quarta-feira, 20 de abril de 2016

7 discos (e meio) para entender o reinado de Roberto Carlos

Da Redação com UOL 
por Tiago Dias - São Paulo

Nunca houve um cantor no Brasil com tanto apelo e poder de fogo como Roberto Carlos. É como se os Beatles fossem condensados na figura de um franzino e sedutor artista, que, em plenos 75 anos, completados nesta terça-feira, ainda encanta uma legião de fãs.

Musicalmente, entretanto, Roberto foi perdendo a relevância com o passar do tempo. As apresentações repetidas e o repertório engessado o afastaram de um público mais jovem, que o via como um artista quase 'brega'. Mas nem sempre foi assim. 

Para fazer jus ao título de Rei, recordamos a fase em que a coroa de Roberto mais brilhou – do momento em que ele despontou como príncipe da Jovem Guarda, em 1966, até o flerte com a música romântica em 1972.

São sete joias, lançadas na sequência, e mais um bônus vindo dos anos 1980, para entender o reinado de Roberto Carlos.

Para ouvir o disco, clique na capa de cada álbum: 

A fase áurea do Rei
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Roberto Carlos (1966) 
Roberto tinha acabado de estourar nacionalmente com o disco anterior "Jovem Guarda", mas é neste trabalho que seu reinado definitivamente começa. Toscamente gravado, o álbum traz aquela inocência dos anos 1950 em "Namoradinha de um Amigo Meu" (escrita por Roberto para Os Beatniks) e "Esqueça", mas dá um passo além. É um álbum de rock, criativo e enérgico, seja no riff que abre "Eu Te Darei o Céu" à bateria tribal em "Querem Acabar Comigo" -- uma das melhores composições da carreira, reflexo de todas as críticas e pressões que o atingiam na época. Em 1966, o cantor não tinha dimensão de seu próprio sucesso e ele passava os dias achando que sua hora ia passar. Destaque para o solo de sax em "O Gênio" e para o órgão de Lafayette que dá o tom em todo o disco.
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Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1967) 
Prestes a gravar seu primeiro filme (que dá nome ao álbum), Roberto ampliou sua cozinha musical. Escolheu um trio de metais e formou o RC-7. O que viria a ser a trilha sonora do longa, dirigido por Roberto Faria, o álbum só ganhou com a aquisição e também com a participação de dois maestros arranjadores contratados da CBS: José Pacheco Lins, o Pachequinho, e o maestro Alexandre Gnattali. "Eu Sou Terrível" e "Quando" são, até hoje, clássicos absolutos. A evolução segue com o baixo nervoso de Paulo César Barros em "Você Não Serve Pra Mim". A batida funky de "Quando" já indicava um novo caminho para Roberto: a jovem guarda era muito pouco para o artista.
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"O Inimitável" (1968) 
Primeiro disco do Roberto a ter uma produção realmente boa. Havia um investimento da gravadora, assim como nas letras, que deram um salto de qualidade. Saíram as bobinhas, como "O Feio", "O Gênio" e "O Sósia" e entraram temas mais românticos, como "Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo", marcando o início da grande obra de Roberto. O marco inaugural desse processo foi a canção "Se você Pensa". Pedrada funk, a canção se tornou uma das favoritas de Caetano Veloso na época e fez a cabeça justamente dos artistas ditos "mais cabeça", sendo regravada por Elis e Gal Costa. Erasmo Carlos dizia na época: "Nós somos legais mesmo". Roberto também se destaca como intérprete em "O Tempo Vai Apagar" (Getúlio Cortes) e "E Não Vou Deixar Você Tão Só" (Antonio Marcos).
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"Roberto Carlos" (1969) 
