio-termo” antes que a mesma vá para votação final, atingindo situações benéficas tanto para a população quanto para o governo. “É necessário que se encontre um ‘meio termo’ para que as mudanças correspondam tanto com o que a população aceita quanto com o que o Estado precisa”, disse, complementando em seguida com dados estatísticos publicados pela imprensa nacional.
“Atualmente, as previdências do Distrito Federal e de 22 dos 26 Estados operam no vermelho. Em apenas seis anos – entre 2009 e 2015 –, o rombo passou de R$ 49 bilhões para R$ 77 bilhões. Não é possível que o Brasil ‘se suicide’ deliberadamente, mantendo uma despesa que não pode arcar com a Previdência. Se não fizermos algo agora, daqui a um tempo até os atuais aposentados correm o risco de não receberem seus recursos. O Legislativo precisa votar e aprovar matérias imprescindíveis para o desenvolvimento do Brasil”, justificou.
Por fim, José Agripino se debruçou sobre a reforma política, que a exemplo das demais também vem sendo debatida entre os parlamentares que compõem a Câmara dos Deputados e o Senado. Na atual conjuntura, o senador potiguar destacou dois pontos que tratam como imprescindíveis dentro do texto: a cláusula de desempenho, para diminuir o número de partidos; e o fim das coligações proporcionais, para garantir “mais transparência” na representação popular.
“Entendo que é preciso acabar com esse negócio de um deputado federal ser eleito com mil votos deixando de fora outro que teve 100 mil. É um absurdo que precisa ser corrigido. Acho importante, ainda, que as mudanças na legislação possam ser efetivadas visando o fortalecimento das bandeiras político-partidárias para que a população conheça o viés ideológico de seus candidatos. É importante que o eleitor vote em quem conheça, tanto do ponto de vista da ação pessoal como da ação programática”, disse, finalizando:
“Em relação à proposta da criação de um fundo eleitoral para financiar campanhas, é preciso debater o tema com maturidade e profundidade. Sabemos que não se faz eleição sem recursos e esse tema terá de ser debatido profundamente, com a participação de todos. A ideia inicial é a de que os partidos receberiam recursos para que as eleições possam acontecer com os candidatos se apresentando e mostrando quem são, suas ideias, seu pensamento”, encerrou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário