Encenação já faz parte do calendário dos moradores do Sítio Góis, na zona rural de Apodi. Em 2018, eles farão sua 9ª edição.
Por Hugo Andrade, Inter TV Costa Branca
É debaixo do sol forte que os agricultores do Sítio do Góis, na zona rural de Apodi, região Oeste potiguar, fazem a preparação da arena que vai receber a o espetáculo da Paixão de Cristo. A encenação na comunidade já virou tradição ali, em pleno sertão nordestino. Para que tudo fique pronto a tempo, os agricultores e moradores da comunidade começaram o planejamento ainda em dezembro do ano passado.
Os cinco palcos que já ficam o ano inteiro montados recebem os últimos acabamentos. O cenário é todo reaproveitado, feito com o que é encontrado na própria caatinga, além de materiais cecicláveis, como pneus velhos e palets. Todo mundo ajuda. Na localidade, o operário também é ator. O agricultor Iago Barbosa, por exemplo, vai interpretar Caifás pela terceira vez.
"Tô ficando velhinho no personagem, mas todos os anos a gente inova o texto, sempre tem algo novo para passar para o público", diz.
Já são 9 edições. Em 2018 tem novidade: pela primeira vez, o episódio da Santa Ceia será interpretado.
Pra quem é da comunidade do Góis, encenar o espetáculo A paixão de Cristo é motivo de orgulho. Eles fizeram a montagem pela primeira vez no início dos anos 2000. Mas, por falta de recursos, a última encenação tinha acontecido em 2005. Em 2016, toda comunidade se mobilizou pra voltar a fazer a peça.
As costureiras da comunidade ajudam na fabricação dos figurinos. O tecido para fazer as roupas também é doado. Quem pode, dá o lanche para os voluntários que trabalham diariamente na construção do cenário. As peças que compõem a ambientação dos locais por onde cristo passou durante a Via Crucis e os acessórios são materiais recicláveis. A própria vegetação da região e a palha da carnaúba se transforam em decoração. Os escudos dos soldados, são feitos com calotas de carros.
Cerca de 70 atores, todos da comunidade, encaram esse desafio de viver os personagens e figurantes dessa história milenar, que conta o martírio e a crucificação de Jesus. E todo mundo participa do espetáculo. são crianças, adolescentes, adultos e até idosos. Segundo Ducivan de Oliveira, diretor da obra, para os moradores esse é um dos momentos mais importantes do ano. “Eles trabalham sem cobrar nada. Ao contrário, ainda ajudam. Vêm deixar lanche, água, café pra quem está trabalhando na montagem do cenário”, conta.
O Sítio do Góis tem cerca de 110 famílias, mas pessoas de comunidades vizinhas também participam. A novidade este ano é que o texto mudou e foram feitas algumas adaptações. A encenação acontecerá entre os dias 29 e 31 de março.
Bartô Ferreira é agricultor é tratorista. Nas últimas semanas, porém, o trator foi deixado de lado. No lugar dele, outras ferramentas de trabalho, como o arame e o alicate. A rotina de trabalho é intensa, já que é preciso conciliar a montagem com as atividadade do dia-a-dia no campo.
"A gente trabalha um periodo aqui de manhã, de tarde fica em casa, cuidando dos animais. Se tem uma horazinha a mais, vai pro cercado, cortando terra, plantando. O dia fica pequeno pra tanto serviço que a gente tem", conta o homem que vai interpretar o rei Herodes.
"Tudo vai ser mostrado de forma clara, objetiva, onde as pessoas vão fazer uma boa reflexão do que foi a vida de Jesus Cristo", diz o diretor Ducivan de Oliveira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário