Cachoeira do Relo, em Luís Gomes, não tem água há três anos.
Seca afugenta visitantes e proprietário diz que pretende fechar balneário.
Anderson Barbosa, Fred Carvalho
e Kleber TeixeiraDo G1 RN
Cenário de rara beleza, um dos balneários mais visitados da região Oeste potiguar faz muito tempo que não atrai mais ninguém. Encrostada em meio a montanhas que circundam a cidade de Luís Gomes, a cachoeira do Relo não pinga uma gota faz três anos. Com a seca que maltrata o sertanejo, considerada a pior dos últimos 100 anos, a nascente secou, a queda d’água de 8 metros de altura sumiu e os turistas desapareceram. Acumulando prejuízos, o dono do lugar diz que já pensa em acabar com o negócio.
Para ver de perto os efeitos da estiagem no interior potiguar, equipes do G1 e daInter TV Cabugi percorreram aproximadamente 1.400 quilômetros durante cinco dias. Foram visitadas 19 cidades no Seridó e Oeste – regiões que mais vêm sofrendo com a escassez. Entre elas está Luís Gomes, uma das onze cidades do estado que atualmente enfrentam colapso no abastecimento d’água. As outras são: Acari, Antônio Martins, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, João Dias, Paraná, Pilões, Riacho de Santana, São Miguel eTenente Ananias.
Já em Apodi, Caicó, Itajá, Jucurutu, Lucrécia, Parelhas, Pau dos Ferros e São Rafael, foi constatado que o nível das barragens vem baixando rapidamente e que a paisagem está mudando a cada dia. Muitas famílias já estão pensando em ir embora. Algumas, para fugir da seca, falam até em buscar uma sorte melhor em outros estados.
Quem faz a recepção das pessoas que ainda procuram a Cachoeira do Relo é o dono do local, o comerciante José Givaldo do Nascimento, de 49 anos. No entanto, o próprio revelou que nestes últimos três anos não vem trabalhando muito. “Aqui e acolá alguma escola me liga querendo trazer ao alunos pra visitar a cachoeira. Quando eu digo que tá tudo seco, o passeio acaba antes de começar. Universitários, estudantes de geologia ou coisa assim, é que ainda aparecem. Se não começar a chover logo, o jeito vai ser fechar o balneário”, afirmou.
Em Luís Gomes, José Givaldo é o Galego do Relo, apelido que ele adotou para atuar como guia. Ele contou que comprou as terra onde fica a cachoeira há muito tempo, mas que só há cinco anos resolver explorá-la turisticamente. “Primeiro montei um bar na descida pra cachoeira, e depois construí uma escadaria com quase 300 degraus para que as pessoas pudessem descer até a queda d’água”, disse o comerciante. Porém, ele garante que não cobra entrada. “É de graça. O dinheiro que ganho é das coisas que vendo no bar, como cerveja, refrigerante, suco, peixe frito... essas coisas”, afirmou.
‘Trilha para a secura’
Até chegar ao local de banho, no chamado pé da cachoeira, depois que os visitantes encaram a escadaria ainda é preciso enfrentar uma trilha aberta em meio a vegetação seca, mas logo se chega às rochas por onde as águas do rio Mossoró despencam. Mesmo sem água, o visual é magnífico. No alto, um pé de mulungu, uma velha árvore com quase 20 metros, completamente desfolhada, já impressiona.
Quem quiser seguir adiante, até um local conhecido como Poço do Padre – uma enorme fenda aberta em um trecho no meio do córrego da cachoeira – precisa de fôlego para vencer toda a extensão da trilha e muito equilíbrio para percorrer quase dois quilômetros em um terreno bastante acidentado. Manter-se de pé é uma missão difícil. “As pessoas que vêm aqui me perguntam, por que o nome é Cachoeira do Relo? A resposta é simples: se você cair, vai sair relar todinho”, gargalhou o Galego.
No Poço do Padre, que ganhou esse nome depois que um antigo padre da região quase afundou dentro do foço, também foi afetado pela escassez. Quando as águas da cachoeira descem pela montanha, a profundidade do poço chega a mais de 20 metros. É o que garante José Givaldo. “Amarramos uma pedra numa corda e fomos descendo. Quando a pedra tocou o fundo do poço, deu 22 metros de corda”, disse ele. E agora? “Agora não sei, mas tá secando também. É uma pena. Andamos tanto para chegar até aqui e ver isso tudo assim, sem água, sem vida. É a trilha para a secura”, lamentou.
Emergência
Segundo o serviço de meteorologia do estado, esta é a pior seca dos últimos 100 anos. E para o ano que vem as previsões não são otimistas. Dos 167 municípios potiguares, 153 estão em estado de emergência em razão da estiagem prolongada. Destes, 122 são abastecidos por caminhões-pipa. O decreto foi publicado pelo governo do estado no dia 28 de março deste ano e tem validade de 180 dias. Segundo o documento, as chuvas ocorridas no segundo semestre do ano passado e início de 2015 foram insuficientes para a formação de estoques de água potável nos reservatórios.
Para decretar a emergência, o governo consultou a Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), que previu chuvas abaixo da média histórica para este ano, além de também levar em consideração os R$ 3,8 bilhões de prejuízo causados pela escassez hídrica em 2014.
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