Por Bruno Aragaki - Do UOL, em São Paulo*
Nesta manhã, aparentemente sem saber que estava sendo gravado, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) compartilhou com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), comentários críticos envolvendo o Nordeste. Na parte compreensível do áudio, parece dizer:
"Dentre os (ou aqueles) governadores de 'paraíba', o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara".
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O restante da fala não é claro, mas é possível ouvir ainda Bolsonaro se referindo a alguém como "aquele picareta lá".
A fala repercutiu negativamente entre governadores nordestinos, que publicaram uma carta falando em "indignação" (leia a íntegra no fim deste texto).
Uma interpretação possível para o trecho gravado é que Bolsonaro tenha usado o termo "paraíba" para se referir pejorativamente aos nordestinos - prática recorrente em algumas regiões do Sudeste.
As declarações foram feitas nos minutos iniciais do café da manhã com jornalistas de veículos estrangeiros promovido pelo Planalto, antes de o porta-voz da República, Otávio Rêgo Barros, dar início oficial ao evento.
Foi durante o café da manhã que Bolsonaro classificou de "mentira" a fome no Brasil - e depois acabou recuando.
Procurada pela reportagem, a assessoria do Planalto informou que não comentaria o caso.
Governos reagem
Pelo Twitter, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), disse que a orientação de "não ter nada com essa cara" é "ilegal".
"Independentemente de suas opiniões pessoais, o presidente da República não pode determinar perseguição contra um ente da Federação. Seja o Maranhão ou a Paraíba ou qualquer outro Estado", afirmou.
Ele também disse que continuará se relacionando com o governo federal.
Como conheço a Constituição e as leis do Brasil, irei continuar a dialogar respeitosamente com as autoridades do Governo Federal e a colaborar administrativamente no que for possível. Eu respeito os princípios da legalidade e impessoalidade (art 37 da Constituição)— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) July 19, 2019
O governador da Paraíba, João Azevedo Lins (PSB), também reagiu à declaração e afirmou que "a Paraíba e seu povo, assim como o Maranhão e os demais estados brasileiros, existem e precisam da atenção do Governo Federal".
A Paraíba e seu povo, assim como o Maranhão e os demais estados brasileiros, existem e precisam da atenção do Governo Federal independentemente das diferenças políticas existentes.— JoãoGovernador (@joaoazevedolins) July 19, 2019
Em carta aberta, os governadores também destacaram a Constituição. Até o momento, a reportagem confirmou que o documento foi endossado pelos governos de Alagoas, Bahia, Maranhão, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. Leia a íntegra:
Carta dos governadores do Nordeste
Nós governadores do Nordeste, em respeito à Constituição e à democracia, sempre buscamos manter produtiva relação institucional com o Governo Federal. Independentemente de normais diferenças políticas, o princípio federativo exige que os governos mantenham diálogo e convergências, a fim de que metas administrativas sejam concretizadas visando sempre melhorar a vida da população.
Recebemos com espanto e profunda indignação a declaração do presidente da República transmitindo orientações de retaliação a governos estaduais, durante encontro com a imprensa internacional. Aguardamos esclarecimentos por parte da presidência da República e reiteramos nossa defesa da Federação e da democracia.
*Com reportagem de Aliny Gama, colaboração para o UOL em Maceió, e Alex Tajra, do UOL em São Paulo
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