Atendimento no interior está ameaçado com saída de cubanos
Metade dos médicos que atuam pelo programa “Mais Médicos” no Rio Grande do Norte são cubanos e podem deixar o estado. O governo cubano anunciou nesta quarta a retirada dos médicos em virtude de divergências com o presidente eleito, Jair Bolsonaro. Dos 282 médicos trabalhando em unidades de saúde do estado pelo programa, 142 são cubanos. A região com maior perda de médicos cubanos no estado seria o Seridó. São 37 profissionais atendendo a população de segunda-feira a sexta-feira. O programa “Mais Médicos” tem 323 vagas no estado, e destas 42 não estão ocupadas. Os dados são da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap).
Médicos cubanos chegaram em 2013 e ocupam hoje 142 vagas do programa Mais Médicos no RN
O presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (Femurn), José Leonardo “Naldinho”, classificou a situação como “alarmante” e disse que a retirada dos cubanos pode gerar uma situação de “crítica” na saúde pública do RN. Naldinho, que também é prefeito na cidade de São Paulo do Potengi, frisou a importância dos médicos cubanos nas cidades menores do interior do estado.
“Os municípios pequenos não têm condições financeiras de arcar com os custos de um médico brasileiro, que por forma de convênio a contratação custa de 10 a 14 mil reais. Com os cubanos, esse custo é menor e o médico dá expediente de 8 horas por dia”, disse o prefeito, explicando que o custo para o município com um médico cubano é R$ 2 mil para pagamento de alimentação, moradia e outras despesas. Com um médico brasileiro, a despesa pé de R$ 6 mil a R$ 8 mil.
Preocupado com a situação de retirada de médicos, o presidente da Femurn avaliou que a decisão do governo cubano terá um “impacto negativo” na Atenção Básica do Rio Grande do Norte. Na avaliação do presidente da Femurn, algumas cidades não suportariam o impacto financeiro da decisão. “Eles fazem esse trabalho com muita qualidade, não desmerecendo o médico que não faz parte do Mais Médicos”, disse o prefeito.
Em São Paulo do Potengi, cidade com pouco mais de 15 mil habitantes, dois dos oito médicos são cubanos. Cada profissional atende em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), são oito no total. “A situação vai ser insuportável se não tiver continuidade dos projetos”, disse o prefeito, afirmando que unidades básicas em São Paulo do Potengi podem paralisar as atividades por falta de médicos.
Em Pau dos Ferros, por exemplo, dos nove médicos da cidade trabalhando pelo programa “Mais Médicos”, quatro são cubanos. O município tem 12 Unidades Básicas de Saúde atualmente. Caso se confirma a retirada dos cubanos, a situação causará uma “lacuna traumática”, de acordo com a prefeitura da cidade.
O presidente da Femurn se reunirá com membros do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do RN (Comens), para saber quais serão as estratégias a partir da medida do governo cubano.
Em resposta à decisão do governo cubano, o Ministério da Saúde convocará, nos próximos dias, um edital para médicos brasileiros que queiram ocupar as vagas deixadas pelos profissionais cubanos, que hoje correspondem a 45,6% do programa. "Será respeitada a convocação prioritária dos candidatos brasileiros formados no Brasil seguida de brasileiros formados no exterior", diz a nota do órgão, que também "reafirma e tranquiliza a população que adotará todas as medidas para que profissionais brasileiros estejam atendendo no programa de forma imediata".
O Mais Médicos faz parte de um conjunto de ações para o fortalecimento da Atenção Básica. A Atenção Básica é a porta de entrada preferencial do SUS, que está presente em todos os municípios e próxima de todas as comunidades. É neste atendimento que 80% dos problemas de saúde são resolvidos.
Números
No Rio Grande do Norte
282 médicos fazem parte do programa Mais Médicos no estado;
142 médicos são cubanos;
105 são brasileiros;
35 são intercambistas.
Situação do Mais Médicos no RN, por região de saúde
1ª Região - São José de Mipibu
21 médico cubanos
17 médicos brasileiros
01 médicos intercambista
39 médicos no total
2ª Região - Mossoró
21 médicos cubanos
01 médico intercambista
09 médicos brasileiros
31 médicos no total
3ª Região - João Câmara
21 médicos cubanos
05 médicos intercambistas
08 médicos brasileiros
34 médicos no total
4ª Região - Caicó
37 médicos cubanos
02 médicos intercambistas
02 médicos brasileiros
41 médicos no total
5ª Região – Santa Cruz
11 médicos cubanos
02 médicos intercambistas
07 médicos brasileiros
20 médicos no total
6ª Região – Pau dos Ferros
18 médicos cubanos
03 médicos intercambistas
05 médicos brasileiros
26 médicos no total
7ª Região – Natal
03 médicos cubanos
19 médicos intercambistas
56 médicos brasileiros
78 médicos no total
8ª Região – Assu
10 médicos cubanas
02 médicos intercambistas
12 médicos no total
Fonte: Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap)
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