Brasília (AE) - A forte revisão da projeção para os preços administrados feita ontem pelo Banco Central revela a dificuldade do governo para evitar o estouro do teto da meta de 6,5% para a inflação em 2015. O cálculo do impacto desses itens, puxados principalmente pela previsão de alta de 27,6% na energia elétrica e de 8% na gasolina, ficou maior até do que a estimativa feita quatro dias antes pelo mercado financeiro no boletim Focus. O “tarifaço” em curso elevou de 6% para 9,3% a previsão de reajuste dos preços monitorados pelo governo. Mesmo assim, o Comitê de Política Monetária (Copom) conseguiu enxergar que está mais fácil agora atingir o centro da meta de 4,5% no próximo ano. Por trás dessa perspectiva positiva para o longo prazo detalhada na ata da reunião do Copom, que elevou a taxa básica de juros de 11,75% para 12,25% ao ano, está a crença do BC nos efeitos da política fiscal.
Alex RégisReajustes da gasolina e da energia elétrica aumentam custos de produção, que são transferidos para o ponto final do consumo
Os diretores da instituição entendem que, se o Ministério da Fazenda entregar a prometida economia de recursos para pagar juros da dívida, o efeito da elevação dos juros será transmitido aos preços de forma “plena”. Ou seja, será mais eficaz. Até agora, porém, os avanços no combate à inflação ainda não se mostram suficientes, segundo o Copom. O documento citou como exemplo as projeções para a inflação, que, como já havia salientado o presidente do BC, Alexandre Tombini, começaram a recuar. Ainda assim, a ata não trouxe a principal mensagem passada pelo Relatório Trimestral de Inflação de dezembro: que o comitê faria “o que fosse necessário” para trazer a inflação a 4,5% em 2016.
Na ata, os diretores repetiram um trecho da edição anterior: “O comitê não descarta a ocorrência de cenário que contempla elevação da inflação no curto prazo, antecipa que a inflação tende a permanecer elevada em 2015, porém, ainda este ano entra em longo período de declínio”.
Um dos pontos que pode ajudar nessa redução ainda em 2015 é a queda do preço do petróleo no mercado internacional. Na avaliação do BC, haverá alguma transmissão para a economia doméstica, tanto por meio do setor petroquímico quanto das expectativas de inflação. Isso ocorrerá, de acordo com o documento, sem considerar o impacto no preço da gasolina, que subirá 8% neste ano. Esse cenário se dará, ainda de acordo com a autarquia, em um ambiente de crescimento abaixo do potencial - o BC abandonou a avaliação feita na ata de dezembro, de que haveria uma retomada da atividade a partir do segundo semestre deste ano.
Com um quadro catastrófico para o curto prazo, mas de algum alívio no fim do próximo ano, o Copom deixou a pulga atrás da orelha dos economistas sobre seus próximos passos. O consenso é o de continuidade do ciclo de alta de juros, iniciado em outubro Mas a intensidade da próxima alta da Selic e a duração desse ajuste ainda são pontos de divergência.
Levantamento realizado pelo Broadcast - serviço de tempo real da Agência Estado - logo após a divulgação da ata revela que, para 23 de 37 casas do mercado financeiro consultadas, o ciclo de aperto monetário deve se encerrar em março, sendo que 21 preveem a taxa em 12,50% e outras duas, em 12,75%.
O outro grupo, de 14 participantes, vê o aperto monetário sendo finalizado em abril, com o maior número (13) de economistas estimando a taxa em 13,00% e uma única casa aguardando o juro em 13,25%.
Tribuna do Norte
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