Itaércio Porpino e Vicente Neto
Repórter e Editor de Geral
O alerta de climatologistas internacionais para um super El Niño com influência em 2016, fenômeno responsável por secas severas no Nordeste e chuvas abundantes no Sul, não é compartilhado pelo meteorologista-chefe da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), Gilmar Bistrot.
Magnus NascimentoGilmar Bristot: em outubro tendência de El Niño estará mais clara
De acordo com Bistrot, os modelos climáticos atuais apontam para uma tendência de El Niño fraco ou moderado no final do ano e início de janeiro de 2016, de 1 a no máximo 1,5 graus Celsius, não chegando, portanto, a exercer influência negativa no período chuvoso de 2016 para o semiárido nordestino, que atravessa quatro anos seguidos de seca.
Contudo, o meteorologista da Emparn entende que qualquer previsão neste momento é precipitada, uma vez que El Niño não foi o grande vilão das secas de 2012, 2013 e 2014. “O vilão foi o oceano Atlântico Sul, sempre com águas mais frias que o Atlântico Norte, influenciando de forma negativa na ocorrência de chuvas”, disse ele, acrescentando que em 2015 o período chuvoso foi interrompido exatamente porque El Niño começou a atuar .
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“No mês de outubro, a gente vai especular mais sobre El Niño, quando poderemos ter uma tendência mais clara”, completou. Por enquanto, a probabilidade é de que o fenômeno decline nos próximos meses, chegando no período chuvoso de 2016 não tão forte ou até com uma condição neutra.
Segundo Bistrot, em 2015 o fenômeno começou em abril, se propagando em direção à parte central do Oceano Pacífico. “El Niño 3, que tem influência direta sobre o semiárido nordestino, atingiu 2,2º Celsius (escala mais alta), mas já apresenta sinal de queda”, disse ele, explicando que a partir de fevereiro o vento no Oceano Pacífico estava muito fraco, sendo este o fator que incidiu em El Nino neste ano, fazendo com que a água ficasse represada e esquentasse.
Nos últimos dias, no entanto, os ventos começaram a apresentar uma circulação normal, conforme observado pelo meteorologista. “Um perfil vertical do Oceano Pacífico mostra um deslocamento das águas mais frias para Leste e, consequentemente, uma desintensificação de El Niño”, diz.
Gilmar Bistrot achou precipitado quando outros núcleos de meteorologia no Brasil, como o Cptec e a Funceme, e também a própria Nasa, divulgaram que teríamos um dos maiores El Niño da história, uma vez que a teoria não condizia com essa tendência de aquecimento.
Mas segundo diversos cientistas, El Niño hoje poderia alcançar ou até superar a dimensão registrada entre 1997 e 1998, que causou inundações e secas em várias partes do planeta. Em entrevista recente à BBC Mundo, William Patzert, especialista em clima do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL, na sigla em inglês) e um dos mais importantes estudiosos do assunto dos EUA, disse: “Os dados que temos indicam que é El Niño mais forte desde 1997, mas, obviamente, os modelos climáticos só podem prever o que acontecerá nos próximos meses, por isso temos que ser cautelosos”.
Segundo ele, para que El Niño alcance uma intensidade parecida com o período de 1997-1998, é preciso que ocorram duas coisas. Primeiro, nos próximos meses é preciso haver um abrandamento significativo dos ventos alísios de leste para oeste no Pacífico. “Se isto acontecer, veremos uma transferência dramática de calor das águas do oeste do Pacífico para as do Pacífico central e oriental. É nestas condições que se podem alterar os padrões de temperatura e precipitações em todo o planeta”, disse Patzert, na entrevista.
O tempo de duração de El Niño é variável (de 8 a 18 meses) e acontece em intervalos médios de quatro anos, com intensidades que variam bastante. O mais intenso, desde a existência de registros de temperatura da superfície do mar (TSM), ocorreu em 1982/1983 e 1997/1998. O de 1982 coincidiu com vastas mudanças na circulação global da atmosfera. Formaram-se tempestades em zonas do Equador, do Brasil e do Peru. Nos EUA, houve enormes tempestades e chuvas ao longo da costa da Califórnia, causando muitos prejuízos. Já o de 1997/1998 provocou, no Brasil, queimadas na Amazônia, chuvas intensas na região Sul e uma das secas mais severas no Nordeste.
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