POR JORGE BASTOS MORENO
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— Os golpistas já disseram que se conseguirem usurpar o poder será necessário impor sacrifícios à população brasileira. Com que legitimidade? Querem revogar direitos e cortar programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. Ameaçam até a educação pública. Querem abrir mão da soberania nacional, mudar o regime de partilha e entregar os recursos do pré-sal às multinacionais estrangeiras — afirma Dilma no vídeo. — A palavra golpe estará para sempre gravada na testa dos traidores da democracia.
No áudio que vazou para correligionários do PMDB, no começo da semana, o vice-presidente Michel Temer garantira que não mexeria nos programas sociais do governo, caso assuma a presidência depois de um eventual impeachment de Dilma. Temer citou o Bolsa Família e o Pronatec.
Dilma, no vídeo de seis minutos, disse que os “golpistas”, como vem chamando os defensores do impeachment, colocam em jogo as conquistas sociais e os direitos dos brasileiros. Segundo a presidente, a oposição não se conformou com o resultado das urnas:
— O que está em jogo na votação do impeachment não é apenas o meu mandato, que pretendo defender e honrar até o último dia conforme estabelecido na Constituição. O que está em jogo é o respeito à vontade soberana do povo brasileiro, o respeito às urnas — diz a presidente.
A presidente rebate a acusação de que cometeu crime de responsabilidade que sustenta o processo de impeachment na Câmara dos Deputados:
— Não cometi crime de responsabilidade. Não há contra mim qualquer denúncia de corrupção ou de desvio de dinheiro público. Jamais impedi investigação contra quem quer que fosse. Meu nome não está em nenhuma lista de propina. Tampouco sou suspeita de qualquer delito contra o bem comum. A denúncia contra mim em análise no Congresso Nacional não passa de uma fraude. A maior fraude jurídica e política da história de nosso país.
Na mensagem, Dilma ataca a oposição:
— É minha obrigação esclarecer os fatos e denunciar os riscos dessa aventura golpista para o país. Desde que fui eleita, parte da oposição, inconformada, pediu a recontagem os votos, tentou anular a eleição e passou a conspirar pelo impeachment. Os derrotados mergulharam o país num estado permanente de instabilidade política impedindo a recuperação da economia com o único objetivo de tomar à força o que não conquistaram nas urnas. Não há razão para o pedido de impeachment contra mim.
Sem citar o vice-presidente Michel Temer, Dilma afirma que um eventual governo "não será legítimo":
— Não se trata de concordar ou não com o governo, mas de combater um golpe de estado, uma violação constitucional que poderá mergulhar o Brasil em um doloroso processo de instabilidade e insegurança. Nenhum governo será legítimo se não nascer do voto popular, livre, direito, universal e secreto. Fora do voto popular qualquer governo será sempre a tirania. A tirania dos mais fortes, dos mais espertos, dos mais ricos, dos mais corruptos.
PRONUNCIAMENTO EM CADEIA DE RÁDIO E TV É CANCELADO
A fala de Dilma iria ao ar em rede nacional de rádio e TV minutos antes do Jornal Nacional. Mas, no meio da tarde, partidos de oposição ingressaram com ações na Justiça para impedir a divulgação do vídeo, o que levou o Planalto a rever a estratégia e decidir que o vídeo seria publicado apenas na internet.
O vídeo foi gravado no Palácio da Alvorada na manhã desta sexta, mas devido à decisão de ir apenas para sites de internet, seria editado para que tivesse seu tempo reduzido, adequando-se ao formato do meio.
Em nota, a Secom disse que o vídeo tinha o objetivo de “comunicar sua posição para as redes sociais”:
“A decisão de veicular a mensagem por meio de cadeia de rádio e TV havia sido tomada pela Secom. Após avaliação sobre a estratégia mais adequada para o momento, decidimos que o vídeo da presidenta Dilma alcançaria seus objetivos se amplamente veiculado pela internet”.
Lula já havia divulgado pela manhã nas redes sociais um vídeo no qual diz que o impeachment é golpe e que se for aprovado no próximo domingo agravará a crise. Numa referência ao vice-presidente Michel Temer, ele diz que, sem a legitimidade do voto, ninguém conseguirá governar o país e nem contará com o respeito da população.
— Ninguém conseguirá governar um país de 200 milhões de habitantes, uma das maiores economias do mundo, se não tiver a legitimidade do voto popular. Ninguém será respeitado como governante se não respeitar, primeiro, a constituição e as regras do jogo democrático. Ninguém será respeitado se não prosseguir no combate implacável à corrupção — disse Lula no vídeo.
LULA VÊ AMEAÇA
O ex-presidente falou aos parlamentares que não se deixem levar pelos compromissos assumidos pelo peemedebista:
— Uma coisa é divergir do governo, criticar os erros, cobrar mais diálogo e participação. Esse é papel do Legislativo que deve ser respeitado. Outra coisa é embarcar em aventuras, acreditando no canto de sereia dos que se sentam na cadeira antes da hora.
Na avaliação de Lula, todas as conquistas da constituição de 1988 e de seu governo estão ameaçadas pelo impeachment.
— Todo esse esforço pode ser jogado fora por um passo errado, um passo impensado, no próximo domingo.
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