quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Na AL, 20 por cento dos deputados querem disputar prefeituras

Na AL, 20 por cento dos deputados querem disputar prefeituras
Publicação: 11 de Janeiro de 2012 às 00:00imprimircomentarenviar por e-emailreportar erroscompartilhartamanho do texto A+ A-

Menos de um ano após tomarem posse, cinco deputados estaduais já planejam trocar de função e disputar, em outubro, uma cadeira de prefeito. A média é de 20% da Assembleia Legislativa, que dispõe de 24 parlamentares. Se somados aos que devem participar ativamente do pleito, seja na condição de protagonistas ou de apoiadores de familiares em primeiro grau, esse cálculo passa a ser de 15 (ou 61 %). Os deputados Fernando Mineiro (PT) e Hermano Morais (PMDB) são pré-candidatos declarados em Natal. Assim como eles, Larissa Rosado, do PSB, já cumpre agenda de futura candidata em Mossoró. Esses três se juntam a Poti Júnior, cujo nome já figura nas listas de candidaturas do PMDB para a disputa majoritária em São Gonçalo do Amarante; e Gilson Moura, que embora já enfrente resistências dentro da própria sigla, o PV, poderá ser o nome dos verdes na campanha de Parnamirim.

Adriano Abreu
Deputados vão participar da campanha eleitoral com candidaturas ou apoio a candidatos

As convenções ocorrem somente em junho e os parlamentares não necessitam se licenciar para a disputa. Um dos poucos casos isolados, no entanto, é o de Larissa Rosado. Ela tem afirmado que o processo eleitoral em Mossoró é acirrado e que precisa de um contato ininterrupto com a população. Por isso, a parlamentar deverá pedir licença do cargo de deputada cedendo a vaga ao suplente, o advogado Lauro Maia (PSB), filho da pré-candidata em Natal, Wilma de Faria (PSB). Neste período, Larissa transfere inclusive o colégio das duas filhas, que estudam em Natal, para uma das escolas da cidade oestana.

Larissa já vive um cenário consolidado quanto a sua candidatura, quadro que se repete entre os deputados estaduais nos casos de Mineiro e Hermano, que também já foram avalizados pelas legendas as quais pertencem. De qualquer maneira, ao fim dos arranjos estaduais, o número de deputados que realmente vão concorrer a eleição pode - e geralmente é - menor por causa das alianças.

A Assembleia Legislativa conta ainda em seus quadros com cabos eleitorais potenciais, mas que não concorrerão ao pleito. São os prováveis impulsionadores de candidaturas de parentes próximos. Um exemplo é o próprio presidente da Casa. O deputado Ricardo Motta (PMN) será o principal cabo eleitoral do filho, Rafael Motta, pré-candidato a vereador em Natal. Situação semelhante ocorre com Agnelo Alves (PDT), que participará da campanha do filho Carlos Eduardo Alves (PDT); Antônio Jácome, que também se somará ao projeto do filho Jacó; e Getúlio Rêgo, que ajudará na sucessão de Leonardo Rêgo, no município de Pau dos Ferros.

Dos 24 parlamentares da AL somente Fábio Dantas (PHS), José Dias (PSD), Leonardo Nogueira (DEM), Raimundo Fernandes (PMN), Vivaldo Costa (PR) e Walter Alves (PMDB) não dispõem de parentes em primeiro grau na disputa. A média de parlamentares diretamente envolvidos (neste caso somente por candidatura própria) é ligeiramente inferior à do Congresso Nacional, que é de 21%, segundo levantamento do jornal Folha de São Paulo.

Na bancada federal, dois são pré-candidatos

No caso dos deputados federais potiguares a média de parlamentares possivelmente candidatos a cargos majoritários é de 25%. Dos oito dois deles - um com pré-candidatura lançada, caso de Rogério Marinho (PSDB) - e outro com o pé na disputa - Paulo Wagner, do PV - podem concorrer respectivamente nos municípios de Natal e Parnamirim. O pevista pode vir a ser a surpresa das convenções. Ele já disputa internamente no PV com o deputado estadual Gilson Moura a condição de candidato da legenda no município da Grande Natal. O nome de Wagner inclusive seria no momento o mais simpático à prefeita da capital e presidente estadual do PV, Micarla de Sousa.

Com a indefinição da participação dos pevistas em Natal, a chefe do Executivo estaria apostando em uma maior capilaridade do deputado federal que, além disso, cederia, caso eleito, a vaga de parlamentar federal à Rosy de Sousa, suplente do PV e irmã de Micarla de Sousa.

A Câmara Federal tem ainda em seus quadros a deputada Sandra Rosado (PSB), mãe de Larissa Rosado, e que costumeiramente tem uma passagem contundente e demorada durante as eleições do principal reduto eleitoral, que é Mossoró. Os demais parlamentares, Henrique Alves (PMDB), Fábio Faria (PSD), Fátima Bezerra (PT), João Maia (PR), Felipe Maia (DEM), embora se espere deles uma participação relevante e efetiva no pleito, não têm parentes em primeiro grau na disputa.

'Candidatura ao Executivo reforça rede de apoio'

O cientista político João Emanuel Evangelista, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), observou ontem, em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, que é uma característica do sistema político brasileiro - e em especial do Rio Grande do Norte - que cidadãos com mandatos eletivos busquem visibilidade ou projetar membros da própria família, aumentando, assim, o poder de influência. Para ele, o político, em geral, não tem nada a perder se competir no meio do mandato. "No Brasil tem a seguinte situação: por mais que tenha um sistema político que equilibre todos os poderes é evidente que o Executivo tem uma prevalência. Então, há um conjunto de mecanismos institucionais e, na verdade, o Poder Excecutivo é realmente o poder mais forte no Brasil e é mais ou menos dentro do esperado que um deputado ou vereador queria se candidatar a um cargo quando isso não traz um risco de sobrevivência política, ao contrário, pode significar ascensão"

Ele explicou que, na pior das hipóteses, se o candidato não se eleger, consegue reforçar os laços e a rede de apoios que podem viabilizar com maiores chances a sua recondução ao Legislativo. "Além de ter a oportunidade de reativar e confirmar os laços de apoiadores é a oportunidade de firmar imagem pública maior e positiva. Trocando em miúdos, o político só tem a ganhar", pontuou o professor da UFRN. Para ele, o político, em geral, não tem nada a perder se competir no meio do mandato.

Ele destacou também que, na ausência de uma instituição política que faça o papel de mediador e consolidador de um projeto, prevalece a busca dos laços familiares para substituir o alicerce partidário. "O que sobra é contar com uma outra instituição que faça isso e quem substitui é a família. É através dos familiares que você tem capacidade de segurança e de fidelidade. Isso acaba criando 'partidos de familiares'", enfatizou, para emendar: "Como os partidos no Brasil tem uma certa fragilidade história outras instituições acabam como substitutos dos partidos".

*Tribuna do Norte

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