Da redação
Com informações da Tribuna do Norte
O ex-governador e ex-senador Geraldo Melo, que está filiado ao PSDB, afirma que os dois problemas mais urgentes que o próximo governador vai enfrentar são as dificuldades financeiras do Estado e a insegurança. Para Geraldo Melo, os candidatos precisam mostrar como pretendem enfrentar esses desafios.
Ex-senador afirma que o déficit fiscal e as propostas para combater a insegurança são assuntos que precisam ser discutir pelos candidatos ao governo
O ex-senador, que retornou à sigla tucana, procura demonstrar confiança na capacidade do partido atualizar suas propostas e o discurso que fará para o eleitor brasileiro.
“O PSDB é um partido que tem uma estrutura bastante nítida de posições sobre assuntos da sociedade no mundo e no Brasil. O importante é o que o partido tenha a capacidade de atualizar as suas propostas para a nova realidade que se tem hoje”, disse.
Nesta entrevista, Geraldo Melo reafirma que pretende se candidatar ao Senado nas eleições deste ano. Mas ele evita fazer uma análise detalhada das articulações dos tucanos para formar alianças para a eleição deste ano. Afirma que essa atribuição é do presidente estadual da legenda, Ezequiel Ferreira de Souza.
O senhor voltou recentemente ao PSDB. Considera que o partido tem condições políticas de apresentar projetos e propostas ao país neste momento?
Claro. Nada mudou quanto a isto. O PSDB é um partido que tem uma estrutura bastante nítida de posições sobre assuntos da sociedade no mundo e no Brasil. O importante é o que o partido tenha a capacidade, que ele está tentando, de atualizar as suas propostas para a nova realidade que se tem hoje
Em artigos e entrevistas e até mesmo no recente livro que lançou, Fernando Henrique Cardoso tem afirmado que é preciso adotar novas posturas, redefinir os programas dos partidos. Ele disse que é preciso formar uma aliança contra o que chama “de setores atrasados e conservadores”. O senhor concorda?
Quanto a setores atrasados e conservadores, é preciso ver o que ele define como uma coisa e outra. Mas, com relação à necessidade de transformação e atualização das posições, concordo inteiramente. É preciso fazer uma reflexão muito simples, tudo na sociedade humana se alterou nos últimos decênios. A diferença é brutal e a velocidade das mudanças é vertiginosa. O telefone celular que foi comprado no ano passado, já ficou velho este ano. Então, é absolutamente incrível o que algumas pessoas que se dizem acadêmicas, estudiosas dos problemas sociais e das soluções políticas estão defendendo hoje. Defendem, como se fosse um avanço, a adoção de uma política marxista e leninista, que foi proposta ao mundo em meados do século XIX. Então, o telefone celular envelheceu do ano passado para cá, mas as ideias e propostas concretas de Marx e Lenin seriam eternas? Essa proposição simples precisa ser colocada para que as pessoas que estão estudando, com honestidade intelectual e não com o propósito de militância política, repensem os postulados nos quais acreditaram.
Então é preciso rever também as concepções sobre o capitalismo?
Sem dúvida nenhuma, porque a visão do capitalismo da época do Manifesto Comunista, em meados do século XIX, se for adotar hoje, seria para combater algo que não existe mais. Uma vez vi algo que achei muito interessante, e vou repetir aqui, no qual se afirmava que aquele capitalista, que era dono do mundo e decidia onde produzir, a quantidade, os preços e como vender, como Henry Ford, não existe mais. Só tem interesse hoje para os cronistas sociais. As decisões econômicas não são mais tomadas por pessoas desse tipo. São tomadas muito mais por trabalhadores. Se hoje Henry Ford voltasse ao mundo e quisesse montar uma grande fábrica em algum lugar, muito provavelmente para financiar essa indústria, além do dinheiro dele, iria querer financiamentos de grandes bancos de desenvolvimento ou dos fundos de pensão. Então, quem iria decidir se dava ou não esse dinheiro, seria o parecer dos técnicos desses bancos e desses fundos de pensão, que são trabalhadores, não são capitalistas de modo nenhum. O capitalismo de hoje veste uma roupagem e usa mecanismos de decisão, que não têm nenhuma relação com aqueles que foram criticados. Estou dizendo apenas que é preciso atualizar a critica ao capitalismo e ajustá-la à realidade de hoje. Além disso, precisa incorporar a crítica ao socialismo, que ninguém está fazendo.
Como o senhor tem acompanhado a movimentação dos pré-candidatos a presidente? Vê alguma chance para Alckmin? Joaquim Barbosa pode emplacar? Bolsonaro chegou ao teto? Na esquerda, alguém desponta com chance de ir ao segundo turno?
