ZH,
O executivo Julio Camargo, consultor da construtora Toyo-Settal e um dos 15 delatores que colaboram com a Operação Lava Jato, diz que subornou com US$ 5 milhões o presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O dinheiro teria sido usado para abafar uma investigação que os parlamentares fariam sobre a Toyo e contratos ganhos mediante corrupção na Petrobras.
O depoimento foi prestado ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, que julga as causas ligadas à Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Conforme Camargo, Cunha teria pedido US$ 5 milhões pessoalmente a ele.
O dinheiro foi repassado, segundo o delator, por meio do doleiro Alberto Youssef, também delator da Operação Lava-Jato. Isso porque o doleiro tinha essa alta quantia de forma disponível. Camargo afirma também que outros US$ 5 milhões foram pagos por meio de outro operador, Fernando Baiano, ligado ao PMDB e que está preso em Curitiba.
“Fernando Baiano é sócio oculto de Eduardo Cunha”, disse Camargo.
A propina para Cunha seria para que o deputado retirasse da pauta da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara Federal dois requerimentos. Os requerimentos questionavam "tudo sobre as empresas Toyo, Mitsui e sobre Julio Camargo, Samsung e suas relações com a Petrobras, cobrando contratos e outras questões", segundo depoimento do doleiro Alberto Youssef. O doleiro declarou que o pedido de investigação foi feito por dois deputados do PMDB ligados a Cunha — algo que a PF confirmou (os pedidos foram feitos em 7 de julho de 2011).
O deputado Eduardo Cunha reagiu com irritação ao saber do depoimento de Camargo. Em entrevistas na tarde desta quinta-feira, ele declarou:
“Camargo é mentiroso. Um número enorme de vezes de ele negando qualquer relação comigo e agora (ele) passa a dizer isso. Obviamente, ele foi pressionado a esse tipo de depoimento. É ele que tem que provar. Eu nunca tive conversa dessa natureza, não tenho conhecimento disso”.
Camargo, efetivamente, disse em depoimento anterior não manter relações com Cunha. Um dos interrogadores do delator confirma que ele, agora, decidiu falar.
“Estava com medo de represália, mas agora deu detalhes da relação e apontou pessoas que podem confirmar, como o Alberto Youssef, que já ratificou a informação do suborno”, explica a autoridade federal.
Julio Camargo foi um dos primeiros delatores da Lava-Jato. Ele detalhou, por exemplo, como o contrato de R$ 1 bilhão para ampliar a maior refinaria da Petrobras em capacidade de refino (a Replan, de Paulínia-SP) rendeu propina a diversos políticos da base governista.
Há dois dias, Camargo, também em interrogatório comandado pelo juiz Moro, falou ter repassado R$ 4 milhões em propina ao ex-ministro José Dirceu (PT), a pedido do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, indicado pelo PT.
Um resumo do que disse o delator Julio Camargo:
"O Youssef era uma pessoa sempre presente nas minhas operações. O chamei porque até então o Fernando Soares, o Baiano, indicava as contas nas quais eu devia fazer os depósitos. E eu fazia esses depósitos em nome dele".
"Me organizei porque o deputado Eduardo Cunha não aceitou que eu pagasse somente a parte dele. Ele disse: 'Faço questão que você inclua aí a parte do Fernando Baiano com prazo mais dilatado, mas o meu eu preciso rapidamente. Mas faço questão que você inclua no acordo a parte do Fernando'. Aí chegou aos US$ 10 milhões".
"Eu paguei através de depósitos ao Alberto Youssef no Exterior. Paguei através de operações com a GFD (empresa-fantasma do doleiro). Parte daqueles recursos foram usados para dar liquidez em reais, a serem pagos a Fernando Baiano. Fiz pagamento direto a empresas do senhor Fernando Baiano".
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