quinta-feira, 23 de junho de 2011

Neymar brilha, meninos da Vila fazem história e Peixe leva tri da Libertadores

No Pacaembu lotado, craque abre caminho para título do Santos com gol no início da etapa final. Time vai ao Japão, em dezembro, lutar pelo Mundial



por Adilson Barros e Julyana Travaglia

Um esquadrão branco, infernal, que tomou a América de assalto. Com um ataque genial, imprevisível, artilheiro. Muitas vezes, o Santos foi descrito assim nos anos 60, quando Pelé e seus companheiros chacoalharam a América. O mesmo texto agora, 48 anos depois, serve para o time de Neymar, Ganso, Elano, Léo, Dracena, Arouca, Durval, Rafael. Sim, senhoras e senhoras: o Santos é, novamente, campeão da Taça Libertadores. Tricampeão (ganhou em 62, também sobre o Peñarol, e 63).

A noite ficará guardada na memória de cada santista. A vitória, por 2 a 1, num Pacaembu apinhado, branco, cheio de santistas com lágrimas nos olhos, ainda teve Pelé vibrando como se estivesse em campo. Do seu camarote, o rei de todos os tempos socava o ar como se um dos gols tivesse sido marcado por ele.

O Peixe e sua nova geração de ouro caminham a passos largos para ser campeão de tudo em 2011. No início do ano, manteve a supremacia em São Paulo. Agora, tornou-se rei da América. O terceiro passo poderá ser dado em dezembro, quando a equipe de Muricy Ramalho terá o Mundial de Clubes da Fifa pela frente. Será a chance de poder ver um duelo fabuloso: Neymar x Lionel Messi.

Primeiro tempo de domínio santista, mas faltou calibrar o pé

Buscando acabar logo com o nervosismo e a angústia das arquibancadas, o Santos entrou em campo querendo um gol rápido. Os comandados de Muricy Ramalho acreditavam que, na pressão, o Peñarol se abriria. Puro engano. Apesar de boas investidas e jogadas inspiradas de Ganso, que acertou ótimos passes, faltou o chute certo. Os números dos primeiros 45 minutos ratificaram o domínio santista. O Peixe teve 67% de posse de bola, contra 33% do seu rival. Foram oito arremates ao gol uruguaio, contra apenas um dos carboneros.

Zé Eduardo disputa a bola com os defensores do Peñarol durante o primeiro tempo (Foto: Reuters)

O primeiro lance de perigo veio em chute de fora da área de Elano, que exigiu grande defesa de Sosa. Neymar também teve chance, após passe precioso de Ganso, mas furou. O astro santista esteve sempre cercado por três jogadores. Gingava de um lado para o outro sem conseguir abrir o espaço. À medida que o tempo passava e o gol não saía, o Pacaembu ia murmurando, apreensivo. Léo também teve uma oportunidade ao invadir a área, com o goleiro batido, e errar o alvo. Durval, duas vezes de cabeça, também ameaçou. Sosa ainda brilhou em cobrança de falta de Elano da entrada da área.

O Peñarol, limitado tecnicamente, se resumia a bloquear as investidas do adversário. Segurava o Santos, tentava encaixar um contra-ataque, que não veio em toda a primeira etapa. Assim, o jogo ficou morno. O Peixe murchou, perdeu o ritmo e passou a errar alguns passes, Arouca, principalmente.

Mas quem disse que seria fácil? Era final de Taça Libertadores.

Neymar abre o placar e leva o Pacaembu ao delírio

E aí vem Arouca, em desabalada carreira. Uma arrancada mágica, uma tabela esperta com Ganso, que passou para Neymar, que, enfim, soltava o grito preso na garganta do torcedor nas arquibancadas. Apenas dois minutos de jogo. Neymar, histórico. Um gol que vai ser lembrado para sempre pelos santistas. O gol que abriu caminho para o tricampeonato.

Neymar comemora o gol diante do banco do Peñarol, que só lamenta (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)

Em seu camarote no Pacaembu, Pelé vibrava, reverenciando seu sucessor. Em campo, o craque alvinegro chupava o dedo, homenageando Mateus, que chega em novembro. O filho do ídolo santista vai nascer campeão continental. Pé-quente!

O jogo continuou. Claro. Faltavam ainda longos minutos. Nas arquibancadas se abraçavam e choravam. Não dava para fazer os ponteiros correrem mais rápido? Não dava. Então, o Peixe tratava de dar as cartas em campo.

A diferença técnica entre os times era gritante. O Santos, agora, tinha espaços para matar o jogo. O Peñarol tinha dificuldades para sair jogando. Não parecia possível o título escapar. Absolutamente.

O Santos continuava em cima, muito melhor, trocando passes, colocando os uruguaios na roda. Nas arquibancadas, locura total. Então, Danilo arrancou pela direita, deixou o marcador para trás, cortou para dentro e entrou para a história. Pé esquerdo, canto direito do goleiro. Nova explosão no Pacaembu. Choro, abraços. O título estava mais próximo.

- Agora, ninguém tira mais – berrou Léo num microfone à beira do campo.

Gol contra de Durval e pancadaria no final

Mas nada com o Santos é fácil. O Peñarol mostrou suas garras. Numa escapada pela direita, a bola cruzada, desvia em Durval, que tentou rebater e entra. Seria possível? Como em 2005, quando defendia o Atlético-PR, na final da Libertadores contra o São Paulo, o Rei do Sertão marcara um contra.

Foi apenas um susto passageiro. Logo o Peixe retomou o dominio e teve até chances para marcar mais gols. Não precisou. No final, uma cena que não precisava ocorrer: jogadores das duas equipes trocaram agressões em campo, diante de uma Polícia Militar que pouco fez para conter os brigões. Nada, no entanto, que acabasse com o brilho da conquista do Peixe.

Parabéns, Santos e santistas. A América, de novo, é de vocês.

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