Alckmin talvez seja o mais experiente, o mais testado. Eu confio até que o fato de haver acusações contra ele será devidamente esclarecido, porque o Brasil de hoje não aceita mais esse tipo de dúvida. Mas, acho que ele, que é o candidato do meu partido, tem todas as condições de presidir o Brasil e nos conduzir na travessia difícil e desafiadora que tempos pela frente. Quanto a candidatos de direita e esquerda, sinceramente, acho que existe uma certa mestiçagem no processo. Há aventuras de pessoas que sabem que não têm a mínima condição de emplacar em uma eleição presidencial neste momento, mas têm capacidade de perturbar ou de criar peso para negociar alguma coisa. Também acho que o ocorreu, ou está ocorrendo ainda, com o ex-presidente Lula tem relação com o destino que a própria esquerda possa ter neste processo. O espaço que ele liderou e representou, nos grandes momentos, significou 30% da opinião pública. Isso quer dizer que 70% da opinião pública ficou contra ele. Onde está a dificuldade? Esses 70% estão divididos em 40 pedaços. Mas, estamos em uma democracia, na qual tem que prevalecer a vontade da maioria. E uma coisa a maioria já deixou claro: Não quer a continuidade do modelo administrativo e político que prevaleceu sob a liderança exercida pelo ex-presidente Lula. Se essa maioria vai ser capaz de se organizar, isso vamos ver.
O que o senhor diz sobre Jair Bolsonaro?
É uma possibilidade para o Brasil e não vejo com histeria. Ele é um homem de direita, com posições claras, e que ocupou o espaço dele lidando com esses assuntos com grande irritação. Agora, a grande verdade é que tem tido dito algumas coisas que o povo brasileiro quer ouvir. Por exemplo, ele tem uma posição sobre a questão do desarmamento, que não é muito diferente da minha, porque acredito que democracia é a vontade da maioria. No Brasil, houve uma consulta ao povo, que disse não querer o estatuto do desarmamento. O povo disse que não, que não queria, mas foi feito assim mesmo. Então, na verdade, a gente é democrata para algumas coisas e para outras, não. De certa forma, quando ele defende a revisão da legislação do desarmamento ou o armamento da população, está dizendo uma coisa que está na cabeça da maioria do povo brasileiro. Agora, o problema é saber se ele quer, apenas, ser o representante, digamos assim, de uma direita raivosa. Enquanto ele for apenas isso, vai ser olhado com preconceito e sem serenidade. Vamos ver como é que ele amadurece as posições até as eleições.
Avalia que ele chegou ao teto nas pesquisas eleitorais?
Não creio. Acho que no teto ninguém chegou. Quem teria chegado, seria Lula. Mas Lula tem um problema à parte, que depende da Justiça.
Como o senhor vê a possibilidade de Joaquim Barbosa, que chegou agora ao PSB?
O que se sabe dele é a história como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Antes de ser ministro do Supremo, o Brasil não sabe. Tenho admiração pelo trabalho que ele realizou (no STF). Não gostei quando foi nomeado ministro e Lula anunciou ao Brasil que tinha sido escolhido porque era negro. Acho que deveria ter dito que não aceitaria se fosse por isso, porque devia ter sido escolhido pela competência dele, pela honradez, independente de cor da pele. Essa é uma visão de preconceito racial que eu rejeito. Mas, na verdade, ele tem uma história pessoal muito bonita. Para ser presidente da República, o povo brasileiro precisa saber apenas o seguinte: Ele é contra o que e a favor de quê? Nós não sabemos. Nós sabemos como é que ele julga, ou melhor, como julgou no Supremo. Mas ele agora não é candidato a juiz, é candidato a governar o Brasil. O que considera como governar? Para que lado?Favorável de quem e contra o quê?
Questões sociais, econômicas precisam ser discutidas, então?
Todas, as questões que dependam da posição e de uma decisão do presidente da República. Não quero dizer que tenha de fazer uma prova escolar, não é isso não, mas as questões e as linhas essenciais do pensamento dele, ainda não se conhece.
Como observa a situação de insegurança jurídica no país, diante de alguns julgamentos controversos no STF?
Em primeiro lugar não sou jurista. Mas a questão da insegurança jurídica pode ser analisada sem que o indivíduo seja jurista. Acho que significa apenas que é preciso existir um conjunto de regras suficientemente estáveis para que as pessoas saibam o que é que o futuro lhes reserva nesse assunto. Se elas podem fazer determinadas coisas, se não podem, qual é o risco de fazer assim ou não fazer. A segurança jurídica é o que baliza esse conjunto de variáveis, que lhe dá tranquilidade ou intranquilidade em relação ao futuro.
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