Da redação com UOL
Por Flávio Ricco
O jornalista Reinaldo Azevedo, em um fato até considerado raro, pediu demissão nesta terça-feira tanto da Veja quanto da Jovem Pan. A assessoria da rádio confirmou à coluna sua saída. Em relação à revista, uma decisão tomada após a divulgação de áudios em que criticava o veículo. Em telefonema grampeado com a irmã de Aécio Neves, Andrea Neves, ele chamou o conteúdo de uma reportagem de capa sobre o senador de "nojento".
A conversa entre Azevedo e Andrea foi anexada pela Procuradoria-Geral da República aos áudios do inquérito que investiga Aécio e a irmã.
Reinaldo se manifestou por meio de um comunicado:
"Pedi demissão da Veja. Na verdade, temos um contrato, que está sendo rompido a meu pedido. E a direção da revista concordou.
1: não sou investigado;
2: a transcrição da conversa privada, entre jornalista e sua fonte, não guarda relação com o objeto da investigação;
3: tornar público esse tipo de conversa é só uma maneira de intimidar jornalistas;
4: como Andrea e Aécio são minhas fontes, achei, num primeiro momento, que pudessem fazer isso; depois, pensei que seria de tal sorte absurdo que não aconteceria;
5: mas me ocorreu em seguida: "se estimulam que se grave ilegalmente o presidente, por que não fariam isso com um jornalista que é critico ao trabalho da patota.
6: em qualquer democracia do mundo, a divulgação da conversa de um jornalista com sua fonte seria considerado um escândalo. Por aqui, não.
7: tratem, senhores jornalistas, de só falar bem da Lava Jato, de incensar seus comandantes.
8: Andrea estava grampeada, eu não. A divulgação dessa conversa me tem como foco, não a ela;
9: Bem, o blog está fora da Veja. Se conseguir hospedá-lo em algum outro lugar, vocês ficarão sabendo.
10: O que se tem aí caracteriza um estado policial. Uma garantia constitucional de um indivíduo está sendo agredida por algo que nada tem a ver com a investigação;
11: e também há uma agressão a uma das garantias que tem a profissão. A menos que um crime esteja sendo cometido, o sigilo da conversa de um jornalista com sua fonte é um dos pilares do jornalismo”.
Sobre a saída da Pan, onde apresentava o “Pingos nos Is”, a manifestação do jornalista:
"Pedi demissão da Jovem Pan. As razões da minha saída da rádio antecedem a agressão de que estou sendo vítima. Embora vá se misturar tudo", declarou.
Tem mais: o desligamento acontece um dia antes de uma entrevista especial que o jornalista faria em Brasília com o presidente Michel Temer e que seria veiculada no programa "Os Pingos nos Is" também na noite desta quarta-feira. Segundo a Pan, já estava tudo certo para esse trabalho, mas, agora, ninguém sabe como vai ficar.
Ele informou ainda que continuará com o seu trabalho de comentarista no “Rede TV! News”. Na noite desta terça-feira (23), o jornalista foi recebido na bancada por Boris Casoy e Amanda Klein, que defenderam a liberdade de imprensa e anunciaram sua permanência no noticiário.
*Colaboração de José Carlos Nery
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