Com o cabelo longo e pinta de artista soul, com colares e pulseiras, Roberto queria se desvincular totalmente da Jovem Guarda e dar passos maiores. Sabia que podia contar com Tim Maia, seu amigo de infância, quando o mesmo lhe procurou para oferecer uma canção. Pediu o que queria: Black music. O velho Tião compôs na hora "Não Vou Ficar". O disco é dominado por canções de amor lancinantes, embebidas nessa referência, como "As Curvas da Estrada de Santos", "Sua Estupidez" e "Nada Vai Me Convencer". "O Diamante Cor de Rosa", que viria a ser tema de seu segundo filme, é a única instrumental na discografia de Roberto, com o cantor tocando gaita na faixa. A turnê do disco, dirigido por Ronaldo Bôscoli, foi o primeiro a ter a orquestra no palco, o que faria a fama do Rei nos anos vindouros.
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"Roberto Carlos" (1970) 
Roberto abre a década de 1970 no ápice da influência da Black music. Da balada "Ana" a funkeada "Se Eu Pudesse Voltar no Tempo", é um disco pulsante, com menos baladas. Até "Jesus Critso", sua primeira incursão em terreno espiritual, é um petardo no estilo. Influenciada pelo gospel americano e pelos musicais como "Hair" e "Jesus Cristo Superstar", a canção causou polêmica justamente por seu groove, o que incomodou os mais conservadores. "O Astronauta", diferente de tudo que viria a gravar, tem até vocalise ai fundo. A capa do disco mostra o cantor no palco do Canecão, em pose que se tornaria marca registrada: segurando o microfone com as mãos e erguendo o corpo pra trás.
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"Roberto Carlos" (1971) 
Único disco sem a imagem de Roberto na capa. A ilustração, com os cabelos do artista ao vento, se tornou icônica em sua discografia. A produção é do tamanho de um artista internacional . A partir dali, gravaria sempre nos melhores estúdios do mundo. É o disco que marca sua transição para um repertório mais romântico -- e é o que traz suas melhores composições no estilo, como "De Tanto Amor", "Como 2 e 2" (de Caetano Veloso) e "Debaixo dos Caracóis de Seus Cabelos" (escrito por Roberto em referência a cabeleira do amigo baiano). "Detalhes", um dos maiores clássicos da música brasileira, é citada até hoje pelo cantor como a sua canção preferida. O maestro norte-americano Jimmy Wisner merece o reconhecimento pela introdução da canção. Ao mesmo tempo, o disco encerrou a fase rock-soul com as faixas "Todos Estão Surdos" e "Eu só Tenho Caminho".
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"Roberto Carlos" (1972) 
Em um dos álbuns mais soturnos da carreira, Roberto reflete sobre o tempo. O tema está na regravação de "Acalanto", de Dorival Caymmi, em que revive a infância, e na confessional "O Divã", em que encara reminiscências, algo que já havia experimentado em "Traumas", do disco anterior. É a primeira vez em que ele fala sobre o acidente que o fez perder a perna ainda criança: "Relembro bem a festa, o apito/ e na multidão um grito/ o sangue no linho branco". Até este momento, Roberto se via como um hippie, e ele próprio observa seu próprio amadurecimento em "À Janela", sobre um jovem que está prestes a deixar a sair da casa dos pais. É o fim da fase mais juvenil de Roberto e o começo em que os especiais de fim de ano da Globo o moldariam criativamente.
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"Roberto Carlos" (1981) 
Longe da fase áurea, este disco serve como bônus -- é, talvez, o último grande trabalho do cantor e um dos grandes lançados nos confusos anos 1980, década pela qual muitos medalhões não conseguiram passar sem um escorregão. A janela dos tempos hippies havia sido devidamente fechada, dando ainda mais espaço para a onda religiosa ("Ele Está Para Chegar") e discursos ecológicos ("As Baleias"). É deste álbum que surgiu "Emoções", uma das canções mais regravadas e tocadas pelo próprio. Em uma pegada levemente dançante, arranjos no estilo pop rock e metais, o disco cresce com as baladas eróticas "Tudo Para" e "Cama e Mesa", hit dos inferninhos e motéis.

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