Valdir Julião
repórter
As estatísticas oficiais da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed) apontam para a ocorrência de um homicídio a cada cinco horas no Rio Grande do Norte este ano. Entre os dias 1º e 21 deste mês já ocorreram 106 homicídios em Natal e no interior (até 18h), cinco mortes a mais em comparação ao mesmo período de janeiro de 2014, que totalizou 101, segundo informou o coordenador de Informática e Estatística da Sesed, Ivenio Hermes Júnior.
Para Ivenio Hermes Júnior, o número de homicídios apurado até ontem “é preocupante”, pois se continuar crescendo nesse ritmo o mês de janeiro pode terminar com 70 mortes a mais em relação aos assassinatos ocorridos no mesmo período do ano passado. Em 2014, a média diária de homicídios foi de 4,25 casos, enquanto este ano já está sendo de 5,04. “A gente tem de encontrar uma maneira de frear isso”, diz Ivênio, que atuava como pesquisador da criminalidade no Conselho Estadual dos Direitos Humanos e da Cidadania (CEDHC).
Junior SantosDois homicídios foram registrados na tarde de ontem, um deles no bairro Rosa dos Ventos, em Parnamirim. Polícia suspeita de acerto de contas por tráfico de drogas
Com apenas duas semanas de trabalho na Sesed, Ivênio Hermes disse que, inicialmente, enfrenta dificuldades relacionadas a recursos humanos na Coine, “o que já está sendo providenciado”, bem como a falta de um banco de dados unificado. “Não temos computadores interligados às delegacias de Policia Civil, Ciosp e Itep”, exemplificou ele, que falou sobre a intenção de unificar os bancos de dados dos órgãos do aparelho de segurança público do Estado, num prazo de seis meses. “É um trabalho demorado”, disse.
Segundo Ivênio Hermes, por enquanto, já foi possível consolidar e unificar o banco de dados relacionados a assaltos a bancos e transeuntes. “Já estamos conseguindo fazer esse levantamento a cada 12 horas”, adiantou ele.
O delegado de Homicídios, Frank Albuquerque, que comanda uma equipe de mais oito delegados e 42 policiais, já havia dito na edição de domingo (18) da TRIBUNA DO NORTE, que o policiamento ostensivo nas ruas não inibe ou contribui para a queda do número de homicidios “porque não se pode ter um policial de porta em porta das casas”. No entanto, ele defende que o aumento das penalidades para os acusados de homicídios e outros crimes. Esse seria, segundo ele, a saída para diminuição da violência e da criminalidade no Rio Grande do Norte e no país, onde um acusado de assassinato cumpre em média 14 anos de prisão mas, ao cumprir um sexto da pena, é beneficiado com a progressão de regime para liberdade condicional.
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“Um bandido que é preso com uma arma, paga fiança e no outro dia está solto”, diz também o delegado Frank Albuquerque, para quem as penalidades hoje, no país, beneficiam mais o criminoso do que propriamente a sociedade. “Recentemente mesmo”, contou ele, “das três pessoas que foram flagradas com cinco mil comprimidos de Ecstasy (uma droga sintética) na praia de Pipa, em Tibau do Sul, dois já foram soltos”.
Na opinião do delegado, caso as punições no Brasil fossem mais severas, a população carcerária iria crescer “mas ia diminuir a criminalidade”. Isso porque muitos dos crimes são cometidos por reincidentes “que entram e saem dos presídios”. Para Albuquerque, se a “lei seca” foi criada para coibir os acidentes e diminuir o número de mortes no trânsito”, o aumento da pena no caso de homicídios, por exemplo, também iria contribuir para a diminuição do número de assassinatos.
Frank Albuquerque disse que a maioria dos homicídios não ocorre de maneira casual, é planejado e as vítimas são mortas, geralmente, próximos às suas residências e em locais que costumam frequentar.
Grande parte dos inquéritos em tramitação na Delegacia de Homicídios (Dehom) - pontuou o delegado - tem o tráfico e o consumo de drogas como pano de fundo. Há casos em que a vítima é morta porque não pagou dívida de droga aos traficantes e em outros a motivação é a disputa por ponto de venda de drogas, as chamadas “boca de fumo”.
Mas em alguns casos, Albuquerque disse que os homicídios que vêm ocorrendo em Natal, principalmente, estão relacionados à guerra e a disputa de poder por grupos do crime organizado, identificado em Natal como “Sindicato do RN” e “PCC”.
Frank Albuquerque informou que desde a criação da nova Dehom em agosto do ano passado, foram abertos 189 inquéritos criminais, alguns deles, inclusive, são remetidos à Justiça, com pedidos de devolução porque homicídio “é um crime de apuração difícil” pela dificuldade de encontrar testemunhas “devido ao medo que elas têm de ser mortas pelos acusados”.
Indicadores
Em maio do ano passado o Mapa da Violência elaborado pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso) já apontava que o Rio Grande do Norte foi o estado brasileiro onde mais cresceu o número de homicídios num período de dez anos, chegando a 272% entre 2002 e 2012. Segundo a pesquisa, no mesmo período, a variação na taxa de homicídios por cada grupo de cem mil habitantes também foi a maior do país – 229,1%. De acordo com o Mapa da Violência – 2014, o número de homicídios no Rio Grande do Norte passou de 301 assassinatos em 2002 para 1.121 no ano de 2012. Já o ranking da fundação City Mayors divulgado na revista “Veja” na segunda semana de janeiro deste ano, coloca Natal como a quarta cidade mais perigosa do país (a 12º no mundo), com 58 homicidios por 100 mil habitantes, atrás apenas de Maceió (AL), Fortaleza (CE) e João Pessoa (PB).
Alguns dos principais homicídios/2015
Parnamirim - 18 de janeiro
Após sair de uma festa acompanhado por um amigo, Antônio Jackson Oliveira da Silva, de 19 anos, foi surpreendido por dois homens em um carro. Os dois rapazes foram alvos dos disparos dos criminosos que estavam no veículo, mas só Antônio Jackson morreu.
Natal - 17 de janeiro
Caminhando pelas ruas do Vale Dourado, às 2h do domingo (18), Gilson Domingos da Silva, de 26 anos, també foi alvo de bandidos. Na rua Joaquim Murtinho, dois homens em uma motocicleta abordaram a vítima e o executaram a tiros. A dupla fugiu sem deixar pistas.
Natal - 8 de janeiro
Aos 16 anos, Felipe Paulino da Silva já havia sido apreendido por roubo e tentativa de homicídio. Em uma noite, quando aguardava para cortar o cabelo em um salão de beleza na comunidade da África, na Redinha, três homens chegaram ao local à procura do adolescente. Um dos bandidos sacou um revólver e efetuou quatro disparos no tórax e um na cabeça do jovem, que morreu na hora. Todos os criminosos fugiram.
Natal - 5 de janeiro
Era uma tarde de domingo quando Francisco Avelino da Silva, de 70 anos, lavava o seu carro em frente à sua residência, no bairro de Candelária, zona Sul de Natal. Porém, um assaltante que trafegava em uma motocicleta pela rua Domingos Amaro tentou levar o cordão de ouro de Francisco, que reagiu. O criminoso atirou contra o peito do idoso, que morreu a caminho do hospital. O bandido fugiu.
Tribuna do Norte
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