Da redação com Tribuna do Norte
Por Luiz Henrique Gomes - Repórter
O transporte intermunicipal de passageiros é inexistente em 54 cidades e 17 distritos do Rio Grande do Norte, deixando desassistidas pelo menos 437.789 pessoas residentes nesses locais. Para se deslocarem entre uma cidade e outra, essa parcela da população depende de meios particulares ou dos transportadores clandestinos, chamados de ‘loteiros’. Apesar de formalmente existirem linhas para os municípios e distritos, elas foram abandonadas pouco a pouco por falência das empresas responsáveis ou por não serem rentáveis.
Presidente da Fetronor, Eudo Laranjeiras, diz que cinco empresas faliram em cinco anos no RN
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Segundo a Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste (Fetronor), que abarca os responsáveis pela operação das linhas intermunicipais, a inexistência da fiscalização na atividade dos ‘loteiros’ e a popularização de veículos próprios na última década são razões que levam as empresas à falência. “Há um descaso por parte do Governo do Estado, responsável pela regulamentação e fiscalização do transporte público, há anos e por parte de diversas gestões”, avalia o empresário Eudo Laranjeiras, presidente da Fetronor. “Esses carros operam como querem, quando querem. Eles podem esperar o carro encher para sair, mas o ônibus sai na hora determinada nem que seja com um passageiro. Isso acaba quebrando as empresas de ônibus”.
A falência foi o destino de cinco das dez empresas que exploravam o mercado de transporte intermunicipal nos últimos 15 anos, resultando em 96 linhas sem operação. Nestes casos há duas saídas: ou outras linhas assumem a área da desativada, tendo o trajeto ampliado, ou a população fica desassistida. Esse último é a realidade, por exemplo, do município de Açú, o maior entre os 54 sem linhas intermunicipais, com população de 58 mil habitantes, segundo a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017.
A responsabilidade da fiscalização do transporte intermunicipal é do Departamento Estadual de Rodovias do Rio Grande do Norte (DER/RN), que reconhece os problemas. Para fiscalizar todos os 167 municípios do estado, o órgão conta com 35 agentes de fiscalização - número inferior até mesmo ao de cidades desassistidas. O diretor-presidente do DER, Jorge Ernesto Fraxe, afirma que esforços estão sendo realizados para mitigar as limitações da equipe. “Para melhor utilizar, a gente faz operações de fiscalização em locais conhecidos na região metropolitana de Natal”, afirma. Somente este ano, a equipe apreendeu 100 carros. “Mas o excelente seria ter mais estrutura”.
Sem orçamento suficiente para realizar concurso e ampliar o quadro de pessoal, o DER busca a tecnologia para diminuir as limitações. Jorge Fraxe afirma que um sistema eletrônico de vigilância dos ônibus será implantado para facilitar as fiscalizações nos próximos meses. “Saberemos onde o ônibus está, se cumpre o trajeto correto, se há animais na estrada, se há clandestino”, conta. Segundo o diretor, isso vai possibilitar fazer ações mais direcionadas com os servidores atuais.
A situação para alguns, em locais até mesmo próximos da capital, exige o deslocamento a pé em longos trajetos. Na praia de Genipabu, localizada em Extremoz e onde não há linha intermunicipal regular há pelo menos nove anos, maior parte das pessoas – em geral, moradores ou trabalhadores de Natal que vão diariamente à praia – precisa andar cerca de um quilômetro pelas dunas para ter acesso ao ônibus da praia de Santa Rita, em Natal. “Se você não tem seu carro e precisa se deslocar todo dia, como é o caso de estudantes e muitos que trabalham aqui, vai sofrer para pegar um ônibus”, conta Luiza Marillac, moradora do local há 26 anos. “O lotação é caro e sai na hora que quer, não é certo depender deles”.
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