sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Bregas e sem papas na língua

Tádzio França
repórter

Eles não têm papas na língua, cada um ao seu modo. Articulados e escrachados em medidas bem proporcionais, os músicos Zéu Britto e Falcão são os nomes que comandarão o I Brega Rock Festival, neste sábado, a partir das 22h no espaço Vila Hall, Via Costeira. Será a primeira vez em que a dupla - tão diferente entre si, mas com muitas coisas em comum - vai dividir o mesmo palco. Breguice pop para todos os lados.

Divulgação
I Brega Rock Festival recebe neste, sábado no vila hall, dois mestres da breguice, música e do humor: Zéu Britto e Falcão.

O ator, cantor e compositor Zéu Britto estará acompanhado dos músicos locais Ricardo Baya (guitarra), Jow Jow (guitarra solo), Pitomba (bateria), Ismael Miranda (baixo) e PC (teclados). Zéu vai apresentar o show "Saliva-me", passeando entre o rock e o brega, em canções como "Soraia queimada", "Aconteceu no Del Rey", "Crica com crica", "A dama de ouro", "Açougueiro", "Lençol de casal" e "Vou queimar seu peito", entre outras, em que ele destila seu senso de humor dramático e cínico ao mesmo tempo.

Já Falcão é veterano nos paradões bregas. Desde que lançou o seu nada modesto "Bonito, lindo e joiado", em 1991, não parou de juntar fãs. A partir daí ele ajudou a tornar o brega, cult - algo que ainda não se fazia na época. Ele ressuscitou um clássico do brega, "Eu não sou cachorro, não", de Waldick Soriano, com uma versão literal em inglês, "I'm not dog no". Sucesso nacional. Depois repetiu a façanha com "Fuscão preto", de Almir Rogério, transformando-a em "Black people car". Para ajudar a consolidar o mito, adotou uma visual colorido e exagerado. Falcão se tornou uma parâmetro fashion de breguice. Não parou de lançar hits em discos de nomes inspirados, como "O dinheiro não é tudo, mas é 100%", "A besteira é a base da sabedoria', "A um passo da MPB", "Quanto pior, melhor", "500 anos de chifre", "Do penico à bomba atômica", e "What porra is this".

Falcão gosta de afirmar que deseja surpreender "o fã apaixonado ou o ouvinte incauto sobre a sua categoria e sinceridade estética". O FIM DE SEMANA lançou então um desafio a uma dupla tão brega, porém cabeça como essa. Uma entrevista mútua, para que Zéu e Falcão possam se conhecer melhor - no bom sentido - antes de subir ao palco. O papo rendeu, e muito. Veja o "duelo" nestas páginas:

Zéu Britto entrevista Falcão

ZÉU BRITO - Você sempre foi engraçado desde pequeno ou Falcão é um auto-retrato zombeteiro?

FALCÃO - Eu sempre fui fuleiro e, descendente de uma família cheia de gente engraçada, desde pequeno - se é que eu já fui pequeno! Mamãe diz que eu nasci com 1,50m! - mas é claro que eu cedo aprendi a zombar de tudo, inclusive e principalmente, de mim mesmo, já que sempre fui desafeiçoado de beleza externa. Considero isso uma das maiores qualidades do povo brasileiro.

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I Brega Rock Festival recebe neste, sábado no vila hall, dois mestres da breguice, música e do humor: Zéu Britto e Falcão

ZB - Só uma entidade alta como você pode me responder, é bom ver o mundo de cima?

F - É muito bom! Pois de cima, embora se perca um pouco a perspectiva física das coisas, observam-se muito melhor as particularidades das ditas cujas, e das pessoas. Mas, aqui e acolá, a gente tem que descer e, como diria Raulzito, transar de rato pra poder entender o jogo dos ratos.

ZB - Seu estilo é peculiar, é único, você gosta de se ver copiado?

F - Quando a cópia é bem feita, sim. Sei que alguém vai dizer que o original é ruim. Porém eu digo: o copista tem que se fazer tão ruim quanto eu, pra poder ficar bom. Além do mais, as cópias, além de serem homenagens, ajudam muito na divulgação do meu trabalho.

ZB - Você acha que o artista é descoberto ou aparece?

F - O certo é que, se o 'caba' nasce pra ser artista, vai sê-lo! O que não cola é quando o indivíduo não vem equipado com as ferramentas e traquejo artísticos e quer se meter a tal. Aí, nem Santo Antônio, com um gancho, vai fazer da criatura algo artisticamente aceitável.

ZB - O nordestino sabe fazer humor porque gosta de viver ou gosta de viver porque sabe fazer amor?

F - Seguramente, o nordestino faz humor porque gosta da vida que tem. 'Emboramente', Deus não nos tenha brindado com grandes apetrechos de 'buniteza', nós levamos a vida com nossa beleza interior, composta de irreverência, picardia e inteligência.

Falcão entrevista Zéu Britto

FALCÃO - Qual o mais importante, ser rico, ser bonito ou ser criativo?

ZÉU BRITTO - Quando menino, o mais importante era ser criativo, depois comecei a querer ser muito rico e de uns tempos pra cá meu desejo mesmo é ser bonito, os bonitos conseguem tudo que querem, é uma beleza. Vivemos no tempo de aparências, hoje em dia você é cobrado a ser tudo, rico, bonito, criativo, sensual, humilde, religioso, ufa! Se você conseguir ser quem você é, será o melhor.

F - No Brasil, é mais fácil fazer cinema ou música?

ZB - Não tem nada fácil, mas as duas funções são muito prazerosas, eu sigo de acordo com a maré e vou com tanta garra que acabo aprendendo e crescendo no ofício da arte. O cinema vem crescendo, é trabalho pra todo mundo, da técnica passando por elenco e diretor, o segmento audiovisual está impressionando com o profissionalismo e quantidade de resultados bons, já a música é uma paixão que se choca com esse mercado em crise, deste choque só sobra a arte genuína, graças a Deus!

F - Quando você descobriu que dava pra coisa?

ZB - Ainda menino, no quintal da minha casa, futucando o piano velho da minha mãe descobri a música, escrevia peças de teatro e empregava todo mundo na minha rua, naquela época já era um negócio sustentável, ensaiava, colava cartazes, vendia ingressos e entretia o público, aí fui, aí foi e acabei dando mesmo pra coisa há, há, há, há, há...

F - Na sua opinião, porque mesmo sendo o brega muito mais rico que o pop, nossa mídia fala mais de Lady Gaga, que de Raimundo Soldado?

ZB - Eu acho que é por causa dessa onda da estética, da beleza purpurinada que eu falei anteriormente, tem que estar no modismo massivo, tem que ter túnel de vento, mega clipes, plástica, alisamento japonês e o escambau. A riqueza da música nordestina está no derramamento de amor, de enredo, de humor e isso não dá pra ser maquiado, é sucesso cru e nu.

F - Com o advento do forró melacueca e do axé chacundum, existe salvação para a música nordestina?

ZB - Sim, tem espaço para tudo, o universo é infinito, vamos melar mais a cueca, colocar sempre o chacun no dum defendendo nossa identidade, quanto a isso não abrimos mão. A nossa música nordestina está salva na raiz, no DNA, e que se preserve, se perpetue além dos modismos e das convenções.

Serviço:

I Brega Rock Festival. Sábado, às 22h, no Vila Hall, Via Costeira. Vendas antecipadas na Touch (Midway Mall). Informações pelo 3222-2087.

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