quarta-feira, 15 de maio de 2019

Drogas: Natal é uma das três maiores rotas de tráfico do Brasil

Da redação com Tribuna do Norte
Por Luiz Henrique Gomes - Repórter
O tráfico internacional de drogas através do Porto de Natal é uma das três principais rotas do Brasil, de acordo com o delegado da Polícia Federal, Agostinho Cascardo. Com a última apreensão de cocaína no local, realizada no fim da tarde desta segunda-feira, 13, a quantidade encontrada é de 4,4 toneladas em três operações feitas no período de três meses. Somente o Porto de Paranaguá, no Paraná, e o Porto de Santos, em São Paulo, tiveram apreensões de drogas semelhantes em tão pouco tempo, com 6,4 toneladas e 8 toneladas, respectivamente.

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Entre os três portos citados, o de Natal é o menor em volume de exportações de cargas – são nelas que a cocaína é escondida. Nos três primeiros meses deste ano (de janeiro a março), segundo dados consolidados dos três portos, Santos movimentou 30 milhões de toneladas de mercadorias; Paranaguá, 5,5 milhões; e o Porto de Natal, 136 mil. Proporcionalmente, Natal tem o maior volume de cocaína entre as exportações realizadas. 

“Não tenho dúvidas de que o Porto de Natal está entre as três principais rotas internacionais do tráfico”, afirmou Cascardo. O delegado se baseou na quantidade de drogas e na frequência das apreensões antes delas serem exportadas com destino à Holanda e Espanha. As apreensões feitas em solo europeu de cargas que saíram de Natal não foram consideradas - contando com essas, Natal movimentou mais de 12 toneladas em oito meses.

Historicamente, o Porto de Santos é o principal ponto para o tráfico de cocaína, chegando a 23 toneladas apreendidas só em 2018. Este ano, as apreensões chegam a 8 toneladas e a frequência ainda é alta – nesta segunda-feira, 13, no mesmo dia em que 1,1 tonelada foi encontrada em Natal, 300 quilos de cocaína foram flagrados em Santos.

O que tornou o Porto de Natal uma rota principal para o tráfico internacional em pouco tempo foi a falta de segurança do local, ao mesmo tempo que a PF e a Receita Federal intensificavam as operações no Porto de Santos. Essa migração, segundo Agostinho Cascardo, “é natural”. “Depois que começou a ser intensificado lá, eles começaram a migrar para o norte e nordeste. Entre os portos do nordeste, o de Natal tem um bom escoamento e uma fiscalização mais difícil para a Polícia Federal e para a Receita”, completou.

Retomada das atividades
A nova apreensão de cocaína acontece após a única empresa exportadora do Porto de Natal, a empresa CMA CGM, retomar as atividades no local depois de uma paralisação de um mês, motivada pela falta de segurança, segundo alegou a diretoria da empresa a autoridades portuárias em março. Seis navios saíram do porto desde a retomada das atividades, no dia 6 de abril. O primeiro a sair foi no dia 8.

A Polícia Federal afirmou que não parou de fiscalizar as cargas “em momento nenhum” desde que a cocaína foi encontrada no local, mas não descartam que a droga tenha passado no período. O delegado Agostinho Cascardo citou o caso do Porto de Santos, com apreensões frequentes, como um sinal de que a rota não para, apesar dos esforços da polícia. “Assim como não para lá, não parou aqui. O que você pode fazer é ter um controle maior e causar um prejuízo maior do tráfico. Mas não acabou aqui, assim como não acabou em Santos”, afirmou.

A reportagem tentou falar com a empresa francesa CMA CGM para perguntar se haveria nova paralisação, mas não conseguiu contato.

Escâner
A falta do escâner de contêineres no Porto de Natal é uma razão apontada pela PF como facilitadora do tráfico internacional. O equipamento consegue detectar “anomalias” nas cargas sem precisar abri-las. “É possível encontrar cocaína sem o escâner? Sim, nós encontramos 4,4 toneladas. Mas o escâner torna o tráfico mais fácil. A gente sabe disso, mas o traficante também”, explica o delegado da PF.

Desde que as primeiras apreensões de drogas foram feitas no Porto de Natal, a Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) afirma que tenta comprar o equipamento. Até agora, não há uma previsão de quando adquiri-lo. “Dado seu valor alto de aquisição estamos buscando negociar alguma parceria entre os atores envolvidos visando a sua obtenção”, afirmou a estatal por meio de nota.

Enquanto o novo equipamento não é comprado, a Codern vai consertar um escâner antigo. O equipamento foi transferido em setembro de 2016 do Porto de Suape, em Pernambuco, mas não atende às normas estabelecidas pela Receita Federal. A previsão é consertar em até 60 dias para ser utilizado como treinamento dos funcionários para o escâner que pretendem comprar.

Números
8 toneladas de cocaína foram apreendidas em três meses no Porto de Santos, São Paulo, este ano.

6,4 toneladas é o total apreendido nos três primeiros meses do ano no Porto de Paranaguá, no Paraná.

4,4 toneladas foram apreendidas no mesmo período em Natal que tem menor volume de importação de mercadorias.

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