Da redação com TRIBUNA DO NORTE
Por Ricardo Araújo - Editor de Economia
Ao comemorar o aniversário de 45 anos, o Grupo Nordestão anuncia investimentos milionários em mais uma loja. O empreendimento, orçado em R$ 45 milhões, será entregue no primeiro semestre de 2018 e ocupará uma área construída de quase 30 mil metros quadrados na Avenida Engenheiro Roberto Freire, em Capim Macio, zona Sul de Natal. Deverão ser abertas novas 350 vagas de trabalho, que se somarão aos 3.750 funcionários atuais. Os novos empregados deverão ter, todos, nível superior. Ao se despedir da presidência empresa, Manoel Etelvino de Medeiros faz um balanço do histórico de vitórias conquistadas ao lado de outros três irmãos que integram a sociedade. Critica a falta de incentivos do Governo do Estado no setor supermercadista e a alta carga tributária brasileira, que impede o avanço da economia. Confira na entrevista abaixo.
Como é possível crescer num cenário econômico tão adverso?
Você tem que preparar toda sua equipe para o crescimento. Funcionário que não quer crescimento, vai trabalhar na concorrência. Aqui, conosco, tem que querer crescer como profissional e fazer a empresa progredir. A maioria das pessoas toma café, almoça e janta. No nosso segmento, essas pessoas continuaram fazendo essas refeições. Por isso, foi possível crescer. O setor de alimentos e farmácias foram os que menos sofreram com a crise.
Por quais motivos?
As pessoas não deixam de se alimentar. Eu sei que estamos numa crise, mas acreditamos no futuro do Brasil. Achamos que essa fase de recessão irá acabar e iremos entrar na fase de crescimento. Nós iremos ter, em breve, o resultado de um investimento que estamos lutando. Investimento de quem acredita no crescimento. Se não acreditarmos que iremos crescer, não acontecerá. Mas, se você acreditar e tomar atitudes, tais como, planejamento, o resultado virá. O mercado existe e há espaço para todos.
O Nordestão conseguiu se manter mesmo com a “invasão” de grupos...
De quatro multinacionais para sufocar o Nordestão! Mas, o Nordestão cresceu mais. Nós pegamos o bom que as multinacionais trouxeram e aplicamos o que dava no nosso segmento. O nosso segmento é alimento, limpeza, higiene pessoal e produtos congelados (frutas, verduras e legumes). Nós somos do setor de alimentos. Não vendemos confecções, móveis, essas outras coisas. Somos uma das melhores empresas de frios e congelados aqui no Rio Grande do Norte. Este é o diferencial: escolher um segmento e investir. É claro. Os que revendem eletrodomésticos estão com vendas em queda. O setor de supermercados não caiu. Aliás, o mínimo possível.
O que mudou no comércio, na economia e o que o senhor aprendeu em 45 anos como empresário?
Nunca desanimar. Se a pessoa desanimar, tá ruim. Temos que acordar com entusiasmo e trabalhar o dia inteiro com entusiasmo para que toda a sua equipe se sinta motivada para desenvolver um bom trabalho. Sem isso, sem amor pelo que faz, não conseguimos ir a lugar nenhum.
Aliado a isso é preciso traçar estratégias. Como isso ocorre dentro da sua empresa?
Antes de abrir nossa primeira loja, há 45 anos, nós montamos uma estratégia para escolhermos o nome. Como fizemos isto? Colocamos nos maiores jornais em circulação no Rio Grande do Norte à época, um anúncio. Quem mandasse uma carta com o melhor nome, ganharia um prêmio. Foi um sucesso. A pesquisa do local no qual a loja será instalada é de suma importância. Em cada nova loja que abrimos, fazemos uma pesquisa antes. Investimos nisso sempre. Temos uma empresa terceirizada que cuida dessas pesquisas, que estima nosso faturamento naquele ponto comercial. Tudo é feito em cima de estudos, nada em cima de “achômetro”. Isso não é fazer empresa, fazer negócios. Tudo precisa estar cima de dados e fatos.
O Rio Grande do Norte é um estado promissor para esse empresariado que quer investir ou ainda há muitas barreiras?
O Estado não ajuda o empresário. Poderia ajudar e ajudar muito mais. Nós nunca tivemos um incentivo de nada do Estado. Sempre atuamos e investimos capital próprio. Nunca. Nenhum do Estado. A indústria tem incentivo, mas o setor comercial nunca teve incentivo de nada. Tudo é na luta, é muito suado. Se eu fosse uma empresa que tivesse incentivo para abrir como a indústria, iria ainda mais longe.
