por Mariana Sanches, Silvia Amorim e Chico de Gois
SÃO PAULO - A mudança de tom do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que na segunda-feira abandonou o perfil conciliador e sugeriu que a presidente Dilma Rousseff renuncie ou admita seus erros como um “gesto de grandeza”, tornou-se mais um sinal de que os tucanos pouco se entendem em relação à crise política. O esforço feito pelo ex-presidente para unificar o discurso — o que incluiu reuniões com os senadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) e com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin — mostra-se um desafio: os principais líderes do partido hoje agem em direções políticas diversas.
Na terça-feira, Alckmin adotou outro tom para falar do assunto. Disse que ainda é preciso esperar os desdobramentos das investigações em curso antes de se exigir a saída de Dilma.
— Se surgir uma proposta de impeachment, o partido tem o dever de analisar e votar. (...) Hoje, não existe uma proposta. Que você tem uma crise de governabilidade no país, isso é fato. Agora, tem trâmites que devem ser seguidos. Você vai fazer um impeachment baseado em parecer do TCU? Mas ninguém conhece ainda esse parecer. Então, acho que nós devemos aguardar os fatos e os desdobramentos das investigações em curso — disse Alckmin.
VEJA TAMBÉM
Embora Fernando Henrique não tenha mencionado o impeachment em seu texto, e já tenha se colocado publicamente contra a solução, suas palavras animaram integrantes do PSDB no Congresso a voltar a defender essa tese. O senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) disse que a bancada tucana votaria a favor do impeachment.
A solução, no entanto, está longe de ser unanimidade mesmo entre os senadores do partido. José Serra e Aécio Neves nunca deram declarações neste sentido. Aécio já endossou a ideia de impugnação, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das candidaturas de Dilma e do vice Michel Temer, com realização de novas eleições.
Nesse contexto, as palavras de Fernando Henrique surgem como um recado com três destinatários: os manifestantes, com quem o partido tenta criar identificação, o PMDB, que ainda dá sustentação ao governo, e o próprio PSDB, que não acerta um discurso único.
— Vejo essas palavras dele como uma tentativa de ajustar o discurso da oposição — disse na terça-feira o cientista político Carlos Melo, do Insper: — Quando ele coloca que a solução para a crise é a renúncia ou Dilma assumir seus erros, ele tenta, mais uma vez, mostrar ao partido que o impeachment não seria bom para ninguém, por causa de insegurança institucional que poderia provocar. Com o PT e Dilma vitimizados por um impeachment, que (os dois) acusariam de golpe, uma nova eleição não seria garantia de vitória dos tucanos.
Também na terça-feira, Aécio disse que pretende fazer uma reunião entre oposição e setores do PMDB favoráveis ao impeachment para discutir a situação. Para Aécio, ao sugerir a renúncia, FH apenas expressou um sentimento que está nas ruas:
— Ele apresentou uma alternativa para um governo que já deixou de ser governo. Lembro as palavras do grande Ulysses Guimarães, quando comentava o momento por que passava o Collor: “O Collor pensa que é presidente, mas não é mais”. A presidente Dilma pensa que é presidente, mas ela não é mais. O PSDB não fugirá dessa conexão, de ser intérprete, como outros partidos da oposição, desse sentimento que tomou as ruas de todo Brasil.
O presidente do PT, Rui Falcão, chamou de “raivosa” a declaração de Fernando Henrique.
— Teve essa manifestação raivosa agora do Fernando Henrique... Quem quebrou o Brasil três vezes não deveria pedir para a presidente renunciar — afirmou Falcão, em entrevista à Agência Reuters.
Fonte: O GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário