Por Aura Mazda - repórter
No mesmo ritmo de crescimento de homicídios no Rio Grande do Norte, 656 de 1º de janeiro a 20 de abril deste ano, contra 578 em 2016, a quantidade de ações policiais, ou “Ações Típicas de Estado” - quando um suspeito morre em confronto com a polícia – são 114% maiores do que o registrado há dois anos, quando ocorreram 21 casos. Este ano, 45 pessoas morreram em confronto com a polícia, sendo 43 com a Polícia Militar, um com a Polícia Civil e um com agentes da Força Nacional. Os dados são do Observatório da Violência Letal Intencional (Obvio).
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No meio das ações que resultam em morte, a população divide opiniões e pondera sobre o uso da força para resolver a criminalidade no Estado. Em um dos bairros onde ocorreram as mortes, testemunhas e familiares negam que tenha ocorrido confronto. A versão é amplamente negada pela polícia, que garante que foram recebidos com tiros e revidaram como “legítima defesa” em todos os casos. Especialistas fazem ressalvas sobre os riscos dos confrontos entre a polícia e os suspeitos.
De sete mortes violentas que ocorreram, este ano, em Mãe Luiza, na zona Leste de Natal, cinco foram resultado das ações típicas de Estado. No Bom Pastor, na zona Oeste, das 11 quatro ocorreram em decorrência de supostos confrontos armados entre os militares e suspeitos. Em Nova Descoberta, na zona Sul da capital potiguar, dois homicídios ocorreram este ano e um deles foi resultado de uma ação típica de estado.
O especialista em segurança pública e coordenador do Obvio, Ivênio Hermes pondera que as mortes matadas oriundas dos embates policiais, classificadas como ações típicas de Estado, “refletem no Rio Grande do Norte a fragilidade do aparelho de segurança pública quanto ao efetivo, treinamento e acompanhamento de policiais que porventura tenham se encontrado em situações de conflito armado com criminosos”.
Sobre a maior parte dos confrontos ocorreu entre a Polícia Militar e os suspeitos de crimes, Ivênio Hermes explica que esse grupo tem maior suscetibilidade a esses confrontos. “Primeiro porque lidam com maior proximidade com esse tipo de ocorrência e, segundo, porque, com o passar dos últimos anos quando foram cometidos uma sucessão de erros que vem procrastinando o ingresso de novos policiais, seu efetivo está cada vez mais minguado”, frisa o especialista.
O especialista em segurança pública e professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), José Maria Nóbrega, acredita que a “política de confronto” entre a polícia e os supostos bandidos é um reflexo social. “O policial entra na academia e aprende as lições mas quando vai para a rua reflete a cultura preponderante de que bandido bom é bandido morto. O que está ocorrendo é uma política de combate ao inimigo ao invés do uso da inteligência e ações democráticas de segurança pública”, analisa o especialista.
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