O Rio Grande do Norte foi um dos estados que mais perdeu postos de trabalho nos últimos dois anos por causa da crise. Como o senhor conseguiu manter e até mesmo ampliar seu número de funcionários?
Treinando. O treinamento da equipe é primordial. O funcionário quer crescer e o investimento é importante. Ele quer crescer profissionalmente. Ninguém quer ficar desempregado. Nós temos incentivo para todos os funcionários, que podem ganhar até 15% a mais no salário se ele atingir determinado desempenho todos os meses. Nós temos metas para cada setor. Todos os meses, todas as lojas precisam bater essa meta. Se o funcionário a atingiu e cumpriu todos os outros objetivos – trabalhou na redução de despesa, na otimização dos processos – ganhará o incentivo. Se não, ganhará somente o salário normal. Esse adicional é estimulante, é muito importante. Imagine se todos os trabalhadores brasileiros tivessem um incentivo salarial?
O senhor pretende abrir a décima loja do grupo ano que vem. O que está previsto?
Eu nem queria, mas vou falar. Teremos uma loja com 3.200 metros quadrados para compras. Será a maior loja em área de vendas da empresa. Construiremos um estacionamento com 430 vagas cobertas. Serão três andares somente para estacionamento. O terreno é de sete mil metros e iremos construir 28 mil metros quadrados, sendo 21 mil metros quadrados somente de estacionamento. Nós investimos muito em tecnologia de ponta. Há um ano, estamos implantando um sistema que as grandes empresas usam. Cadastramos do produto ao funcionário e, na nova loja, teremos essa tecnologia. Quem não investir em tecnologia, ficará para trás.
Quanto será investido nessa loja?
A previsão é de R$ 45 milhões. Somente o terreno custou R$ 23 milhões, dos quais R$ 2 milhões foram de comissão de venda e impostos. A carga tributária é muito alta. Para se comprar um terreno se paga uma danação de impostos – cartórios, escrituras – tudo muito alto.
São recursos próprios?
Passamos muitos anos poupando, guardando. O Nordestão é uma empresa sólida, que investe no mercado financeiro. Mas, o que desejamos mesmo é aplicar na abertura de novas lojas e crescer dentro do Rio Grande do Norte. Primeiro, o Rio Grande do Norte. Depois, outros estados do Nordeste.
Há planos de expansão nesse sentido?
Já tem, mas não posso citar. Não posso falar por questões de mercado. Mas sempre trabalhamos com plano de expansão, com metas de aumento de lojas e negócios. A gente sabe e sente que o mercado permite.
A carga tributária é, hoje, um “calo” para os empresários?
O Brasil precisa reduzir essa carga tributária. Ela é muito elevada. Precisa ser reduzida para que empresários de outros países venham investir aqui. E eles só virão se for oferecida uma carga tributária menor. Os nossos empresários brasileiros estão migrando para o Paraguai porque lá, a carga de tributos é pequena. Nós poderíamos ampliar a produção, a economia local e empregar mais gente aqui. Mas, por causa dessas taxas caríssimas, estamos indo para outros países. E depois, a geração de impostos fica lá, não aqui. Enquanto o Brasil não reduzir a elevada carga de tributos, o crescimento da economia será mais lento.
O senhor acredita que será reduzida em breve?
Ela está aí. O governo (federal) está analisando. O que é que os outros países cobram? A diminuição da nossa carga e o nosso governo federal pensa o oposto, pensa em aumentar. Um bom exemplo disso foi o recente aumento no PIS e Cofins. E quem é que paga? Somos nós, principalmente o trabalhador. O governo precisa reduzir isso, a caraga tributária do trabalhador e de todo mundo para que a gente possa pagar menos imposto. Consequentemente, aumentará a empregabilidade. Hoje, é muito mais fácil se pegar um dinheiro e aplicar no mercado financeiro, comprar terrenos, investir em lojas, do que gerar empregos. Qualquer trabalhador, no dia que começa num novo emprego, sabe o valor do salário e quais são todos os seus direitos. A redução dos impostos será importante para estimular as pessoas a investir, a abrir um negócio.
Do seu ponto de vista, o que falta para o Brasil sair do limbo econômico e político no qual foi jogado?
Se você é uma pessoa do bem, fará o país crescer. Se não for do bem, não crescerá. Eu sempre acredito que o bem prevalece sobre o mal.
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